Dois documentos que são solicitados como parte de praticamente todos os processos de admissão de universidades estrangeiras (além das bolsas de estudo) são o currículo (ou CV) e o histórico acadêmico. Eles são importantes para demonstrar a excelência do candidato em sua trajetória de estudos (no caso do histórico) e de trabalho (no caso do CV).
Por isso, é importante se informar bem sobre esses documentos antes de enviá-los como parte da sua application. Para isso, vamos falar a seguir sobre eles, indicando como montar seu CV (tanto para vagas de pós-graduação strictu sensu quanto para MBA e oportunidades voltadas para gestão ou desenvolvimento profissional), como obter seu histórico acadêmico, como saber se ele é competitivo e o que você pode fazer para compensar notas que não sejam tão boas. Confira:
O que define um bom desempenho acadêmico para as universidades?
Mais do que significar simplesmente “boas notas” na formação anterior, um bom desempenho acadêmico se traduz em vários aspectos da application.
Para começo de conversa, é necessário entender de que forma as notas são avaliadas pelas instituições de ensino. O histórico escolar é enviado à universidade, geralmente acompanhado de uma tradução para língua estrangeira, listando quais matérias um estudante cursou e quais as notas obtidas.
Nesse momento, as universidades consideram não só as notas separadamente, como também uma média – o que, nas instituições americanas, é chamado de GPA. O resultado pode ser calculado com base em todas as matérias, ou com base em disciplinas tidas como essenciais.
Muitos alunos dos Estados Unidos têm, por exemplo, aulas de dança ou outras eletivas desde o Ensino Médio e isso vai parar no histórico acadêmico. Na hora do processo seletivo para universidades, tais eletivas são deixadas de lado para não “puxarem” a nota pra cima, fazendo com que o GPA considere apenas as “principais”.
Exames padronizados
Há ainda um outro aspecto a ser considerado quando se fala em um bom desempenho acadêmico: como é possível usar um sistema de notas para dizer se um aluno se saiu bem no Ensino Médio, em qualquer país do mundo? Por exemplo, uma escola no interior de São Paulo pode avaliar os estudantes com notas de zero a dez, mas os avaliadores não saberão dizer qual o nível de exigência do ambiente, e o que aqueles números representam.
Os exames padronizados surgem, então, para determinar com uma mesma régua o desempenho dos candidatos. ACT, SAT, TOEFL e outros tantos testes estabelecem os mesmos critérios, mesmas matérias e mesmo nível de exigência para os alunos que se inscrevem. Esses resultados são, então, um fator a mais na definição do bom desempenho acadêmico.
Com o boletim do candidato em mãos e, também, seus scores em exames padronizados, fica mais fácil dizer quem se destacou na escola. Há ainda mais documentos que servem para essa análise: atestados de que o aluno estava entre os 10% melhores da classe, por exemplo. Para ter uma ideia, em universidades de destaque como Princeton e Yale, 97% do corpo discente estava entre os 10% melhores de sua turma.
Outros fatores
Para os candidatos à pós-graduação no exterior, há ainda mais fatores a serem considerados. Entre eles, estão a produção de conhecimento durante a formação anterior (por meio de artigos publicados, por exemplo), bons resultados em sua experiência profissional e trabalhos – voluntários ou não – com impacto social consistente.
Ter um bom desempenho acadêmico não significa, necessariamente, ter notas 10 de cima a baixo. Uma nota ruim, ou um semestre particularmente difícil, podem passar batido, ainda que reduzam a média geral de um aluno. Caso esse impacto seja significativo e justificável, vale usar etapas da candidatura para explicar o problema.
Se o estudante for alguém que teve notas medianas ou ruins ao longo da formação, mas demonstrou claro interesse em melhorar, ou aumentou gradualmente suas notas, há outras saídas.
Vale dizer ainda que o nível de exigências quanto a notas varia de instituição para instituição. Uma universidade menos competitiva, que não faça de grupos como a Ivy League, pode estabelecer padrões mais flexíveis na seleção.
6 maneiras de compensar notas ruins na candidatura para estudar fora
A seguir, vamos listar seus maneiras de compensar notas ruins na sua candidatura. Isso é possível porque os comitês de admissão querem saber se os candidatos são pessoas comprometidas, disciplinadas, motivadas e interessadas em aproveitar ao máximo o que a universidade tem a oferecer. E o histórico acadêmico é uma das maneiras de mostrar isso. Afinal, não adiantar dar uma bolsa integral de estudos para um aluno que vai faltar em todas as aulas, né?
Mas se você conseguir demonstrar que tem essas qualidades em outras partes do seu application, as notas menores no seu histórico acadêmico vão acabar pesando menos. Então se você tem essa preocupação, confira seis coisas que você pode fazer para compensar notas ruins:
1 – Atividades extracurriculares
Você já deve ter ouvido falar que as atividades extracurriculares são importantes para universidades estrangeiras, e é verdade. Os comitês de admissão não querem saber só como você ia nas matérias, mas também o que te interessava além da sala de aula. Então, um envolvimento profundo com atividades extracurriculares pode fazer com que algumas notas menores passem batidas no seu histórico.
