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Como fazer um personal statement perfeito

Nathalia Bustamante - 04/11/2022
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Escrever um bom personal statement (espécie de ensaio pessoal ou carta de motivação) é imprescindível para ser admitido em uma universidade norte-americana. Este momento, no entanto, costuma ser permeado por dúvidas, já que muitos não sabem ao certo o que dizer à universidade. E uma redação subaproveitada por ser determinante para a rejeição de um candidato que, mesmo tendo boas notas nos testes padronizados (SAT e TOEFL, por exemplo), não consegue demonstrar à instituição todo o seu potencial.

Segundo Carolina Lyrio, consultora de preparação para estudos no exterior da Fundação Estudar, as redações servem para “mostrar o aluno como pessoa, além de demonstrar algumas das qualidades intangíveis que eles possam ter”. Ou seja, se o candidato tem alguma característica interessante, ou se gosta de alguma atividade específica, é bom deixar isso claro no personal statement.

Como fazer um bom personal statement para graduação

A chave por trás da resposta está na capacidade de contar uma boa história. O estudante conta com cerca de 500 palavras para resumir um aspecto de sua vida e de como sua presença na universidade estrangeira seria valiosa. O objetivo é que essa primeira leitura sobre o estudante cause a melhor impressão e que seja mais pessoal.

Antes de elaborar o texto, vale ter em mente alguns aspectos importantes. Primeiramente, que esse não será o único material encaminhado na application para universidades de fora. Ou seja, também entram na lista itens como cartas de recomendação, bem como currículo com detalhes profissionais e acadêmicos.

Junte-se a isso a série de informações enviadas às instituições, como o histórico acadêmico e resultado obtido em testes padronizados. Ou, em outras palavras: o aluno terá várias etapas para demonstrar aspectos de sua trajetória e personalidade, e não só o personal statement.

Para saber escrevê-lo, entretanto, não há uma fórmula exata. Um bom texto reflete quem o candidato é e seus atrativos para a instituição de ensino, com uma redação clara e concisa.

Exemplo de um bom personal statement

Foi o que a jovem carioca Larissa Gama, de 18 anos, fez. Aprovada no Bryn Mawr College, uma instituição de renome nos Estados Unidos, Larissa conta que estudou a fundo as universidades para as quais iria se candidatar e tentou unir seus interesses pessoais ao que as escolas tinham para oferecer.

Em seu personal statement, ela falou de duas grandes paixões  – hipismo e balé clássico – e mostrou que a universidade oferecia programas específicos nestas áreas, sugerindo que, se aceita, poderia continuar praticando ambas atividades. Veja um trecho da redação dela (e, a seguir, sua tradução em português):

“As part of my campus life, I want to be a member of the Bi-Co Equestrian Club. I will have the chance to continue practicing this activity that is essential in my life, and even more, I will be able to get in touch with horse lovers both from Bryn Mawr and Haverford.

The university also offers dance in high levels of technique in the ballet III and optional pointe classes. Beyond ballet, I plan to adventure myself taking tap dance classes as well. I currently take part in a professional ballet company here in Rio de Janeiro, so the university support in this area is really meaningful to me. Since I want to continue my progress in dance, the opportunity to take classes in Swarthmore or in nearby studios in Philadelphia would be incredible.”

[“Como parte da minha vida no campus, quero ser um membro ativo do Bi-Co Equestrian Club. Terei a chance de continuar a praticar essa atividade que é essencial na minha vida, e até mais, poderei entrar em contato com amantes de cavalos tanto de Bryn Mawr quanto de Haverford”

“A universidade também oferece dança em níveis avançados de técnica no ballet III e aulas opcionais de ponta. Além do balé, pretendo me aventurar em aulas de sapateado também. Atualmente sou parte de uma companhia de balé profissional aqui no Rio de Janeiro, então o apoio da universidade nessa área é realmente significativo para mim. Como quero continuar meu progresso na dança, a oportunidade de fazer aulas em Swarthmore ou em estúdios próximos na Filadélfia seria incrível”]

Carolina considera ainda que a redação de Larissa conseguiu conectar bem as coisas que ela gostava de fazer no Rio de Janeiro com as oportunidades que teria em Bryn Mwar. “É uma redação forte porque apontou claramente os motivos pelos quais ela queria estudar lá”, avalia.

A melhor forma de verificar se o seu texto está no caminho certo é questionado-se: “A redação tem a minha voz? Ela conta uma história pessoal e focada ou é geral e genérica? Ela ajuda o leitor a entender quem sou eu?’

Mais um exemplo

O paulistano Lawrence Murata também fez um personal statement interessante. Aprovado em Stanford, que está sempre entre as cinco melhores instituições do mundo segundo os principais ranking acadêmicos, Lawrence usou sua redação para falar de seu relacionamento com a avó, personagem essencial em sua vida. “Ele conseguiu trazer elementos do japonês (ditados, símbolos e imagens) que ilustram a cultura do aluno, sem deixar que a redação ficasse sem graça”, explica Carolina. Confira um trecho do personal statement dele (e sua tradução em português a seguir):

“I spent every day at the hospital until she passed away, taking care of her, holding her hands, hopelessly trying to talk to her, even when she had already lost consciousness. During these months, I became more mature: a boy who truly wanted to contribute to humanity. These difficult times were “the end of the beginning” – while I gained maturity, I was also in search of happiness and of my own self. By questioning myself, I became my best self.

Some months before she passed away, when we drove her to the hospital, even though nobody had told her about the diagnosis, she knew she had little time left just by looking at our miserable faces. However, before leaving home, she said “shiawasedesu”, which means ‘I’m happy’ in Japanese.”

