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Do técnico em elétrica a dois intercâmbios e estágio no Google – conheça a história de Anderson Silva

Priscila Bellini - 25/10/2017
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Quando o paulista Anderson Silva começou a fazer cursinho pré-vestibular em sua cidade-natal, Mairinque, sequer cogitava estudar em uma universidade pública. “Eu não conhecia ninguém que tinha feito universidade pública”, conta ele, hoje formado em Ciência da Computação pela Universidade de São Paulo. “Eu mal sabia o que era vestibular, não sabia que tinham bolsas para manutenção do estudante, era um mundo paralelo”.

Anderson havia feito um curso técnico em Elétrica junto ao Ensino Médio, mas não se imaginava como eletricista. “Morria de medo de tomar choque”, brinca ele. Naquele primeiro momento, contou com a orientação dos professores do cursinho popular para orientá-lo. “Foi aí que nasceu essa vontade de estudar na USP, por ser a melhor universidade brasileira”.

Depois de concluir o técnico em Elétrica, Anderson aproveitou o tempo extra durante o terceiro ano do Ensino Médio para focar no vestibular. Eram mais de doze horas todos os dias, dedicadas ao conteúdo passado no cursinho. Com um ano de preparação, Anderson passou na universidade “de primeira”.

“Meu mundo mudou”

Passar na Universidade de São Paulo fez com que Anderson mudasse de vida. Para começar, mudou-se para São Carlos, no interior do Estado, onde faria o curso de Ciência da Computação. Também conheceu o tipo de oportunidade que estudar em uma universidade pública como a USP proporcionaria. “Nesse processo de descoberta, eu vi que tinha oportunidades de pesquisa, de desenvolver projeto, de fazer intercâmbio”.

“Para o vestibular, o meu estudo consistia em traduzir textos, e isso era o que eu sabia de inglês”

Estudar fora passou a ser mais uma das metas de Anderson. “Eu ouvia histórias de pessoas que estudavam no exterior, via vídeos e me inspirava muito”, diz ele.  Para seguir esse mesmo caminho, o brasileiro teria de avançar mais um passo: ganhar fluência em inglês, idioma exigido por muitos programas de intercâmbio. “Para o vestibular, o meu estudo consistia em traduzir textos, e isso era o que eu sabia de inglês”, diz ele.

Mas, para garantir um intercâmbio, Anderson precisaria passar em testes de proficiência, como o IELTS, e ter uma nota de, no mínimo, 6,5 na prova. O plano de ação dele para chegar ao nível exigido não passou pela sala de aula. “Fui estudando inglês sozinho, adaptando o idioma no meu dia a dia”, conta. Anderson passou a prestar mais atenção às letras de músicas, a ler notícias em portais estrangeiros e a praticar o idioma usando a bibliografia do próprio curso universitário, que contava com muitos nomes em inglês. Também se preparava para maratonas de computação, que sempre tinham problemas em língua inglesa.

Também nesta época ele passou a integrar um time de pesquisa dentro da universidade, apoiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Foi aí que surgiu a oportunidade de conhecer de perto as técnicas desenvolvidas por um professor australiano, e que ajudariam no estudo realizado no Brasil. Embarcando para a cidade de Perth, em 2014, Anderson esperava aprofundar uma pesquisa sobre o número de ocorrências de câncer de mama. Foi também com a experiência na Austrália que o brasileiro teve a chance de praticar pra valer o inglês.

Passagem para Mountain View

Em 2014, Anderson também decidiu se candidatar a outra oportunidade no exterior: o estágio no Google, na sede da empresa no Vale do Silício. De início, o brasileiro enviou currículo e histórico escolar pelo site, na primeira parte de um longo processo seletivo.

“Fazer uma entrevista técnica com um engenheiro de software e um recrutador do Google foi a primeira situação em que falei em inglês com alguém”

Logo foi chamado para novas etapas de seleção, feitas online e conduzidas em língua inglesa. “Fazer uma entrevista técnica com um engenheiro de software e um recrutador do Google foi a primeira situação em que falei em inglês com alguém”, conta ele. Até então, seu aprendizado se restringia a atividades de leitura, audição e escrita, sem interagir com falantes nativos.

