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Conheça o dia a dia de intercambistas brasileiros durante a pandemia

Mariane Roccelo - 27/04/2021
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Completado um ano de pandemia de Covid-19, muita gente ainda tenta se adaptar às mudanças. Estudantes estão entre os grupos mais afetados pelas restrições do isolamento social, e, para intercambistas, esse impacto foi ainda maior. Como estes alunos estão lidando com aulas EAD em outras línguas e mudança de país em meio a fechamento de fronteiras e lockdown?

Quatro estudantes brasileiros nos contam um pouco sobre como foi viver esse período de incertezas e restrições durante o intercâmbio. Cada um encarou a pandemia em meses, situações e países diferentes, e nos deram um panorama de como foi.

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Mudança de planos 

Recém-chegada a Portugal para estudar na Universidade do Porto, Thalía Bassan estava há poucas semanas no país quando a pandemia chegou à Europa. “Foi uma loucura, fiquei assustada no começo porque a gente não sabia o que estava acontecendo”, conta.

No dia 2 de março, Portugal confirmou o primeiro caso de Covid-19. No dia 11, Thalia foi para uma aula à noite, na qual o professor explicou que a instituição ainda não tinha um posicionamento oficial, mas os estudantes tinham liberdade para não irem à universidade. Na mesma noite, recebeu um e-mail institucional avisando que as aulas foram suspensas, sem previsão de retorno, e pedindo para todos ficarem em casa e se protegerem.

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Nas semanas seguintes, a universidade disparou e-mails rotineiros para tranquilizar os alunos, atualizando sobre a pandemia e informando que permaneceria fechada, mas que espaços como cantinas e refeitórios ficariam abertos. “Não me senti desamparada em momento algum”, conta Thalía.

Desde o início, aulas, provas e trabalhos foram transferidos para plataformas online. Com as mudanças obrigatórias, alguns professores modificaram o formato das aulas e as formas de avaliação. “Tive um professor mais rígido que liberou a gente das provas”, explica Thalía, por entender que “os alunos não conseguiriam aproveitar a prova da mesma forma”. Com o passar do tempo, todos foram se adaptando, “tinha turma com 130 alunos em que todos desligavam o microfone, a professora falava e depois abria para perguntas”.

O lockdown fez com que intercambistas em todo o mundo encarassem a impossibilidade de viajar e conhecer novos lugares livremente. Thalia conta como ficou “um pouco frustrada” com a situação. “Queria viajar para outros países e tinha um mochilão marcado para o feriado da Páscoa”. Ainda assim, afirma que conseguiu viver a quarentena do melhor jeito que podia viver e aproveitou cada segundo.

Com o rígido lockdown implantado por Portugal desde o início da pandemia, no meio do ano a cidade pode reabrir. Thalia conta que algumas colegas chegaram, inclusive, a realizar provas presenciais com horário marcado e distanciamento.

Encarando a pandemia no fim do curso 

Também na Universidade do Porto, Caio Sampaio estava concluindo o mestrado quando o lockdown foi implantado. Após cursar o primeiro ano com aulas regulares, no início da pandemia ele conseguiu uma oportunidade de trabalho fora e decidiu concluir a pesquisa a distância – na Polônia.

Mesmo após concluir toda a etapa presencial do curso, Caio lembra como as restrições o afetaram.  “Quando estava em Portugal, mesmo podendo escrever a dissertação em casa, sempre optei por ir à faculdade e usar o computador do laboratório”. Para ele, desenvolver autodisciplina e manter o ritmo de estudos em casa “aprender a ser produtivo em um ambiente 100% remoto” foram questões difíceis.

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“Tive que me adaptar, nesse sentido, posso dizer que aprendi alguma coisa com a pandemia”, conta. A falta de contato com outros estudantes e professores foi outra dificuldade para Caio, que sempre gostou desse tipo de interação. “Quando terminei minha dissertação, queria muito ter a oportunidade de ir para Portugal apresentar presencialmente, mas não pude”. Em novembro, mês de conclusão do mestrado e de inverno na Europa, os casos de Covid voltaram a subir e o país fechou novamente.

