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Universidades estrangeiras oferecem cursos de pós-graduação sobre questões raciais

Priscila Bellini - 20/11/2017
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Quem se interessa pelo estudo de questões raciais pode encontrar boas opções nas universidades estrangeiras. Nomes de destaque em rankings universitários, como Stanford e a Universidade Brown, já levaram tais temáticas à bibliografia de matérias eletivas, assim como para majors e minors disponíveis na graduação. Para quem chega à pós-graduação, há ainda mais opções, com programas de mestrado e doutorado na área.

Em outras palavras, a academia percebeu como era importante estudar questões raciais para entender diferentes fenômenos, fatos históricos, políticas públicas e aspectos sociais e culturais. Para ter uma ideia da importância do tema, basta lembrar de como questões raciais impactaram a história das próprias universidades.

Durante décadas, havia menos estudantes negros ocupando os lugares em sala de aula em universidades de renome. Basta tomar como exemplo o caso dos Estados Unidos, onde se localizam muitas das instituições de prestígio, como Harvard e Yale. Por lá, dispositivos como as leis de Jim Crow fizeram com que alunos negros fossem impedidos de frequentar as mesmas instituições que os brancos — como foi o caso em universidades no estado da Virginia.

Ainda hoje, muitas universidades americanas instituem ações afirmativas para garantir um corpo discente mais diverso. Para universidades como Harvard, pode não haver uma cota determinada para alunos negros, mas os responsáveis pela seleção devem garantir a presença de estudantes de origens variadas. Mesmo em universidades que não contam com tal dispositivo, as questões raciais têm ganhado força. Em 2017, surgiu o primeiro curso de graduação em “Black Studies” no Reino Unido, na Birmingham City University.

Entre os temas estudados em sala de aula, surgem cada vez mais cursos voltados a questões raciais ou que analisam o aspecto racial e étnico em áreas como as Políticas Públicas e o Direito. Essa tendência começou em universidades americanas nos idos dos anos 60, quando cada vez mais estudantes negros pleiteavam que o currículo das escolas de nível superior contemplasse temas como a história de afro-americanos. Com o passar dos anos, acadêmicos ajudaram a formar centros de pesquisa voltados ao tema e a orientar pesquisas nesse segmento. Um dos exemplos atuais é a jurista americana Kimberlé Crenshaw, que leciona temas como Direitos Civis e Interseccionalidade na Columbia Law School e na Universidade da Califórnia em Los Angeles.

Esse é um dos atrativos das universidades estrangeiras: a estrutura já existente para pesquisar sobre questões raciais. Em outras palavras, há centros de excelência, bolsas de estudo específicas para pesquisas que analisem aspectos raciais, e clubes e grupos de diversas etnias.

Estudar questões raciais: onde, como e que tipo de pesquisa

Há possibilidades variadas para quem deseja estudar questões raciais. Uma delas é ingressar em cursos de graduação em áreas como African American Studies, comuns em universidades americanas. Nesses casos, vale a pena checar qual a abordagem dada ao tema, se apenas o contexto americano é discutido ou se existe um viés comparativo.

Para analisar as questões raciais por uma perspectiva à brasileira, ou com temas ligados à América Latina, outra saída vem dos Latin American Studies. Ainda assim, é necessário checar o syllabus de cada disciplina e procurar o tipo de pesquisa desenvolvida pelos membros do corpo docente.

Já os cursos de pós-graduação podem ser divididos em dois grandes grupos. O primeiro tipo descreve cursos centrados em questões raciais e que são interdisciplinares, como “Gender, Race, Sexuality and Social Justice”, na Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, e “Race, Media and Social Justice”, na Goldsmiths, University of London, no Reino Unido. Nesses casos, um mesmo curso reúne candidatos de formação variada, com pesquisas em políticas públicas, economia e educação — com as questões raciais como ponto de convergência.

Há ainda uma segunda categoria, de cursos voltados a uma área específica do conhecimento. Um dos programas de PhD da Universidade George Washington, nos Estados Unidos, exemplifica a ideia: trata-se de um doutorado em Políticas e Administração Públicas, com especialização em Raça e Etnia, ministrado na Trachtenberg School.

Outro caminho interessante é moldar o programa de mestrado ou doutorado por meio das disciplinas eletivas. Na Columbia Law School, por exemplo, existem matérias como “Racial Justice Advocacy Workshop” e “Civil Rights”. Para checar a disponibilidade de matérias do tipo, basta recorrer aos sites oficiais de universidades e centros de pesquisa.

É possível conseguir bolsas de estudo para estudar questões raciais?

Para os interessados no tema, há dois caminhos principais e possíveis. Há, por exemplo, bolsas voltadas a minorias – incluindo candidatos negros, originários de países latino-americanos, como o Brasil.

Outra saída tem a ver com as bolsas, fellowships e prêmios para pesquisas que se debruçam sobre temáticas ligadas a raça e etnia. Bolsas como a Formation Scholarship listam entre as áreas prioritárias “African American Studies” e podem apoiar financeiramente estudantes. Em centros de pesquisa, também é possível acessar oportunidades de “funding”, como prêmios e bolsas, como é o caso do Center for the Study of Race and Ethnicity in America, na Universidade Brown, e o Center for Comparative Studies in Race and Ethnicity, em Stanford.

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Sobre o escritor

Priscila Bellini
Priscila Bellini
Priscila Bellini é jornalista, bolsista Chevening 2018/2019 e mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London School of Economics and Political Science (LSE). Foi colaboradora do Estudar Fora em 2016 e 2017 e editora do portal em 2018.

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