Isso é particularmente verdadeiro na candidatura a áreas criativas, como artes, música e otras disciplinas que não costumam ser tão bem contempladas pelo sistema de avaliação das escolas. Nesses casos, demonstrar bastante engajamento com essas atividades é uma maneira de mostrar à universidade que você tem algo a acrescentar.
Por isso, vale a pena citar hobbies ou outras atividades com as quais você tem forte envolvimento no seu application. Se você tem uma banda, ou envolvimento com algum coletivo artístico, tudo isso entra. Participações em grupos de estudos de assuntos menos acadêmicos também podem ser interessantes, assim como práticas esportivas.
2 – Impacto social
As universidades estrangeiras em geral buscam por candidatos com habilidades de liderança e engajamento com suas comunidades. E uma maneira de mostrar essa qualidade é por meio da sua participação em projetos de impacto social, como trabalho voluntário ou envolvimento com determinadas causas.
Essas experiências sugerem ao comitê de seleção que o candidato não está querendo estudar lá só para melhorar sua condição socioeconômica, mas também para beneficiar as pessoas e comunidades ao seu redor. Para a universidade, é uma indicação de que a formação que aquela pessoa conquistar vai se traduzir em impacto positivo para muita gente.
Você pode comentar sobre os trabalhos voluntários que realiza na sua carta de motivação, e se conseguir mostrar um vínculo entre esses trabalhos e as matérias que pretende estudar, melhor ainda. Se você tiver experiências positivas atuando em causas políticas ligadas à promoção da igualdade socioeconômica e da diversidade, isso também pode ser positivo e compensar notas ruins no seu histórico.
3 – Testes padronizados
Mudar as notas que você já tirou pode não ser possível. O que é possível é realizar testes padronizados como o SAT, o ACT, o GMAT e o GRE e tirar notas boas neles. Os dois primeiros são para quem quer se candidatar à graduação no exterior, e os dois últimos para quem está interessado em pós graduação.
Esses testes cobrem o conteúdo que é considerado essencial para que o aluno dê prosseguimento aos seus estudos. Eles são semelhantes ao nosso Enem no sentido de que as notas que os alunos tiram neles são usadas como critério de seleção para o ingresso no ensino superior.
Por isso, uma boa nota no SAT é uma maneira de provar que você domina o conteúdo do ensino médio, ainda que as suas notas do ensino médio não sejam as melhores possíveis. O mesmo vale para o GMAT e o GRE, mas para compensar notas ruins que você tenha tirado na graduação.
4 – Experiência
Alguns programas de MBA exigem que o candidato comprove alguns anos de experiência de trabalho para poder se candidatar. Isso porque aquela experiência de mercado pode ser tão valiosa para o candidato quanto alguns anos de estudo em outras áreas. E, de fato, experiências profissionais interessantes podem compensar notas fracas no seu histórico.
Se você for se candidatar a uma pós-graduação em jornalismo, por exemplo, e tiver bastante experiência profissional interessante, as suas notas da graduação podem nem pesar tanto. Ainda mais se você tiver conquistado prêmios ou outros reconhecimentos pelo seu trabalho.
No caso de áreas mais científicas, a experiência profissional pode ser substituída por experiências acadêmicas. Participações em congressos, publicações de artigo e outros trabalhos na sua área de pesquisa podem chamar mais atenção do que notas medianas.
Na graduação, a experiência de trabalho não costuma pesar tanto, já que os candidatos são mais jovens. Mas para cursos como economia e administração, alunos que consigam demonstrar um perfil empreendedor e uma visão de negócios desde cedo podem usar essa experiência para compensar notas ruins.
5 – Cartas de recomendação
As cartas de recomendação são os únicos documentos do seu application nos quais outras pessoas falam sobre você. E se você conseguir cartas de recomendação bem fortes e articuladas com o resto da sua candidatura, as notas mais baixas do seu histórico acadêmico podem acabar ficando para trás.
Eventualmente, você pode até pedir uma carta para um dos professores que te deram as notas menores. Ele pode explicar que aquelas notas foram uma exceção na sua trajetória, pode citar fatores pessoais seus que possam ter afetado o seu desempenho, e pode mencionar outros pontos positivos seus que as notas podem ter deixado passar. A ideia não é que ele só justifique a sua nota baixa, mas que ele reconheça suas outras qualidades.
No caso da candidatura para pós-graduação, uma boa opção é conseguir uma carta de um professor renomado da sua área de pesquisa. Já para um MBA, uma carta de recomendação de um profissional de alto nível de uma empresa de grande porte na qual você já tenha trabalhado pode te ajudar bastante também.
6 – Carta de motivação
Todo o processo de application tem o objetivo de contar uma história sobre quem você é. O seu histórico acadêmico faz um pouco disso; as suas cartas de recomendação fazem outra parte. Mas a carta de motivação é a sua oportunidade de articular todos esses documentos em uma narrativa capaz de convencer o comitê de seleção de que você merece estudar naquela universidade.
