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Um brasileiro na Nature: inovações no tratamento do câncer e pesquisa no MIT

Priscila Bellini - 28/02/2018
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Na vida de pesquisador, nem tudo são flores. É o que conta o mineiro Pedro Pires, que faz o pós-doutorado no Massachussetts Institute of Technology, o MIT. “Tem dias em que dá tudo errado”, conta ele, que trabalha na pesquisa por fármacos para o tratamento de câncer. Às vezes, os experimentos demoram meses e não levam a um resultado esperado. “Nessas horas, a gente se sente a pior pessoa do mundo”, explica ele. “Mas aí, quando você publica na Nature, se sente um super-homem”, brinca.

É a boa notícia depois de anos de carreira em pesquisa e inovação, vinda de instituições como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Como Pedro explica, ele trabalha com várias pesquisas — entre elas, a que o levou às páginas da Nature. Junto à Science, outra publicação de renome, a revista científica ocupa o posto de mais relevante na comunidade científica.

Em conjunto com outros pesquisadores, Pedro conseguiu recobrir células tumorais com nanopartículas, para torná-las sensíveis a um fármaco. Nas palavras do brasileiro, é como “decorar a superfície com bolinhas” para que o remédio atinja as células danosas. O resultado? Cerca de 90% das células destruídas, in vitro e também em camundongos. “É uma realização profissional, porque tem gente que reconheceu a qualidade do trabalho”, diz Pedro. Como ele detalha, está em um lugar privilegiado: seu grupo de pesquisa estava no topo do benchmarking feito pelo brasileiro, ao idealizar onde gostaria de trabalhar.

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Um brasileiro na Nature e na bancada do MIT

Um dos traços que Pedro destaca nesse lugar ideal tem a ver com a multidisciplinariedade de instituições como o MIT. “Eles concebem uma bancada que seja compartilhada por pesquisa em farmácia, engenharia, biologia…”, conta ele. “Pesquisadores que conversam em línguas diferentes podem criar coisas disruptivas”. As criações, nesse ambiente, são grandes empreendimentos feitos em grupo.

Outro ponto positivo do instituto americano está na interação entre universidade e empresas. “Eu queria vivenciar isso, quando decidi vir para cá. Queria trazer a pesquisa feita na bancada e colocar como produtos e processos na sociedade”, explica o mineiro. Não é uma tarefa fácil a de manter tal nível de parceria e comprometimento entre as duas partes. Instituições de ponta, como Harvard e MIT, trabalham em várias frentes para garantir esse ambiente.

Um dos passos é, de fato, garantir que haja conexão entre os dois campo: levar a universidade às empresas e trazer as indústrias à universidade. “Nada é feito por osmose”, brinca Pedro. Há seminários com palestrantes das indústrias, eventos diversos que promovem esse contato. “A gente atravessa a rua e está em uma empresa, ou encontra alguém da indústria no restaurante. A gente fica no laboratório e, no mesmo ambiente, tem gente de startups”, exemplifica. “Isso faz com que o pesquisador pense fora da caixa e abra os olhos para o que está faltando”.

Pesquisa no Brasil vs. Pesquisa nos Estados Unidos

Comparar os dois ambientes chega a ser injusto. Há, por trás do cenário de pesquisa, um cenário político, social e econômico. Ainda assim, Pedro consegue pontuar alguns aspectos que podem servir como melhoria no futuro. “Não há um local em que se possa trabalhar em pesquisa e desenvolvimento. A indústria farmacêutica é baseada em produtos que já existem, que são desenvolvidos no exterior e chegam para o envase e a embalagem”, diz o brasileiro, que desde a graduação se envolveu com pesquisa, através da iniciação científica.

Na academia e com financiamento vindo de empresas, governo local e fundações, o ambiente muda. “A gente pode transitar em diferentes áreas, da pesquisa básica à aplicada”, resume. A mobilidade dos pesquisadores também chama a atenção. Em outras palavras, é comum que um estudioso migre, de uma instituição para outra, vá para o exterior, decida mudar para experimentar novos métodos. “O pesquisador aqui parece um jogador de futebol. Pode ser contratado a qualquer momento por qualquer universidade com mais grants, outras oportunidades, laboratórios melhores”, compara Pedro.

Prós e contras da bancada de pesquisa

Como Pedro destaca desde o início, há muitos percalços na vida de quem desenvolve pesquisa. Um profissional demora, por exemplo, para conseguir estabilidade, e depende de grants e bolsas de estudo para dar continuidade ao trabalho. São muitos editais à vista, além da necessidade de comprovar bom rendimento. “Existem várias formas de fazer essa avaliação. Pode ser pelo número de patentes, artigos publicados, grants na carreira e mesmo pela criação de startups”, explica o brasileiro.

A rotina é outro aspecto importante, como em qualquer profissão. “A gente não tem horário fixo, e isso também significa não ter horário para ir embora”, pontua. “Dependendo do experimento, podemos ficar 12 ou 14 horas no laboratório em um dia”. Além do período na bancada, há outras tarefas “agregadas”, o trabalho que se leva para casa. Entram na lista de atividades a busca por novos editais, revisão de artigos para publicações científicas e mesmo a compra de materiais para a pesquisa. “Nós lidamos com os fornecedores diretamente, vamos atrás dos reagentes para comprar, porque somos nós que entendemos os produtos”, conta Pedro.

Para dar conta das exigências da carreira, é essencial ter paixão pelo que se faz. “É uma carreira que a gente não escolhe porque quer ter estabilidade financeira, ou porque acha bonito, mas porque gosta mesmo de ser pesquisador”, diz o brasileiro. “Se a pessoa não tem essa paixão pelo que faz, está no caminho errado”.

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Sobre o escritor

Priscila Bellini
Priscila Bellini
Priscila Bellini é jornalista, bolsista Chevening 2018/2019 e mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London School of Economics and Political Science (LSE). Foi colaboradora do Estudar Fora em 2016 e 2017 e editora do portal em 2018.

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