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8 lições sobre a vida adulta que aprendi estudando em 5 países diferentes

Nathalia Bustamante - 21/02/2018
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O primeiro ano de estudos da Universidade Minerva é realizado em São Francisco. O segundo, parte em Berlim e parte em Buenos Aires. O terceiro, parte em Seul e parte em Hyderabad, na Índia. A colunista Lusana Ornelas, aluna da Minerva, escreveu para o Estudar Fora diretamente da Índia para falar sobre seus principais aprendizados durante este período intenso de experiências. Lembrando que a Universidade Minerva oferece bolsas de até 40 mil dólares em parceria com a Fundação Estudar e o prazo final para a candidatura é dia 15 de março. Confira aqui os detalhes e inscreva-se gratuitamente no site oficial!

 

Por Lusana Ornelas, aluna da Minerva

Sou aluna da Minerva, parte da turma que se formará em 2019. Atualmente, estou em Hyderabad, na Índia, após passar um ano em São Francisco e três semestres em cidades diferentes – Berlim, Buenos Aires e Seul. Ainda tenho mais duas cidades para explorar antes de me formar. Como você pode imaginar, a Minerva oferece uma experiência muito diferente da maioria das universidades, e provavelmente diferente de qualquer coisa que você tenha visto. Eu sei que não tinha vivido nada parecido até chegar aqui, embora de certa forma, “aqui” seja um termo relativo …

Eu tive a sorte de viajar para o exterior antes mesmo de me candidatar à Minerva, mas nada realmente poderia me preparar para essa experiência. Tem sido ótimo até agora, e aprendi muito – MUITO mesmo – e não apenas na sala de aula. Quero compartilhar o que eu acho que são as oito lições de vida mais importantes que aprendi até agora:

#1 Ser adulto é difícil e é OK pedir ajuda.

Eu sei. Este é provavelmente o conselho mais básico que você vai ler neste artigo (e é por isso que eu coloquei isso em primeiro lugar).

Eu tinha sido avisada sobre as dificuldades da vida adulta nos últimos 22 anos, mas nunca acreditei nisso. De alguma forma, eu assumia que os adultos ao meu redor simplesmente não tinham se encontrado ainda. Mas agora, sendo (supostamente) uma adulta, eu concordo – é, sim, complicado. Há muitas coisas que eu nem considerava sobre chegar à idade adulta: da responsabilidade de administrar meu próprio dinheiro, praticar o gerenciamento do tempo, até mesmo tirar o lixo (como assim? ele não sai sozinho?).

Além disso, tive que aprender a cuidar da minha saúde mental. Viajar pelo mundo parece emocionante, mas é muito, muito difícil aprender a se despedir constantemente de amigos, adaptar-se a novos lugares frequentemente, e lidar com distâncias e saudades. Eu perdi a conta dos muitos altos e baixos que experimentei nestes três últimos anos.

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Sim, eu sei; eu deveria ter previsto tudo isso antes! Em minha defesa, é ainda mais desafiador aprender a ser um “adulto” enquanto se vive em sete países diferentes, a maioria deles com línguas que não conheço – para não mencionar o desafio de obter um diploma em uma universidade com aulas notoriamente exigentes. Está sendo surpreendente, e às vezes até impressionante, como estou aprendendo a lidar com o complexo e, sim, até mesmo com as responsabilidades básicas da vida “adulta”.

Sorte minha (acredito), a Minerva é essencialmente um curso intensivo de amadurecimento. É uma aula de “Introdução à vida adulta”. E pelo menos eu faço isso com meus amigos e tenho o benefício de pedir ajuda. Temos que aprender rapidamente e amadurecer ainda mais rápido. Mas nós fazemos isso juntos, apoiando-nos mutuamente em todos os momentos: me ensina a cozinhar algo pra eu não morrer de fome? estou me sentindo solitária, podemos conversar? ou como eu uso essa máquina de lavar roupa alemã?

Estou feliz por me adaptar à vida adulta aqui e agora pois meus amigos da Minerva me ajudaram mais vezes do que posso contar. A vida sempre será complicada, então fico feliz por ter aprendido cedo que posso (e devo) pedir ajuda quando preciso.

