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Como as universidades estrangeiras apoiam mulheres empreendedoras

Priscila Bellini - 08/03/2018
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Igualdade de gênero faz bem para os negócios. É o que constatou um relatório da consultoria estratégica McKinsey, que associou a maior diversidade em ambiente de trabalho a maiores lucros e produtividade. Ainda assim, a ala feminina enfrenta obstáculos para chegar a posições de liderança e recebe menos. Em matéria de novos negócios, o problema é semelhante: há barreiras que separam as mulheres empreendedoras de investimentos e da chance de colocar seus planos em prática.

Um ponto de partida para entender o problema é analisar os dados de universidades conhecidas pelo empreendedorismo dos alunos, como Stanford. Localizada no coração do Vale do Silício, a universidade americana possui iniciativas como o StartX, que oferece investimento e orientação aos alunos interessados na área. Com tantos recursos voltados ao novos negócios, não é de se estranhar que Stanford lidere o ranking de mulheres empreendedoras formadas – 154, desde 2006, que receberam cerca de 1,6 bilhões de investimento.

Entretanto, quando os dados são colocados em perspectiva, o cenário muda de figura. Ao todo, foram 1127 empreendedores formados por Stanford no período analisado, que arrecadaram 22,6 bilhões de dólares.

Um quadro semelhante é verificado em outras instituições de destaque pela inovação, como Berkeley. Em um contexto mais amplo de venture capital, um levantamento da Fortune constatou que os investimentos para negócios criados por homens totalizou 58,2 bilhões de dólares em 2016. Já em times femininos, os investimentos foram de 1,46 bilhões no mesmo período. Por isso, mais do que falar sobre as melhores universidades para empreendedores, surgiram debates sobre como torná-las melhores em formar mulheres empreendedoras.

Preocupação com diversidade

Há alguns fatores associados a uma boa classificação em rankings sobre empreendedorismo, no caso das universidades. Tais determinantes incluem desde a proximidade com centros de inovação e tecnologia (como o caso clássico do Vale do Silício) até formação de qualidade em áreas como computação e redes bem integradas de alumni.

Outro fator tem sido colocado na equação, em muitas escolas de negócio e instituições de ensino superior: a diversidade do corpo discente e docente. Para Tiff Macklem, diretor da Rotman School of Management, que faz parte da Universidade de Toronto, essa é a palavra da vez para um bom MBA. “Um dos pontos-chave do MBA é ter um ambiente diverso”, explica ele, que comanda a melhor escola de negócios do Canadá. “Então, nós não queremos mais do mesmo, queremos que sejam pessoas diferentes”.

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A preocupação com diversidade, que ganha força com o passar dos anos, tende a mudar os números das universidades. No caso da Rotman, o número de mulheres em salas de aula dos programas de MBA subiu para 40% nos últimos dois anos. E outros dados apontam para esse mesmo caminho. “Uma das estatísticas de que mais me orgulho é de que, nos últimos dois anos, as applications feitas por homens aumentaram em 40%, enquanto as enviadas por mulheres cresceram 65%”.

Aumentar a presença feminina – e trazer novas perspectivas para as salas de aula – virou compromisso para muitas universidades. É o caso do projeto Undergraduate Women in Economics, idealizado pela professora Claudia Goldin na Universidade Harvard. A iniciativa reúne 20 instituições americanas – a exemplo da Brown University e de Yale – e consolida o compromisso em aumentar a representatividade feminina no curso. Uma vez estudantes dessas escolas, alunas têm acesso a mentoras, participam de eventos e podem fazer estágios de verão na área.

Em iniciativas de empreendedorismo, mecanismos comuns são editais específicos para mulheres empreendedoras, ou a exigência de que, para que um investimento seja feito, ao menos um dos fundadores de um negócio seja mulher.

Exemplos práticos

Iniciativas que apoiam mulheres empreendedoras ganharam força nos campi universitários e organizações de apoio a pesquisa e desenvolvimento. Na Universidade Yale, uma das instituições da Ivy League, surgiu o WE@Yale (Women Entrepreneurs at Yale), que oferece coaching, mentoria, eventos e contato com stakeholders.

Já a Universidade de Washington opta por, além de prover serviços da universidade pelo Escritório de Inovação e Empreendedorismo, firmar parcerias com organizações e empresas de fora. A aceleradora Equita Inc., por exemplo, oferece às alunas contato com investidores e programas de mentoria para mulheres.

Os governos, por sua vez, mantém vínculos com as universidades e programas de investimento nas iniciativas criadas por alunos e ex-alunos. A engenheira de produção Talita Holzer Saad embarcou para o Trinity College Dublin, na Irlanda, e destaca as iniciativas do governo irlandês ligadas ao empreendedorismo. “O Enterprise Ireland, órgão do governo que dá suporte para startups, tem programas específicos para empresas fundadas por mulheres, que proporciona investimento financeiro e também ajuda através de mentoria, coaching e workshops”, comenta a brasileira, que trabalha na universidade desenvolvendo um aplicativo voltado à locomoção de pessoas com deficiência intelectual.

Quais as melhores universidades para mulheres empreendedoras

Um levantamento da empresa Pitchbook, especializada em dados sobre private capital, destacou algumas instituições de ensino e quanto investimento as mulheres formadas por lá arrecadaram. Confira as três instituições mais bem colocadas no ranking, que usou dados de 2010 a 2015:

#1 Stanford

Número de mulheres empreendedoras: 70

Número de empreendimentos criados por mulheres: 67

Capital arrecadado: 423 milhões de dólares

#2 Universidade da Pensilvânia

Número de mulheres empreendedoras: 62

Número de empreendimentos criados por mulheres: 59

Capital arrecadado: 249 milhões de dólares

#3 Universidade da Califórnia em Berkeley

Número de mulheres empreendedoras: 57

Número de empreendimentos criados por mulheres: 56

Capital arrecadado: 235 milhões de dólares

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Sobre o escritor

Priscila Bellini
Priscila Bellini
Priscila Bellini é jornalista, bolsista Chevening 2018/2019 e mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London School of Economics and Political Science (LSE). Foi colaboradora do Estudar Fora em 2016 e 2017 e editora do portal em 2018.

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