Por isso, escrever uma carta de motivação bem forte também pode compensar notas ruins. De novo, você não deve passar a carta toda justificando as notas. Mas você pode explicar que elas vieram num momento difícil, ou que a partir delas você viu a necessidade de se dedicar mais. Se outros documentos do seu application comprovarem isso, melhor ainda.
Como fazer um CV para sua candidatura a pós-graduação no exterior
Candidatos a vagas de emprego estão muito habituados a ter de enviar um Currículo para as empresas em que desejam trabalhar. Mas muitos brasileiros estranham o fato de que, para se candidatar a uma pós-graduação, mestrado ou PhD no exterior, um documento semelhante seja solicitado: o CV (Curriculum Vitae).
Diferenças entre Currículo Profissional e Currículo para Application
Embora possuam certas semelhanças, um currículo padrão de mercado de trabalho não vai funcionar para a sua candidatura à pós-graduação no exterior (e nem o contrário! Se quiser saber mais sobre currículo profissional, confira esta matéria do portal Na Prática).
O mais recomendável é que seja feito um currículo com foco no seu histórico acadêmico, conquistas e pontos fortes. Também é interessante incluir informações sobre sua trajetória profissional e interesses profissionais – mas o foco do CV deve ser a formação acadêmica relevante para o programa ao qual você está se candidatando.
Ambos são semelhantes porque devem ter:
- Linguagem direta – use verbos de ação para descrever suas experiência
- Layout limpo – garanta que tenha espaços em branco para facilitar a leitura
- Correção gramatical – faça uma boa revisão do idioma em que for escrito e tome cuidado com erros de digitação
Ambos são diferentes porque:
- O CV acadêmico pode ter mais de uma página – mas não abuse: 3 é o número máximo
- O CV acadêmico inclui todas as suas experiências, e não apenas aquelas focadas em uma posição específica
- O CV acadêmico deve destacar informações como publicações científicas e apresentações de pesquisa em eventos (o que não é relevante para o currículo profissional).
5 passos para montar um bom CV
O currículo é geralmente o primeiro documento que o comitê avaliador lê ao revisar a sua candidatura. Por isso mesmo, é importante que não apenas o seu CV reflita quem você é, mas que também transmita a mensagem de uma forma livre de erros, profissional e de boa leitura. Se você está em dúvida em como fazer um CV que passe uma boa impressão, confira 5 dicas de especialista:
1 – Apresente-se efetivamente
Comece impressionando – o sumário das suas qualificações deve ser conciso e convincente. Com espaço limitado para se apresentar, o resumo deve chamar a atenção do seu leitor e persuadi-lo a continuar a leitura, ao invés de passar para o próximo candidato. Por isso, não desperdice este espaço com adjetivos genéricos como “inovador”, “criativo”
Além de uma breve descrição das suas habilidades e conquistas, o sumário das qualificações é a sua oportunidade de descrever sua personalidade e oferece ao comitê insights valiosos na pessoa que há por detrás da papelada.
2 – Priorize suas Conquistas
Enfatize os aspectos mais convincentes da sua trajetória até o momento – inclua informações detalhadas sobre suas conquistas mais recentes, ao invés de focar em posições (e formações) anteriores. Quem tem menos de cinco anos de experiência profissional ou de pesquisa ainda pode valorizar suas experiências durante a faculdade, especialmente as relacionadas ao programa escolhido.
3 – Mantenha o foco
É ótimo demonstrar tudo o que você poderia agregar ao programa e todos os seus principais feitos. Porém, é igualmente importante se lembrar que o documento é um resumo, e não uma autobiografia. Se você tem a impressão de que alguma sessão específica do CV ou o documento inteiro está grande demais, provavelmente você está certo.
4 – Melhore a Legibilidade
Adote um formato legível e organizado – com parágrafos curtos e tópicos bem divididos. Um currículo que seja direto ao ponto e visualmente atraente vai melhorar sua receptibilidade entre os membros do comitê avaliador. Em cerca de duas páginas, não deixe de incluir:
- Cargos e posições profissionais, com breve descrição das responsabilidades ou conquistas
- Prêmios, certificados, atividades voluntárias e envolvimento comunitário
- Habilidades digitais, línguas e experiência internacional
- Breve histórico acadêmico, incluindo instituições de ensino, diplomas e pesquisas
Toda a informação acima deve ser apresentada em no máximo duas páginas com uma fonte de tamanho mínimo 10 – com espaço adequado entre seções. Limite-se a quatro tópicos para as conquistas mais recentes e importantes, e não mais que dois tópicos para todo o restante.
5 – Pegue uma segunda (ou terceira) impressão
Feedbacks de amigos, colegas de trabalho e membros da família são valiosos – peça para que uma ou mais pessoas revisem o seu CV para garantir que ele está pronto para ser enviado. Estes revisores podem apontar erros que passaram despercebidos e indicar áreas que ficaram confusas ou mal explicadas.
Este processo vai te ajudar a finalizar um currículo de sucesso, com garantia de causar uma boa impressão em qualquer comitê de admissão.











