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O que define um bom desempenho acadêmico para as universidades?

Priscila Bellini - 04/12/2023
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Em matéria de application, há uma série de termos comuns entre as exigências. Por exemplo, os testes padronizados, como TOEFL e SAT, solicitados pelas universidades estrangeiras. Junte-se a isso a lista de requisitos que não são tão óbvios ou fáceis de explicar, como o bom desempenho acadêmico.

É comum que editais para bolsas de estudo e candidaturas comuns, para graduação ou pós-graduação, mencionem esse critério na descrição do processo seletivo. Mais do que significar simplesmente “boas notas” na formação anterior, um bom desempenho acadêmico se traduz em vários aspectos da application.

Para começo de conversa, é necessário entender de que forma as notas são avaliadas pelas instituições de ensino. O histórico escolar é enviado à universidade, geralmente acompanhado de uma tradução para língua estrangeira, listando quais matérias um estudante cursou e quais as notas obtidas.

Nesse momento, as universidades consideram não só as notas separadamente, como também uma média – o que, nas instituições americanas, é chamado de GPA. O resultado pode ser calculado com base em todas as matérias, ou com base em disciplinas tidas como essenciais.

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Muitos alunos americanos têm, por exemplo, aulas de dança ou outras eletivas desde o Ensino Médio e isso vai parar no histórico acadêmico. Na hora do processo seletivo para universidades, tais eletivas são deixadas de lado para não “puxarem” a nota pra cima, fazendo com que o GPA considere apenas as “principais”.

Exames padronizados

Há ainda um outro aspecto a ser considerado quando se fala em um bom desempenho acadêmico: como é possível usar um sistema de notas para dizer se um aluno se saiu bem no Ensino Médio, em qualquer país do mundo? Por exemplo, uma escola no interior de São Paulo pode avaliar os estudantes com notas de zero a dez, mas os avaliadores não saberão dizer qual o nível de exigência do ambiente, e o que aqueles números representam.

Os exames padronizados surgem, então, para determinar com uma mesma régua o desempenho dos candidatos. ACT, SAT, TOEFL e outros tantos testes estabelecem os mesmos critérios, mesmas matérias e mesmo nível de exigência para os alunos que se inscrevem. Esses resultados são, então, um fator a mais na definição do bom desempenho acadêmico.

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Com o boletim do candidato em mãos e, também, seus scores em exames padronizados, fica mais fácil dizer quem se destacou na escola. Há ainda mais documentos que servem para essa análise: atestados de que o aluno estava entre os 10% melhores da classe, por exemplo. Para ter uma ideia, em universidades de destaque como Princeton e Yale, 97% do corpo discente estava entre os 10% melhores de sua turma.

Para os candidatos à pós-graduação no exterior, há ainda mais fatores a serem considerados. Entre eles, estão a produção de conhecimento durante a formação anterior (por meio de artigos publicados, por exemplo), bons resultados em sua experiência profissional e trabalhos – voluntários ou não – com impacto social consistente.

“Tenho notas ruins, e agora?”

Ter um bom desempenho acadêmico não significa, necessariamente, ter notas 10 de cima a baixo. Uma nota ruim, ou um semestre particularmente difícil, podem passar batido, ainda que reduzam a média geral de um aluno.

Caso esse impacto seja significativo e justificável, vale usar etapas da candidatura para explicar o problema. Na aba de comentários adicionais, por exemplo, o estudante pode listar os motivos pelos quais teve problemas em um período, caso sejam razões dignas de nota. Uma perda na família, mudança de escola ou uma doença grave podem ser motivos, nesse caso. Não vale, entretanto, ocupar uma essay com uma explicação dessas, já que o objetivo da application é evidenciar pontos positivos do candidato.

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Se o estudante for alguém que teve notas medianas ou ruins ao longo da formação, mas demonstrou claro interesse em melhorar, ou aumentou gradualmente suas notas, há outras saídas. Uma delas é contar com as cartas de referência, escritas por professores, para que expliquem de que forma houve uma evolução por parte do aluno. Ou ainda: dizer em quais outros sentidos, que não podem ser medidos por notas, o sujeito se sai bem. Afinal, boas notas não são tudo e há outros itens a serem checados, como atividades extracurriculares e habilidades de liderança.

Vale dizer ainda que o nível de exigências quanto a notas varia de instituição para instituição. Uma universidade menos competitiva, que não faça de grupos como a Ivy League, pode estabelecer padrões mais flexíveis na seleção.

Então, quais são os critérios de seleção?

O setor de admissions de Harvard, a universidade americana mais prestigiada, lista uma série de perguntas feitas ao ler uma application, relacionadas ao bom desempenho acadêmico. Por exemplo, se o estudante obteve o resultado máximo possível, já que tinha de arcar com outras responsabilidades, como emprego e cuidados com a família.

Mais do que questões ligadas às notas que constituem o boletim, essa análise tem caráter holístico, e considera desde atividades extracurriculares até a trajetória pessoal do candidato. Nas palavras do Dean de Admissions e Financial Aid de Harvard, William R. Fitzsimmons, a seleção é “mais uma arte do que uma ciência”, dados os inúmeros aspectos levados em conta. “Nós sabemos que trabalhamos com informações imperfeitas e que ninguém pode prever, com certeza, o que um indivíduo vai conquistar na universidade e fora dela”, explicou ele, em entrevista ao The Choice, blog do New York Times.

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Na própria universidade, há discussões sobre a forma de selecionar alunos que podem não ter ido bem nas provas de Química e Matemática, por exemplo, mas são estudantes promissores. Para a professora da instituição Helen Vendler, a questão não se refere à capacidade de Harvard de selecionar futuros bons advogados e engenheiros, mas de identificar alunos com potencial para áreas criativas. “A questão é se nós conseguimos atrair o máximo de Emily Dickinsons do futuro. Como podemos identificar essas pessoas? O que devemos perguntar nas entrevistas? Como faremos para que eles queiram se juntar a nós?”, detalha Helen Vendler em seu texto no site de admissions de Harvard.

Trata-se, portanto, um processo complexo – que leva em consideração notas, indicativos das habilidades de liderança e áreas de interesse – e diferente para cada universidade. Mais do que um bom desempenho acadêmico no boletim, o aluno deve demonstrar as características que o tornam único e uma boa aquisição à instituição. Seja isso um talento especial e dedicação à dança, seja sua trajetória em regiões periféricas do seu país de origem, sejam suas aptidões matemáticas.

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Sobre o escritor

Priscila Bellini
Priscila Bellini
Priscila Bellini é jornalista, bolsista Chevening 2018/2019 e mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London School of Economics and Political Science (LSE). Foi colaboradora do Estudar Fora em 2016 e 2017 e editora do portal em 2018.

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