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“Vamos focar em educação, e não em rankings universitários”, diz pesquisadora

Redação do Estudar Fora - 22/09/2017
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No início do mês, a revista britânica Times Higher Education lançou mais uma edição do seu ranking universitário que elege as melhores intituições de ensino do mundo. Em resposta, a professora e pesquisadora Michelle Stack, autora de “Global University Ranking and the Mediatization of Higher Education”, publicou um artigo no periódico The Globe and Mail com questionamentos sobre o papel destes rankings internacionais. Segundo ela, “rankings têm a ver com negócios e não com educação”, e universidades só conseguem ganhar posições com investimentos pesados em aspectos que não necessariamente são refletidos na qualidade do ensino.

Este é um tópico sempre muito debatido entre estudantes que estão decidindo sua universidade de destino no exterior, e especialistas são unânimes em afirmar que há muitas informações que os rankings não conseguem absorver. Para trazer mais conteúdo à discussão em curso, o Estudar Fora realizou uma tradução integral do artigo de Michelle Stark. O original (em inglês) pode ser consultado aqui.

 

Por Michelle Stack

O The Times Higher Education (THE) World University Rankings saiu e as universidades canadenses continuam firmes. É difícil se manter a par das notícias sobre os rankings universitários. Há mais de vinte que se dizem internacionais, e mais de 150 nacionais ou especializados. Dito isso, o Times Higher Education é um dos três maiores, e influencia tudo – desde a decisão dos alunos sobre onde estudar até políticas públicas.

Rankings têm a ver com negócios e não com educação. Universidades concedem informações ao Times Higher Education (e a outros índices), e os responsáveis pelos rankings vendem, em troca, produtos e serviços às universidades. Universidades que desejem subir nas classificações devem gastar dinheiro com amenidades muito caras e contratar professores cobiçados (ganhadores do prêmio Nobel são os melhores para os rankings) que raramente irão lecionar. Para pagar por isso, é provável que as universidades aumentem as anuidades. Subir nos rankings também exige uma realocação de recursos para o marketing, gerenciamento de crise (para manter as más notícias longe da opinião pública) e produtos e serviços de consultoria oferecidos pelos ranqueadores.

Alunos e seus pais são um mercado importante para os ranqueadores, mas o os rankings do Times Higher Education nos dizem pouco sobre a experiência estudantil ou sobre como a universidade contribui para a comunidade à sua volta. Estudantes não são informados sobre como a universidade lida com violência sexual ou racismo no campus; nem sobre a avaliação dos alunos sobre seu aprendizado; nem a opinião dos professores sobre as condições para o aprendizado.

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Rankings levantam questões acerca de quem confiar e de quem decide o que significa uma educação global. A McGill, por exemplo, ficou em 39º lugar no Times Higher Education de 2015 (a segunda escola de medicina melhor ranqueada no Canadá). Nesse mesmo período, estava em regime condicional e tinha dois anos, concedidos pelo Committee on Accreditation of Canadian Medical Schools (CACMS), para melhorar sua performance em áreas que iam da supervisão de residentes médicos até a falta de diversidade. Baseado na avaliação mais recente do CACMS, a escola de medicina da McGill melhorou e, por consequência, saiu do status condicional. Hoje, o Times Higher Education concedeu à universidade o 42º lugar.

Numa mesa de discussão sobre rankings realizada pela UBC em maio, pesquisadores de vários lugares do mundo falaram sobre como os líderes das universidades e os legisladores usaram rankings para alocar os recursos financeiros e até mesmo decidir sobre políticas de imigração.

Quanto eu dou palestras sobre rankings, eu às vezes pergunto “Qual é a melhor universidade do Canadá?” e geralmente alguém responde: “A Universidade de Toronto”. Mas aí eu questiono “O que você realmente sabe sobre o que acontece lá? Como nós sabemos se ela é a melhor e no que ela é a melhor?”, e pouco se sabe além da reputação da universidade. Isso não se trata de implicar com a Universidade de Toronto, ou de discordar de que seja uma escola excelente. Eu fiz meu PhD por lá e tive uma excelente experiência – mas também tive ótimas experiências na Carleton University, na Universidade de Alberta e no Red Deer College.

“Um ranking universitário nos diz pouco sobre a experiência estudantil ou sobre como a universidade contribui para a comunidade à sua volta”

Rankings medem a produção de pesquisa e os fundos recebidos, mas não a ética dessa produção de conhecimento. Retratações, inclusive em publicações científicas bem avaliadas, têm aumentado e as universidades nem sempre são abertas quanto às fraudes. Tome-se como exemplo o famoso Karolinska Institute, que elege o Prêmio Nobel. Em 2012, os líderes acadêmicos do instituto foram alertados sobre várias suspeitas acerca da ética e da veracidade do cirurgião superstar Paolo Macchiarini. Em 2016, ele foi considerado culpado de má conduta científica grosseira, e está ainda em curso uma investigação contra ele, alegando homicídio culposo (de pacientes).

Um relatório de 2016 sobre o assunto concluiu que um ambiente de pesquisa competitivo e o “efeito manada” também tiveram um papel na falta de ação das lideranças a tempo. Ano passado, o KI estava na 28ª posição no Times Higher Education e, hoje, ocupa a 38ª posição. Novamente, não estou dizendo que o KI estaria abaixo do padrão, mas eu questiono o que não transparece nas métricas usadas nos rankings.

Talvez mais do que nunca, as universidades precisam resistir às fake news e se tornarem líderes na expansão de discussões por um raciocínio e um ensino rigorosos. Nós precisamos de debates públicos sobre como sustentar um sistema educacional a nível superior que seja saudável e que ajude indivíduos a alcançarem seu potencial. Rankings parecem atraentes, mas está na hora de focar na educação.

 

Escrito por Michelle Stack ao The Globe and Mail, professora associada da University of British Columbia e autora de “Global University Ranking and the Mediatization of Higher Education”.

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