[“Passei todos os dias no hospital até que ela se foi, cuidando dela, segurando suas mãos, tentando sem esperanças falar com ela, mesmo quando ela já tinha perdido a consciência. Durante esses meses, fiquei mais maduro: um menino que realmente queria contribuir para a humanidade. Esses tempos difíceis foram ‘o fim do começo’ — enquanto ganhei maturidade, eu também estava em busca de felicidade e da minha própria identidade. Ao me interrogar, eu me tornei a melhor versão de mim.

Alguns meses antes dela falecer, quando a levamos ao hospital, mesmo que ninguém tivesse contado a ela sobre o diagnóstico, ela sabia que tinha pouco tempo só de olhar para nossas caras tristes. No entanto, antes de sair de casa, ela disse ‘shiawasedesu’, que significa ‘estou feliz’ em japonês”.]

Em suma, Carolina diz que a forma de verificar se o seu texto está no caminho certo é questionado-se: “A redação tem a minha voz? Ela conta uma história pessoal e focada ou é geral e genérica? Ela ajuda o leitor a entender quem sou eu? Ela está bem escrita? Flui de maneira lógica e interessante?”

Portanto, o primeiro passo para quem pretende fazer um personal statement “perfeito” é pensar muito a respeito de si mesmo e de suas intenções. O que você verdadeiramente deseja? Do que você gosta? Como a universidade pode te ajudar a alcançar seus sonhos?

Depois de colocar suas ideias no papel, estude a fundo cada uma das instituições para as quais você deseja se candidatar e tente fazer o match entre suas vontades e o que a universidade tem a oferecer.

Como fazer um bom personal statement para pós-graduação

Assim como o processo de admissão da graduação, o sistema para pós no exterior é holístico. Ao admission office, chegam documentos do estudante como histórico acadêmico e resultados em exames como GMAT e GRE. E, além disso, o personal statement (também chamado de “statement of purpose” por algumas instituições) de cada aluno em potencial.


A forma mais direta de descrever o texto, nesse caso, é como um “currículo discursivo”. Ou seja, entram na redação suas experiências acadêmicas, extracurriculares e profissionais mais importantes e que conduziram o candidato ao lugar em que está. Também é importante destacar os objetivos que pretende atingir com o programa pleiteado.

8 dicas para escrever seu texto

Algumas indicações valem tanto para as candidaturas à graduação quanto para a pós-graduação no exterior. Ainda que se trate de uma etapa criativa, por exemplo, não significa que o personal statement não exija grande tempo de dedicação e trabalho. Por trás de uma versão final interessante, estão horas de reflexão e muitas correções.

Na hora agá, esforce-se para contar uma história relevante em sua trajetória e que conte um “algo a mais” que atraia os olhares do comitê de admissão. Para ajudar nesse processo, conheça oito dicas essenciais:

#1 Comece com a ideia central por trás do seu texto

O personal statement é onde o candidato pode demonstrar quem é e contar mais de sua personalidade, de seus sonhos e das ideias que segue. Cada aluno decide por si mesmo quais ideias passarão essa mensagem aos leitores, o que ajudará sua candidatura a se destacar das demais e como usar essa ideia em seu favor.

#2 Mostre seus pontos fortes

Aqui, deve-se seguir a regra à risca: nenhum dos avaliadores vai acreditar em você, a não ser que demonstre os resultados de suas ações. Por exemplo, se disser que é um líder, demonstre isso com suas histórias de vida.

#3 Nunca esconda suas conquistas

Muitos candidatos esquecem que uma conquista diz mais do que todas as palavras. Se participou de conferências, venceu algum prêmio ou conseguiu grants, se liderou algum grupo ou organização, pode mencionar isso no seu texto.

#4 Aposte na coerência ao escrever um personal statement

É claro, há muitos detalhes que um estudante pode incluir no texto que vai apresentá-lo as universidades. Entretanto, isso não significa que se deva adicioná-los aleatoriamente. Uma boa redação deve ser coerente e clara, e todos os aspectos apresentados devem estar bem conectados uns aos outros.

#5 Não se esqueça da revisão e da edição

Erros bobos podem destruir mesmo o melhor dos textos. Para não perder a chance de entrar na universidade dos sonhos porque esqueceu alguns artigos ou preposições, o que vale é apostar na revisão.

#6 Procure recomendações

Ou seja, recorra a alunos e ex-alunos da instituição de ensino em redes sociais, como Facebook e LinkedIn. É a chance de perguntar de forma direta o que eles opinam sobre o que o comitê de admissão busca nas applications.

#7 Mostre detalhes que falem por você

Os detalhes tornam a história mais completa. Quando exibir seus pontos fortes e escrever sobre suas conquistas, não se esqueça de fornecer informações extras, que garantirão mais destaque ao que foi contado.

#8 Tente manter o texto conciso

O ponto é: você só pode usar uma página ou duas para escrever um personal statement, e não há espaço suficiente para dizer tudo que gostaria de contar sobre si mesmo. Então, prepare-se para fazer da edição sua maior aliada.

Quer saber o que brasileiros escrevem em seus texto de apresentação à universidade? Confira o texto submetido por Gustavo Torres, admitido em Stanford e em Harvard para a graduação. A baiana Georgia Gabriela, admitida por nove universidades americanas, também disponibilizou seu essay.

[com participação de Carolina Campos]

Leia também:
O que é esperado em um essay
Guia de primeiros passos para Estudar Fora
Entenda o processo de seleção para universidades no exterior

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Sobre o escritor

Nathalia Bustamante
Nathalia Bustamante
Nathalia Bustamante é jornalista formada pela UFJF. Foi editora do Estudar Fora entre 2016 e 2018 e hoje é coordenadora de Conteúdo Educacional na Fundação Estudar.

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