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Bolsas para mulheres visam aumentar presença feminina nas universidades

Lecticia Maggi - 02/08/2016
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Por Priscila Bellini

As mulheres só começaram a ocupar os espaços universitários em meados do século XIX. Nessa época, países como os Estados Unidos e a Rússia autorizaram a presença feminina nas salas de aula. Já na década de 70, as mulheres ultrapassavam numericamente o número de alunos homens no ensino superior.

Ainda que haja mais mulheres nos campi, porém, ainda falta estímulo para que elas também alcancem os homens no retorno financeiro obtido com os anos de estudo. Em outras palavras, que os anos de formação universitária ajudem-nas a conquistar empregos melhores e a prosseguir com suas carreiras, no mercado ou na academia.

Uma das apostas de instituições de ensino e organizações não governamentais para valorizar mulheres no ambiente acadêmico é investir em bolsas e programas focados no público feminino. Assim, é possível garantir que mais mulheres cheguem à universidade e sigam para programas de extensão, mestrado e doutorado.

Conheça algumas iniciativas que têm levado mais mulheres às universidades mais conceituadas do mundo.

Forté Fellows Program

O objetivo da iniciativa é dar oportunidade a mais mulheres nos programas de MBA (Masters of Business Administration). Atualmente, são mais de 5 mil estudantes contempladas com bolsas, somando mais de 110 milhões de dólares de investimento da Forté.

Isso cria uma conexão entre as estudantes em que elas aprendem como cada uma lida com o fenômeno do ‘teto de vidro’ e como fazem para superá-lo

A seleção se dá através das universidades que participam da iniciativa, em sua maioria americanas. Dos 49 centros de ensino, que incluem a Universidade Harvard e a Universidade Oxford, são selecionadas candidatas com histórico de liderança e bom perfil acadêmico. Essas universidades, depois de aceitarem a candidata no processo normal de application, encaminham os perfis que mais se adequam à bolsa ao Forté.

Além do apoio financeiro para permanecer nas universidades, as selecionadas são indicadas para empregos na área, nas empresas que patrocinam a iniciativa. Com isso, egressas de MBA assumem cargos de liderança em companhias como a Amazon, a ExxonMobil, o Citi e o Deustche Bank.

Faculty for the Future

A iniciativa vem da Schlumberger Foundation e busca trazer mais mulheres para campos ligados a ciências, tecnologia, engenharia e matemática (sintetizados na sigla STEM).  As bolsas são direcionadas para mulheres que venham de países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

As selecionadas devem voltar a seus países de origem em até dois anos após a conclusão dos programas de doutorado ou pós-doutorado, para ajudar nas áreas em que atuam. Em outras palavras, uma engenheira que foi se aperfeiçoar nos Estados Unidos precisará voltar ao Brasil após o término do curso para compartilhar o que aprendeu lá.

O aumento da presença feminina nestas áreas rotuladas como “masculinas” é benéfico não apenas para elas, mas para o desempenho das equipes como um todo: “As mulheres que participam desses programas ajudam a conscientizar os colegas masculinos sobre os impactos positivos da igualdade de gênero para os grupos e para um melhor processo de decisão”, aponta Urs Müller, especialista em Ética nos Negócios que comanda programas de bolsa para mulheres na ESMT Berlin, instituição de ensino alemã. Com mais pessoas envolvidas, argumenta ele, a tomada de decisão leva em conta mais variáveis trazidas pelos profissionais com diferentes backgrouds.

No caso das bolsas oferecidas pela Schlumberger, a fundação monitora o desenvolvimento dos projetos de pesquisa e faz a renovação a cada ano. Para as candidatas que são mães, é possível solicitar um bônus por cuidados com a criança.

Margaret McNamara Educational Grants

A organização trabalha para promover o acesso de mulheres, em especial a de países em desenvolvimento, à educação superior. Em 1983, a instituição deu a primeira bolsa a uma enfermeira da Libéria, que precisava de apoio financeiro para continuar os estudos.

O objetivo dos MMEG é garantir que mulheres excepcionais tenham oportunidades nas melhores universidades do mundo. Não há restrição de área, ainda que a maioria das candidatas seja dos estudos sociais e, em segundo lugar, da área de saúde pública.

As candidatas podem optar por universidades nos Estados Unidos e no Canadá, que recebem a maior parte das applications; escolher instituições latinas, como a Pontificia Universidad Católica de Perú, ou até centros de ensino africanos, como a University of Cape Town.

As bolsas são sustentadas por doações, em especial do Banco Mundial. Outra fonte de verba para os MMEG é a Feira Internacional de Artes e Ofícios, que ocorre em Washington pouco antes das festas de fim de ano.

 

Não apenas estes programas contribuem com a evolução acadêmica e profissional das mulheres, mas também lhes dá motivação pelo contato com uma rede de mulheres na mesma posição. “Isso cria uma conexão entre as estudantes em que elas aprendem como cada uma lida com o fenômeno do ‘teto de vidro’ e como fazem para superá-lo”, explica Urs Müller.

Esse fenômeno acontece quando as mulheres, apesar de qualificadas, não têm acesso a posições profissionais mais altas, como se um “teto” as impedisse de subir mais na carreira. Essa barreira vem de imposições socioculturais: por exemplo, uma mulher falta mais no trabalho para cuidar dos filhos doentes do que um homem na mesma situação.

 

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Sobre o escritor

Lecticia Maggi
Lecticia Maggi
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduada em Gestão de Negócios pelo Senac-SP. Foi editora do Estudar Fora entre 2014 e 2016. Atualmente, é coordenadora de comunicação no Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), que tem como um de seus objetivos ajudar a qualificar o debate educacional no país.

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