Quando soube do resultado, Anderson já estava a caminho da Austrália, onde passaria quatro meses como pesquisador. Logo depois, em abril, ele faria as malas para a Califórnia e passaria os três meses de estágio no Google. Usou todos os recursos possíveis, morando em um país estrangeiro, para garantir a fluência — de conteúdos em inglês às conversas com falantes nativos. “Eu conversava com meu colega de quarto diariamente em inglês, o que me preparou bem para o estágio nos Estados Unidos”, detalha o brasileiro.

“Minha mãe é faxineira, meu pai já fez de tudo… E eu fiquei pensando que poderia fazer coisas realmente grandes, para mim, para minha família, para o meu país”

Chegando no Vale do Silício, Anderson pode tocar um projeto de três meses junto a um mentor, como é padrão dentro da empresa. Quem entra como estagiário recebe um nível alto de responsabilidades, como se já fosse funcionário efetivo da empresa. “Como bilhões de pessoas vão usar a ferramenta, tudo tem que ser algo rápido e eficiente”, relata o brasileiro. Para Anderson, essa foi mais uma mudança de horizontes. “Minha mãe é faxineira, meu pai já fez de tudo… E eu fiquei pensando que poderia fazer coisas realmente grandes, para mim, para minha família, para o meu país”.

Estágio no Google, intercâmbio no Canadá e… Brasil

Mal terminou o estágio no Google, Anderson já tinha mais planos em mente. Era a vez de retornar ao Brasil e acertar tudo para uma nova fase, fazendo parte do programa Ciência Sem Fronteiras no Canadá. O estudante paulista havia se candidatado a universidades canadenses, e fora aceito em sua primeira opção, a Universidade McGill.

Ficou surpreso ao ver que, dentro da universidade, a regra era um ensino holístico, em que os alunos tinham aulas não só de Ciência da Computação, mas de outras áreas. “O pessoal em McGill queria criar produtos, usar tecnologia para resolver problemas reais”, conta Anderson. A ideia dos estudantes ia além do interesse em trabalhar em uma grande empresa, e passava pela intenção de empreender e procurar novas alternativas.

Outra vantagem na experiência no Canadá foi o acesso a matérias diferentes dentro da computação. Anderson cursou disciplinas de machine-learning e aprendeu mais sobre materiais complexos, como compiladores. Nas férias de verão, aproveitou para retornar ao Google, dessa vez em território canadense, na cidade de Montreal.

De volta ao Brasil, já formado em Ciência da Computação, e trabalhando como Diretor de Tecnologia no Curso Ênfase, Anderson enxerga a área de computação como aliada em mudança social. “Quando você pensa em mudar um país, tem que tocar muita gente, chegar a muitos lugares remotos”, diz Anderson.

“O primeiro conselho é encontrar fontes de inspiração”

Para quem deseja seguir passos semelhantes, estudando e ganhando experiência profissional fora, Anderson dá dicas. “O primeiro conselho é encontrar fontes de inspiração”, aponta ele. Conhecer a história de gente que já viajou para o mesmo país de interesse, ler sobre bolsas no exterior e descobrir detalhes sobre o dia a dia na região são essenciais.

Ficar de olho em oportunidades no exterior também ajuda, checando bolsas, competições e estágios disponíveis. “Eu voltei do exterior sabendo de mais oportunidades ainda”, conta o brasileiro. E se o inglês parecer um obstáculo? Anderson aponta as ferramentas online para alavancar o aprendizado do idioma. “Você não precisa fazer dez anos de curso para isso”, conclui ele.

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Sobre o escritor

Priscila Bellini
Priscila Bellini
Priscila Bellini é jornalista, bolsista Chevening 2018/2019 e mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London School of Economics and Political Science (LSE). Foi colaboradora do Estudar Fora em 2016 e 2017 e editora do portal em 2018.

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