Iniciando um intercâmbio durante a pandemia 

Beatriz Farrugia iniciou um mestrado na Universidade de Birmingham, Inglaterra, em meio a todas as restrições. O curso começou em setembro e manteve aulas presenciais até o mês seguinte. “A faculdade adotava o protocolo, todo mundo usava máscara e as cadeiras com 2 metros de distância”, conta.

Em dezembro, a Inglaterra decretou novo lockdown, que ainda está em vigor. Após conversar com outros intercambistas, Beatriz explica que as universidades inglesas têm adotado um protocolo especial para estudantes internacionais. Em Birmingham, os alunos estrangeiros podem frequentar ambientes da universidade para estudar. “Eles entendem que são alunos que estão longe de casa e todo o estresse da pandemia pode comprometer a saúde mental”, conta.

Mulher usabdo uma máscara de proteção

“Como aluna estrangeira, sinto muito apoio nesse sentido”, fala Beatriz, que pode frequentar espaços da universidade uma ou duas vezes por semana. “É só para alunos estrangeiros e usando todos os protocolos de distanciamento”.

Birmingham também conseguiu se adaptar ao ensino remoto. Segundo a estudante, a comunidade acadêmica possui muitas ferramentas que facilitam o ensino a distância e, após um ano de pandemia, conseguiu alinhar bem o cronograma.

Entre as adaptações feitas, prazos de entrega de trabalhos foram ampliados e ferramentas para assistir às aulas foram oferecidas aos alunos, inclusive com empréstimo de notebooks e internet gratuita. “Alguns professores adotaram modelos mais eficientes de quebrar as aulas (em blocos) para a gente poder levantar e não ficar só no computador”, conta.

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Na Inglaterra, a rápida vacinação já oferece panorama animador para os próximos meses. “Temos previsão de voltar com as aulas presenciais e, se tudo der certo no cronograma de vacinação, não deve ter nenhum tipo de lockdown novamente”, conta.

Estudando fora… no Brasil 

Também disposta a encarar um intercâmbio em meio a pandemia, Giulia Amadio ingressou no mestrado na Universidade de Milão em setembro de 2020. “Sempre quis fazer mestrado e sempre quis fazer fora”, conta.

Após passar em quatro universidades europeias, Giulia optou por Milão devido às vantagens financeiras oferecidas pelo país e por já conhecer a língua. Entretanto, por causa das restrições de fronteira, só poderá ir para a Itália no fim deste ano. Atualmente, ela finaliza o segundo semestre daqui do Brasil.

Para ela, uma das coisas mais difíceis das aulas EAD são as diferenças de fuso-horário. “Tem aulas que começam às 4h da manhã daqui”, conta.

 

Para amenizar as dificuldades do corpo estudantil, repleto de alunos estrangeiros, a Universidade de Milão adotou medidas específicas para intercambistas. Os alunos, por exemplo, podem escolher entre assistir às aulas ao vivo ou gravadas e se preferem realizar trabalhos ou provas. “Quando é de outro país, fica a seu critério falar como quer conduzir a matéria”, explica Giulia.

Giulia conta que a parte mais difícil “é não poder ir ao espaço universitário, tomar um café e almoçar com colegas… sinto muita falta dessa convivência”. Embora não tenha encontrado os colegas presencialmente, ela conta que já fez grandes amizades nesse período de um ano. Enquanto a pandemia não acabar, “a perspectiva vai mudando conforme o coronavírus, uma semana de cada vez, um mês de cada vez”, conclui.

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Sobre o escritor

Mariane Roccelo
Mariane Roccelo
Jornalista. Formada em Jornalismo e Comunicação Social pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Meios e Processos Audiovisuais (PPGMPA) e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM), ambos da USP.

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