#2 “Coisas materiais” realmente não importam tanto assim

Cada vez que mudo para uma nova cidade com a Minerva, enfrento algumas decisões difíceis, debatendo-me sobre o que eu quero levar comigo versus o que é realmente necessário. Nós, estudantes, geralmente podemos viajar com duas peças de bagagem. Como resultado, fiquei super consciente a respeito de todas as minhas coisas materiais e aprendi a priorizar o que é importante para mim e o que preciso acima de tudo.

Quando me mudei de Berlim para Buenos Aires, eu só poderia levar uma mala, pesando até 27 kg. O engraçado é que na verdade eu não sabia disso até a noite anterior ao meu voo, quando eu já tinha terminado de fazer as malas. Quando confrontada com a decisão de deixar coisas para trás ou pagar quase 400 dólares em taxas por todo o peso extra na minha bagagem, eu vi apenas uma opção real. Então, eu abri minha bagagem e comecei a desembalar itens que eu sabia que não usaria em Buenos Aires.

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Assim, deixei para trás livros que eu provavelmente não iria ler novamente tão cedo, roupas que eu estava guardando para quando voltasse a ficar em forma (você sabe, “muito em breve”), roupas para ocasiões super especiais (o que nunca aconteceu de qualquer maneira), souvenirs de Berlim e fantásticos sapatos de salto alto (meus favoritos) que eu não usava há anos.

Eu tinha uma conexão emocional com alguns deles. No entanto, sendo completamente honesta comigo mesma, percebi que na verdade não precisava de todas essas coisas e não preciso de nada de Berlim ou de qualquer outra cidade para realmente lembrar e apreciar as boas experiências de lá. As experiências que eu tive nessas cidades (e terei em outras) são o que realmente importa, e estarão para sempre na minha memória (sei que isso parece clichê, mas é verdade).

A Minerva me ensinou a me separar das coisas materiais e, em contrapartida, aprendi em primeira mão que as experiências e as pessoas são as coisas que realmente importam.

#3 Tenha mente aberta … para ter mente aberta

Quando decidi me tornar aluna da Minerva, sabia que seria desafiada a manter a mente aberta. Minha turma é composta por 140 estudantes de mais de 27 países diferentes, de modo que a exposição a diferentes culturas, ideias e normas sociais é constante. Honestamente, na época, eu já me via como uma pessoa de mente aberta (você deve ter isso para se candidatar à Minerva). Eu tinha amigos de diferentes origens, tinha viajado e tirado dois anos de gap year. Eu estava pronta, certo?

Não sabia o quão ingênua era essa suposição, até chegar à Minerva.

Mesmo meu conceito de “mente aberta” foi, em parte, limitado pela minha história. Eu tinha idéias preconcebidas sobre quais crenças eu estava disposta a ser flexível, ou sobre quanto eu estava disposta a questionar qualquer uma delas. Eu também vim com um conjunto de valores que eu tinha certeza de que nunca mudaria, nunca. Foi uma grande surpresa, agora, perceber que estou reconsiderando essas crenças. Hoje, estou aprendendo não apenas como ser mais aberta, mas como ter a mente aberta sobre o próprio conceito de “mente aberta”.

#4 “Casa” é um conceito subjetivo

Imagine chegar em um novo prédio e de repente você está vivendo com pessoas de diferentes origens, longe de sua família e amigos da escola. Essa é a experiência da Minerva. Pode parecer assustador, mas essa experiência realmente me permitiu dar um passo adiante rumo ao desconhecido e descobrir muitas coisas novas sobre mim.

A Minerva me deu o sentimento de liberdade. Aqui, não sinto as restrições dos valores sociais ou culturais. Eu me sinto encorajada a sair da minha zona de conforto e explorar novos interesses e paixões que eu nem sabia que eu tinha, ou que nunca teria percebido se não tivesse decidido ir.

A Minerva me capacita para fazer o que eu realmente quero e não para seguir as expectativas de outros. Graças à experiência que tive até agora, descartei velhos pontos de vista e normas culturais que já não me parecem corretas. Eu abri minha mente para novas ideias e perspectivas como as quais me identifico, mais até do que aquelas que eu tinha no Brasil.

