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Como funciona pesquisa e desenvolvimento em outros países

Priscila Bellini - 12/02/2018
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Em matéria de pesquisa e desenvolvimento, há diferenças enormes entre o contexto brasileiro e o de países como Alemanha, Estados Unidos e França. Em vez de um cenário em que, de um lado, há uma universidade murada e, do outro, a indústria de um país, está tudo conectado.

Na prática, isso significa trazer para dentro da sala de aula problemas reais, com um contexto averiguado na prática. Em algumas instituições de ensino, fazer com que as empresas possam propor desafios e mesmo compartilhar os problemas que encontram e que poderiam resolvidos em um trabalho acadêmico, uma pesquisa. Há ainda universidades que optam por trazer empresários e membros da indústria para palestras e aulas, expondo a realidade “do lado de lá”.

O Instituto Politécnico de Worcester, por exemplo, entra na lista das instituições de ensino que apoiam tal abordagem. Ao chegar ao último ano de formação em áreas como Engenharia, o aluno trabalha no Major Qualifying Project (MQP), um tipo diferente de trabalho de conclusão de curso (TCC). No projeto, os estudantes montam grupos e desenvolvem soluções para um problema real em sua área de estudo. “Várias empresas patrocinam. Elas chegam à universidade, põem um problema na mão do aluno e pagam por isso”, conta o paraibano Matheus Farias, que fez um double major em Engenharia Química e Economia. Uma vinícola pode, por exemplo, pagar para que os estudantes desenvolvam formas de otimizar o processo de produção, ou formas melhores de testar a qualidade de um vinho.

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No fim das contas, esse cenário favorece a formação de estudantes mais acostumados à realidade no mercado de trabalho. Ainda permite que os alunos saiam da faculdade pensando na aplicabilidade do que aprenderam em sala de aula. Como descreve Pedro Pires, que cursa o doutorado em Farmácia, no Massachussetts Institute of Technology (MIT), o problema é o chamado “vale da morte”. O termo, utilizado nos Estados Unidos, é aplicado também no empreendedorismo, só que para descrever o período inicial de atividade das empresas, em que há maior risco de descontinuidade das operações.

No caso das universidades, a dificuldade está em transpor o que se pesquisa na academia para trazê-la a uma aplicação prática, seja por empresas ou por indústrias. “A gente até consegue desenvolver boas iniciativas na universidade, mas muitas vezes não colocamos isso para as empresas. Precisamos construir uma ponte para conectar esses dois pontos, e construí-la é um desafio”, opina ele. Ao contrário do que se imagina, entretanto, em países como os Estados Unidos essa conexão não acontece por “osmose”, com uma facilidade própria. É uma tarefa difícil.

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“O que se faz é promover o contato entre pesquisadores e empresas. Aqui, temos seminários semanais e, em muitas vezes, quem vem falar são as pessoas da indústria, trazendo problemas reais”, explica Pedro. Com esse contato, fica mais fácil para os pesquisadores ter o “clique” inicial e pensar como solucionar os gargalos. “Claro, o papel da universidade não é só fazer pesquisa voltada para o que a indústria precisa no momento, mas acho importante ver como contribuir”, diz Pedro. 

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Há diversos países que conseguem apostar no ramo, equilibrando bem fatores como investimentos governamentais e das indústrias, criando ambiente favorável a pesquisa e desenvolvimento. Gigantes como os Estados Unidos, além de países europeus como Alemanha e França, têm perfis específicos que estimulam o setor. Conheça como funciona cada um deles e quais os pontos essenciais que os tornam bons exemplos.

Pesquisa e desenvolvimento na França

O país já é conhecido em áreas da engenharia, que seguem uma formação generalista desde as écoles francesas. A proposta é simples: formar engenheiros que pensem fora da caixa — ou de suas formações originais, em Mecatrônica ou Elétrica — e que saibam lidar com uma multiplicidade de desafios nesses campos do conhecimento. Um engenheiro mecânico deve ter uma base mínima, portanto, para se virar em problemas de computação. “As écoles francesas são um modelo de ensino destinado à geração de gestores industriais, engenheiros que sejam capazes de contornar problemas e gerenciar organizações”, explica Flávio Raposo, que estudou na École Centrale de Nantes durante parte da graduação, com o duplo-diploma com a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em outras palavras, o modelo de várias instituições francesas privilegia um profissional preparado para desafios múltiplos — e que conhecem os problemas reais da indústria.

Pesquisa e desenvolvimento na Alemanha

Ainda que o currículo alemão não seja igual ao francês, pautado em uma abordagem generalista, também traz para as universidade a realidade das indústrias. “É um diferencial claro, como vi em Stuttgart, como a universidade é próxima à indústria. Para aqueles que fazem a graduação toda por lá, o trabalho final é resolver um problema de uma indústria local”, diz Rafael Oliveira, engenheiro mecânico que passou pela Universität Stuttgart, na Alemanha. No caso dele, foi um programa de duplo-diploma, em parceria com a Universidade de São Paulo.

“Há também murais em que empresas oferecem problemas para serem solucionados, muitas vezes pagando para os alunos pela solução”, comenta ele. Não é raro que, nas notícias sobre inovações em vários campos industriais, uma invenção seja atribuída a tal parceria.

Pesquisa e desenvolvimento nos Estados Unidos

Não é novidade que, nos Estados Unidos, a pesquisa encontra terreno fértil em diversos campos. Seja em engenharias, seja em campos da saúde, há estímulos do governo e de grandes empresas. Como conta a brasileira Júlia Campos, que passou um ano na Universidade Harvard, graças a um convênio com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o aporte de investimentos em pesquisa é robusto. A origem desse investimento todo não é só o governo americano, mas também o setor privado, na figura de gigantes como a Pfizer.

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Sobre o escritor

Priscila Bellini
Priscila Bellini
Priscila Bellini é jornalista, bolsista Chevening 2018/2019 e mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London School of Economics and Political Science (LSE). Foi colaboradora do Estudar Fora em 2016 e 2017 e editora do portal em 2018.

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