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“Talvez a Ivy League não seja para você”, diz especialista

Lecticia Maggi - 04/05/2016
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Por Beatriz Montesanti

Estudar em uma instituição da Ivy League – grupo de elite das universidades americanas – ou outras universidades top dos rankings internacionais é o sonho de um grande número de estudantes. Parte do trabalho da psicóloga Andrea Tissen é, de certa forma, desconstruir esse sonho.

Não por ele ser inalcançável, explica a especialista, mas porque invariavelmente a considerada melhor universidade não é a melhor para o perfil de um aluno. “Às vezes eu preciso dizer ao estudante que a experiência não será boa para ele e ponderar por quê”, diz Andrea.

Há, por exemplo, exigência acadêmica muito alta para ser aceito entre as melhores instituições de ensino do mundo, enquanto, ao considerar o currículo do aluno, outras boas universidades podem ser mais adequadas ao candidato. “A saída é oferecer outro grupo de escolhas que sejam encantadores, porém menos conhecidas, e apontar pessoas que estudaram nesse lugar”, diz.

Além disso, Andrea aponta que cada área de estudo tem suas melhores opções. “Se você quer estudar cinema ou televisão, não é para Boston que deve ir, mas Los Angeles, Nova York, Londres…”, explica.

A busca pelo ambiente ideal

Tentei escolher as melhores na minha área, mas também levei em conta alguns critérios como clima, localização, tipo de cidade, número de alunos e financiamento

Andrea destaca também a importância de considerar a localização da instituição e suas características demográficas. Há casos de jovens que saíram de pequenas cidades para grandes metrópoles e tiveram dificuldade de se encaixar; ou o contrário, de estudantes que não se adaptaram à calmaria de vilarejos estudantis. “Estudar fora é legal, mas pode não ser quando o dia fica escuro às três horas da tarde. O estudante pode não encontrar motivação para o resto do dia. Se a pessoa vai para um lugar completamente antagônico e não está preparada, ela não será feliz ali e isso pode acabar com a experiência internacional”.

Esta é uma preocupação que Caio de Oliveira, de 18 anos, teve ao fazer sua inscrição para universidades americanas. “Tentei escolher as melhores na minha área [políticas públicas e economia], mas também levei em conta alguns critérios como clima, localização, tipo de cidade, número de alunos e financiamento”, lista o estudante. “Gosto muito de cidade grande, fui uma criança de apartamento, mas queria mudar um pouco. Minhas escolhas focaram em universidades suburbanas ou rurais, mas que também não me tirassem a oportunidade de um estágio ou emprego.”

Em 2014, Caio fez um curso de verão sobre empreendedorismo social em Stanford, uma das mais prestigiadas universidades americanas, principalmente no setor de inovação. Mesmo assim, na hora de fechar sua lista de escolhidas, optou por não se candidatar a uma vaga ali. “Stanford é muito forte em engenharia e tecnologia, algo que não me atrai agora. Quem sabe depois, em uma pós-graduação.”

Em agosto, o estudante começa seus estudos na Cornell University, localizada em Ithaca, Nova York – será a concretização de uma preparação que já dura três anos, realizada desde o início do ensino médio com o apoio da consultoria Daqui pra Fora. No processo de decisão, Caio abriu mão de fugir do frio (temperaturas lá podem chegar a -20ºC) e de eventuais passeios de bicicletas (o campus é conhecido por suas ladeiras), para ter o clima de college town e qualidade acadêmica em sua área específica. “Queria viver bastante a experiência universitária. Vou passar por alguns perrengues, mas nada que não esteja preparado”, diz.

Pesquisa e Autoconhecimento

Segundo Andrea Tissen, encontrar a universidade com o seu perfil é resultado de muitas conversas e de profundo autoconhecimento. “É necessário saber quais são as principais dificuldades do aluno, que tipo de currículo acadêmico ele apresenta, etc. São muitas questões que precisam ser levadas em conta além de ‘vou estudar na melhor escola’. A melhor escola disso ou daquilo pode não ser a melhor escola para você”, argumenta.

Para ela, existe uma “preguiça coletiva” em procurar opções. “Sempre digo: você pesquisou? Olhou o que esta instituição oferece? Se tem o curso que você quer fazer? Se pode andar de bicicleta? É importante fazer isso antes de ir”, completa. Para ela, é necessário que os estudantes se apropriem desse processo. “É uma delicadeza que você precisa ter consigo mesmo. Saber se avaliar e saber se vai ser bom pra você”.

Sempre digo: você pesquisou? Olhou o que esta instituição oferece? Se tem o curso que você quer fazer? Se pode andar de bicicleta?

Ao final de uma extensa pesquisa, Caio, por exemplo, reduziu sua lista de opções a 11 universidades, número nada modesto, considerando-se o trabalho que exige preparar cada application. Porém, considerando as inúmeras boas opções com que começou sua college list, foi um filtro e tanto. Inspirado pelo pai, que sempre contava sobre suas experiências no exterior, já está de malas prontas malas para partir.

Por melhor que seja esta influência, porém, a psicóloga alerta para casos em que pais vão além da motivação, e impõem vontades aos filhos. “É preciso ter uma conversa com a família. Os pais podem apoiar em tudo, mas a experiência é do aluno. E, mais que isso, não é uma experiência obrigatória para todo mundo”, diz, sobre casos em que filhos não estão confortáveis com a ideia de mudar de país.

“O jovem será um super profissional se for feliz onde estiver”, conclui.

 

*Foto: Cornell University / Crédito: sach1tb

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O que é melhor: estudar em uma universidade grande ou pequena?
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Sobre o escritor

Lecticia Maggi
Lecticia Maggi
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduada em Gestão de Negócios pelo Senac-SP. Foi editora do Estudar Fora entre 2014 e 2016. Atualmente, é coordenadora de comunicação no Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), que tem como um de seus objetivos ajudar a qualificar o debate educacional no país.

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