Em certo ponto, percebi que me tornei uma pessoa completamente diferente e, mais importante ainda, que essa fantástica e emocionante experiência me traz muito mais confiança, conforto e felicidade do que já senti em “casa” no meu próprio país. À medida que me tornei cada vez mais confortável neste novo ambiente, surgiu uma pergunta: o que é casa?

O que eu percebi é que “casa” é onde quer que eu sinta a sensação de conforto e segurança sobre ser a nova pessoa que sou agora e um lugar onde estou livre para passar por mudanças futuras.

#5 … Mas também é OK sentir saudades.

De muitas maneiras, a experiência na Minerva traz instabilidade. Nunca é fácil passar por tantas mudanças com tanta auto-reflexão. Houve muitos momentos em que sentia falta da sensação de conforto que vem com coisas familiares. Coisas como pessoas, comidas e objetos do meu país, ou abraços de amigos que eu fiz ao longo do caminho, e tive que deixar para trás.

Por que, então, quando sentimos falta de nossas famílias, nossa casa ou cultura, algumas pessoas assumem que isso deve significar que algo está errado ou que nos arrependemos da decisão de explorar lugares distantes? Eu mesma já me senti culpada, sem intenção, por ter sentido saudades de casa ou dos amigos que fiz ao longo do caminho – como se isso significasse que eu não aprecio ou não estou aproveitando a oportunidade de viver nessas cidades surpreendentes, conhecendo novos amigos. Existe um equívoco comum de que esses sentimentos são mutuamente excludentes.

Eu amo minha vida na Minerva e adoro os amigos que tenho aqui comigo. Eu decidi sair do Brasil porque eu tinha o bilhete de ouro para uma experiência incrível. Mas ainda sinto falta da minha família e amigos, e isso é perfeitamente normal. Isso não significa que estou fazendo algo errado, que não estou aproveitando esta experiência ao máximo, ou que não vale a pena.

O que minha saudade realmente significa é que eu amo essas pessoas e as coisas que me trazem conforto, e às vezes eu gostaria de poder tê-las comigo nesta jornada.

#6 Você vai errar, não tem problema mudar de ideia e é melhor admitir quando você faz isso.

Muitos de nós fomos condicionados a acreditar que é ruim mudar de ideia, sob o equívoco de que fazer isso é como voltar atrás, ou mostrar fraqueza. Para alguns, incluindo a mim, isso decorre do orgulho e da crença de que não podemos admitir que estamos errados. Vamos ser honestos, porém: ninguém está sempre certo.

Esse fato tornou-se especialmente evidente para mim na Minerva, em que o corpo estudantil é tão diversificado. Aprendi que tudo é uma questão de perspectiva e o mais importante é fazer um esforço para conversar com os outros e não deixar de discutir temas controversos ou difíceis, que são sempre oportunidades realmente valiosas. Meus colegas de classe me ajudaram a perceber que, muitas vezes, meu ponto de vista original sobre um tópico é discutível, ou que meu argumento é falho. Além disso, achei libertador admitir e reconhecer esses momentos de autocrítica – na verdade, os outros ao meu redor em geral apreciam uma atitude aberta e humilde.

#7 Esteja presente, sério.

Antes de chegar à Minerva, eu estava sempre estressada. Estava constantemente me preocupando com todas as coisas da minha vida e me concentrando muito no futuro:

O que devo fazer na minha carreira? E se eu não encontrar um emprego? E se eu não tiver sucesso? Estou sendo uma boa amiga? Como posso melhorar como estudante? As minhas notas são boas o suficiente?

Muitos de vocês dirão que estava me preocupando demais, e sim, era cansativo. Estou cansada agora apenas por digitar essas perguntas. Quando cheguei à Minerva pela primeira vez, as coisas pioraram antes de melhorarem. O curso de pesquisa era extremamente exigente, muitas atividades extracurriculares, diferenças culturais e uma vida social intensa fizeram com que o diabinho preocupado na minha cabeça ficasse absolutamente louco.

Felizmente, eu tinha pessoas com quem contar. Admirei meus colegas de classe da Minerva por quão bem eles lidavam com a vida aqui – ou pelo menos, como não tinhammesmo nível insustentável de estresse que eu estava colocando em mim mesma. Eu decidi pedir-lhes conselhos e para que eles me orientassem.

