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Por que tantas universidades estrangeiras apostam em programas de mentoria para mulheres

Priscila Bellini - 08/03/2018
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A presença de mulheres no ensino superior aumentou nos últimos anos. No caso do Brasil, a ala feminina é maior nos números que ingresso e conclusão no Ensino Superior, segundo dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Entretanto, ainda é um desafio pensar em como garantir um percentual equilibrado de homens e mulheres em postos de liderança e cursos com corpo discente majoritariamente masculino, como Engenharia e negócios.

Com isso em mente, diversas universidades estrangeiras apostam em estratégias para atrair alunas de destaque a seus programas. Entre as iniciativas, estão desde bolsas de estudo específicas até mentoria para mulheres.

Nos casos de mentoria, normalmente uma profissional mais experiente orienta jovens de sua área de atuação. Esse tipo de apoio inclui desde conversas sobre perspectivas de carreira, até discussões sobre os obstáculos enfrentados por pessoas desse campo de conhecimento. Uma pesquisadora com anos de bancada pode, por exemplo, dar indicações sobre as possibilidades de fazer um PhD a uma estudante de graduação.

A brasileira Bárbara Cruvinel, que cursou Física em Yale, viu de perto os impactos da mentoria – tanto em sua trajetória pessoal, tanto ao ver programas do tipo em sua universidade. Logo no primeiro ano de faculdade, ela já participou dos jantares de um grupo de mulheres em ciências de Yale, um momento oportuno para conhecer pesquisadoras experientes em sua área de formação.

E deu certo: nesses eventos, conversou com sua primeira mentora na instituição de ensino e discutiu com ela a possibilidade de desenvolver projetos no grupo de pesquisa chefiado por ela. “Na época, eu queria alguém cujo trabalho me interessasse e perto de quem eu me sentisse confortável para discutir minhas ideias e fazer perguntas sobre coisas que eu não soubesse sem me sentir julgada” conta Bárbara. Não só conseguiu oportunidades nos Estados Unidos, como também na Suíça, em um estágio no laboratório de física de partículas CERN, da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear.

Quais os benefícios de programas de mentoria para mulheres

Os impactos da mentoria para mulheres vão muito além de oportunidades de estágio ou pesquisa junto a profissionais experientes. Para as alunas, também significa a chance de conversar sobre obstáculos em comum enfrentados, além de apoio durante a trajetória acadêmica. “Era interessante ouvir problemas pelos quais minhas mentoras passaram e ver quão longe elas tinham chegado”, conta Bárbara. “Também me dava um pouco mais de gás para continuar”.

Com esse vínculo já estabelecido, fica mais fácil para as estudantes reportar casos em que se sintam desconfortáveis ou em que sejam discriminadas. “Quando eu me via em posições nas quais me sentia discriminada ou isolada de alguma forma, era muito mais fácil me dirigir a outras mulheres que tinham mais poder do que eu, para conseguir encontrar soluções”, explica a jovem brasileiras, que hoje faz pesquisas no MIT (Massachussetts Institute of Technology).

É um obstáculo recorrente na trajetória de mulheres na academia e nos ambientes de trabalho: os vieses inconscientes. São juízos de valor feitos, ainda que de forma involuntária, sobre mulheres e minorias. Por exemplo, um professor que encaminha sempre os alunos às tarefas focadas em cálculos e matemática, orientando as alunas a desempenhar outras funções que julgue mais apropriadas às aptidões tidas como “femininas”.

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Não é à toa que tantas universidades estrangeiras reconheçam o potencial da mentoria para mulheres, em especial em carreiras majoritariamente masculinas. Instituições tradicionais, como a Universidade de Oxford, já organizam grupos estudantis como o Women in Science e eventos para as alunas, que propiciam oportunidades para orientação.

Nas universidades que fazem parte da Ivy League, grupo de instituições de prestígio nos Estados Unidos, tais iniciativas também têm espaço. Um dos exemplos é o Women’s Launch Pad, programa que facilita o contato de alunas da Universidade Brown com profissionais já formadas. É uma oportunidade de promover mentoria para mulheres, orientações sobre perspectivas de carreira e encorajamento extra para as alunas.

Passando adiante

No caso de Bárbara Cruvinel, que se prepara para um PhD em Física, as experiências de mentoria para mulheres serviram de encorajamento para passar o conhecimento adiante. Em outras palavras, também servir como mentora para universitárias que ingressam na graduação ou garotas ainda mais jovens.

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Além de tornar o ambiente “um pouco mais inclusivo”, a brasileira aponta participar de tais iniciativas trouxe benefícios a nível pessoal. “Isso me abriu os olhos para o quanto os obstáculos que enfrentei pessoalmente são recorrentes na vida de outras pessoas também”, conta ela.

Passo a passo, as oportunidades de mentoria para mulheres servem como incentivo à presença delas em ambientes dos mais variados – dos negócios às ciências. “Isso beneficiaria a todos, porque quanto mais cérebros trabalhando para resolver questões científicas, mais progresso teremos”, conclui Bárbara.

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Sobre o escritor

Priscila Bellini
Priscila Bellini
Priscila Bellini é jornalista, bolsista Chevening 2018/2019 e mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London School of Economics and Political Science (LSE). Foi colaboradora do Estudar Fora em 2016 e 2017 e editora do portal em 2018.

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