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Vale a pena estudar em uma universidade americana no Oriente Médio?

Priscila Bellini - 11/10/2017
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Na lista de destinos mais procurados por intercambistas, raramente aparece um país do Oriente Médio. Em geral, são as regiões já mega conhecidas: metrópoles nos Estados Unidos, capitais europeias e mesmo regiões litorâneas da Austrália. Muito além dos destinos costumeiros, está a possibilidade de estudar em uma universidade americana no Oriente Médio, que ofereça uma experiência acadêmica de excelência.

Em meados dos anos 2000, universidades como a Northwestern University, a Cornell University e a New York University (NYU) investiram em unidades em outros países. Na prática, isso significa que tais instituições de ensino mantêm a sede no país de origem e montam campi ligados a elas em solo estrangeiro. Em tais localidades, o diploma emitido sai com a marca da instituição americana e a experiência acadêmica segue o modelo da sede.

Por trás da decisão, está o posicionamento, declarado por tais universidades, de tornar instituições mais globais. É a vez, portanto, de atrair candidatos em potencial de origens mais variadas e ficar mais perto de polos de inovação. É o caso da NYU, com sede na Big Apple, que está presente em Washington DC, Buenos Aires e Sydney. Nesses casos, a oferta de cursos é limitada e serve a propósito de intercâmbio para os alunos da NYU. Um aluno da instituição pode tirar um semestre, por exemplo, e embarcar para o centro australiano — voltando a Nova York para concluir a formação.

Já as unidades localizadas em Shanghai e Abu Dhabi funcionam como centros completos. O mesmo diploma, cultura em sintonia com a universidade-sede, número maior de majors, só que em uma localização geográfica diferente. “A maior diferença ainda é o tamanho. Em Nova York, temos cerca de 20 mil alunos de graduação. Em Abu Dhabi, por volta de 1200”, pontua Anna Dechert, diretora de admissões da NYU Abu Dhabi. Ela explica que o ambiente do campus, graças às menores proporções, remete ao de um liberal arts college.

Como funciona, na prática, estudar numa universidade americana no Oriente Médio

A princípio, a universidade segue o modelo da sede. A liberdade acadêmica, de discutir assuntos e propor projetos de pesquisa, por exemplo, deve ser a mesma. O diploma emitido tem a marca da NYU e a especificação do campus.

No caso da NYU Abu Dhabi, outra diferença prática está no número de cursos e majors oferecidos aos alunos. Na sede americana, são mais de 200 majors à disposição, enquanto a estrutura no emirado árabe não chegou a esse ponto. Ainda assim, para estabelecer uma instituição “global”, a universidade adota algumas estratégias. “Os professores podem se deslocar por todos os campi. Ou seja, um aluno em Abu Dhabi pode ter aulas com o professor do campus de Nova York”, explica Anna Dechert.

Como a diretora de admissões detalha, faz parte dos planos da NYU estar em locais diversos, em que os alunos desfrutem de ambientes plurais. No caso de Abu Dhabi, a cidade mais desenvolvida dos Emirados Árabes Unidos, não foi diferente. “É uma cidade diversa, em que 80% da população veio de outros países. O aluno está sempre cercado de gente de fora, seja no campus, nos restaurantes, em qualquer lugar”, diz Anna. Estar em um polo de inovação na região também faz parte do pacote, já que os Emirados Árabes Unidos lideram o Global Innovation Index (índice de inovação global, em tradução livre) de toda a região. “É como estar numa cidade que se desenvolve na frente dos seus olhos”.

E não são só os emirados que atraem instituições do tipo. No caso do Qatar, pequeno país vizinho à Arábia Saudita, nomes como os da Northwestern University marcam presença. Na capital qatari, Doha, o governo trabalhou junto a universidades estrangeiras para construir uma espécie de “oásis acadêmico”, a Cidade da Educação. Reunidas ali, as instituições formam um ambiente integrado, reunindo nomes como Carnegie Mellon, Cornell e Georgetown no mesmo local. “É um campus extremamente bem estruturado, com turmas pequenas em que os professores conhecem cada aluno pelo nome”, descreve a brasileira Camila Jatahy, que integrou a primeira turma de jornalismo da Northwestern no país e se formou em 2012.

Como é a vida de estudante numa universidade americana no Oriente Médio

Camila explica que, quando se mudou para o Qatar para estudar, houve um choque inicial. “Aquilo que eu gostava de fazer aos 19 anos não era o que as minhas colegas de classe gostavam, ou sequer faziam”, conta a carioca, que se mudou para Doha, onde os pais já moravam. Sair para tomar uma cerveja, por exemplo, não era comum na região.“Mas minhas colegas sempre foram muito abertas a me explicar a cultura e religião delas, o que me abriu muito os olhos”.

Passado o choque inicial, Camila aproveitou uma estrutura de ponta oferecida aos alunos. “Pude presenciar o que é trabalhar numa televisão porque a universidade construiu um newsroom”, exemplifica ela. Professores de destaque na área e trabalhos com nível de exigência alto também faziam parte do pacote. Quando se formou, a carioca percebeu que o nome da universidade dava outro peso ao currículo. “Esse diploma me possibilitou fazer um mestrado no Canadá e na China, e me permitiu procurar emprego em qualquer canto do mundo, por ser mundialmente reconhecido”, conta ela.

Estudante de Química da New York University em Abu Dhabi, o soteropolitano Rodrigo Ferreira explica que instituições do tipo têm ganhado fama. “As pessoas estão conhecendo melhor e percebendo que não é só uma universidade americana no Oriente Médio, mas um centro de pesquisa de ponta na região e no mundo”, sintetiza Rodrigo, nascido em Salvador.

Entre as diferenças citadas por Rodrigo, em relação à sede em Nova York, estão critérios obrigatórios da universidade. Um dos exemplos é o chamado “islamic requirement” exigido no país. “Temos que fazer uma aula relacionada a assuntos da região. Pode ser uma aula sobre teatro no mundo árabe, aula do idioma, análise de paisagens de Omã”, explica ele. Entre as semelhanças, está o número de atividades disponíveis, já que há sempre “muita coisa pra fazer”. “Sinto que aqui, por ser uma unidade nova, também temos mais oportunidades disponíveis”, conta ele, que pode se envolver em pesquisa logo no primeiro ano.

E as bolsas de estudo, como ficam?

O apoio financeiro varia de acordo com cada instituição. Em geral, o processo seletivo é igual ao das universidades em território americano. Na lista de requisitos, estão cartas de recomendação, essays e testes de proficiência em inglês (como TOEFL e IELTS). A partir do processo de seleção, cada instituição de ensino concede bolsas need-based ou merit-based.

A application que Rodrigo Ferreira precisou fazer, para conseguir uma vaga na NYU, seguiu esse modelo. Logo depois da primeira rodada de candidaturas, a universidade convoca parte dos estudantes para visitar as instalações na região, no chamado “candidate weekend”. Quando selecionam, por fim, os alunos aprovados, já existe uma proposta de bolsa com base nas necessidades financeiras de cada um.

No caso de Rodrigo, isso significa cobrir o valor integral da tuition, além de auxílio para se manter no país. Duas vezes ao ano, o soteropolitano volta ao Brasil para visitar a família, com passagens bancadas pela NYU. É possível ainda, pedir auxílio para ir a conferências, congressos e cursos de liderança em outros países.

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Sobre o escritor

Priscila Bellini
Priscila Bellini
Priscila Bellini é jornalista, bolsista Chevening 2018/2019 e mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London School of Economics and Political Science (LSE). Foi colaboradora do Estudar Fora em 2016 e 2017 e editora do portal em 2018.

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