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Durante nossas conversas, o mais importante que aprendi é que não havia nenhuma razão para ser tão estressada em primeiro lugar. A vida passa em seu próprio ritmo, por isso era inútil que eu continuasse estressada quando tanto estava fora do meu controle. Eu também percebi que estava perdendo muitas coisas acontecendo agora porque estava constantemente preocupada com o futuro. Meus amigos me ensinaram a importância de estar presente. Ou, como meu amigo Danilo diria: “Cara, apenas relaxe”.

Não é que eu não esteja mais estressada, mas eu decidi fazer questão de prestar mais atenção ao que estava acontecendo na minha vida e ao meu redor. Eu tomo pausas de vez em quando, e reflito sobre todas as coisas pelas quais sou grata no momento. Eu tento deixar de lado minhas preocupações sobre o futuro e me concentrar no aqui e agora. Desde que adotei essa mentalidade, fiquei muito mais feliz.

Muitos dos momentos de felicidade mais profunda na Minerva surgiram quando parei para apreciar as pequenas coisas. As cores brilhantes do pôr-do-sol de São Francisco, visível da janela do meu dormitório (sempre que Karl decidia nos dar uma pausa); entregar-me ao delicioso e cremoso iogurte no meu café favorito em Berlim; o vento quente no meu rosto durante as minhas corridas da tarde no meio de uma reserva natural na Argentina e minhas muito divertidas aulas de Krav Maga nos dias chuvosos em Buenos Aires.

O que eu percebi é que, muitas vezes, ficamos presos nos problemas de nossas vidas diárias, com foco no trabalho, estudos, inseguranças sobre o futuro, etc., e nos esquecemos de pensar no agora. Mas essa felicidade pura e despreocupada me encontra quando eu me deixo desacelerar, mesmo que por apenas um momento, para saborear o presente. Esta é uma prática que sempre levarei comigo, para que eu possa encontrar e sentir felicidade, onde quer que a vida me leve.

 #8 Se importe e faça algo a respeito

A educação da Minerva e os novos amigos que fiz aqui têm enraizado em mim o quão importante é ter consciência e se envolver com os problemas mundiais, seja a pobreza, a falta de moradia, a fome, bem como outras questões que eu não havia examinado profundamente antes. Meus colegas me ensinaram a me preocupar com a humanidade como um todo, e não apenas com aqueles que estão ao meu redor. Mais importante ainda, eles me ensinaram que a melhor forma de incorporar a cidadania global é através da ação.

O currículo da Minerva está focado no desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas. Os alunos daqui são algumas das pessoas mais brilhantes que já conheci na minha vida. Você descobre rapidamente que os Minervans não falam apenas de problemas mundiais, mas, muitas vezes, eles tentaram ou têm planos de tentar realmente resolvê-los, seja através de suas ações diárias, projetos de classe, carreiras futuras ou planos de vida.

A vida na Minerva me encorajou a ser uma pessoa melhor – a ir além das lições de sala de aula e a usar meu conhecimento para transformá-las em ações.Desafio você a fazer o mesmo. Nossas vidas não são apenas construídas sobre interesses ou paixões. Se você se preocupa com alguma coisa, faça algo a respeito.

 

Sobre Lusana

Lusana é ex-aluna de Engenharia de Produção da Universidade de Brasília e atual membro da Inaugural Class da Minerva Schools at KGI. É parte da turma que se formará em 2019 e como aluna da Minerva, já morou em São Francisco, Berlim, Buenos Aires, Seul e agora está em Hyderabad, na Índia. Apaixonada por negócios e feminismo, Lusana atualmente estuda Business e Ciências Sociais. Seu maior sonho é usar empreendedorismo para reduzir desigualdade de gênero ao redor do mundo.

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Sobre o escritor

Nathalia Bustamante
Nathalia Bustamante
Nathalia Bustamante é jornalista formada pela UFJF. Foi editora do Estudar Fora entre 2016 e 2018 e hoje é coordenadora de Conteúdo Educacional na Fundação Estudar.

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