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Depois de tour acadêmico, brasileira ganhou bolsa para estudar em Montréal

Colunista do Estudar Fora - 19/04/2017
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Por Laura Costa

Sou estudante de Relações Internacionais e decidi embarcar, em janeiro, para uma viagem de aprofundamento em temas essenciais para estudantes de RI e profissionais da área. Foram 21 dias intensos de visitas dirigidas e palestras em mais de 40 instituições em Washington, Nova York, Montreal e Ottawa. Esta experiência única, em que tivemos acesso a palestras exclusivas em agências da ONU, embaixadas do Brasil, parlamentos, câmaras de comércio e universidades, foi proporcionada pelo North American Study Tour, organizado pela Mission Abroad.

O tour mudou muito minha percepção sobre o que almejo para minha carreira e me ajudou a estabelecer metas pessoais de maneira prática. A carreira diplomática do Itamaraty é uma das mais sonhadas pelos profissionais de relações internacionais, mas muitas vezes é difícil ter em mente qual o verdadeiro trabalho cotidiano de um diplomata. Ao conhecer mais sobre o dia a dia das embaixadas, pude entender melhor como funciona o trabalho consular e rever minha decisão sobre trilhar essa carreira.

Hoje me vejo mais voltada para trabalhar em organizações internacionais ligadas ao sistema ONU e a exercer a diplomacia, mas em outro contexto. Aprendi sobre o conceito de diplomacia corporativa, uma ideia inovadora que amplia o horizonte do que é ser, na essência, um diplomata. O pragmatismo e o viés político do diplomata são extremamente necessários em grandes corporações privadas. Foi necessário ampliar minha visão de mundo para entender a tamanha multidisciplinaridade das Relações Internacionais.

4 cidades, mais de 40 visitas e um evento da ONU

Durante o tour, eu e mais 14 estudantes brasileiros visitamos mais de 40 instituições em quatro cidades da América do Norte. Washington é uma cidade que conserva características burocratas. Estávamos a pouquíssimos dias da posse do presidente Donald Trump – um momento político histórico em que pudemos sentir como a sociedade reagia. Visitamos as famosas instituições de Bretton Woods, como o Banco Mundial e o FMI, e pudemos inclusive fazer perguntas ao final das palestras sobre economia e desenvolvimento. Fomos à sede da CEPAL, ao USAID e ao Diplomatic Reception Rooms, parte do departamento de Estado dos EUA. Em todas essas instituições, pudemos questionar com os palestrantes sobre o atual momento político americano, como ele influencia no cenário mundial e ver a percepção de funcionários do próprio governo americano sobre isso.

Laura e outros participantes do tour acadêmico na América do Norte na sede da ONU
Laura e outros estudantes na sede da ONU, em Nova York

Em Nova York respiramos todo aquele ambiente cosmopolita e dinâmico e visitamos um dos pontos altos da viagem: a sede da ONU. Ao chegarmos à sede, nosso guia nos disse: “A partir de agora, vocês não estão mais em território americano, mas em um ambiente internacional”. Para um internacionalista, isso é um dos significados máximos do que as Nações Unidas representam: o debate e paradoxo entre sistema internacional e soberania dos Estados. Foi uma visita que nos marcou muito, uma vez que ela representava, na prática, a estrutura de muito daquilo que estudamos. Visitamos outras agências da ONU como a UNFPA, que é o Fundo de População das Nações Unidas, e fomos à Missão Permanente do Brasil na ONU, onde fomos recebidos por quatro diplomatas. Debatemos diversos temas, entre eles a política externa brasileira e representatividade do Conselho de Segurança da ONU. Tivemos ainda o gostinho de nos sentir estudantes da Universidade Columbia por algumas horas. A universidade possui uma vista panorâmica de Nova York e fomos muito bem recebidos por dois palestrantes e membros do corpo docente da universidade que nos explicaram sobre os programas oferecidos e as oportunidades de bolsas para brasileiros.

Montréal, com todo seu charme francês e dinamismo norte americano, é uma cidade bilíngüe que nos acolheu com todo seu multiculturalismo. Passamos alguns dias na Université de Montreal e tivermos palestras com professores da universidade. Sentimos o que é estudar na melhor universidade francófona do mundo, como a universidade se organiza e seus programas de mestrado e doutorado. Fomos a think thanks que trabalham com cooperação internacional, a câmaras de comercio e a eventos de networking no modelo speed dating – nos quais conversamos com diplomatas, empreendedores, políticos e recebemos orientações sobre o mercado de trabalho em vários eixos.

Ottawa conserva um ar burocrático de uma capital e sob esse ar visitamos o Parlamento Canadense, a Casa dos Comuns onde nos foi apresentada a estrutura de Estado do Canadá e curiosidades sobre o parlamento. Aprendemos sobre o sistema de segurança, principalmente depois do incêndio de 1916. Fomos à sede do NAFTA e a uma visita histórica surpreendente: O Diefenbunker, construído entre 1959 e 1961 como refugio para o governo canadense em caso de um ataque nuclear da União Soviética. Ouvimos historias sobre a Guerra Fria e sobre o medo que pairava sobre as nações diante da possibilidade de um ataque. O bunker possui cinco andares subterrâneos com galerias das mais diversas especialidades para abrigar pessoas.

Ao final do tour fui a um evento da ONU (ECOSOC YOUTH FORUM) com os cofundadores da Mission Abroad e foi uma oportunidade de conhecer o funcionamento dos tão ovacionados eventos na ONU de perto, entender as negociações e analisar como a própria ONU precisa ser revitalizada em alguns pontos para atender verdadeiramente as demandas da atualidade.

Bolsa para curso de francês

Para completar a experiência, ganhei uma bolsa de estudos da Mission Abroad para estudar francês por quatro semanas em uma das melhores escolas de idiomas de Montreal. Esta foi uma fase mais independente da viagem. Desfrutei do cotidiano da cidade como estudante e, paralelamente, fui a eventos de networking e palestras ligadas às Relações Internacionais.

Conviver com estudantes de diversas nacionalidades na escola de francês foi enriquecedor! A troca de culturas me permitiu observar como tínhamos desafios em comum e potencialidades diferentes, mas como éramos capazes de completar uns aos outros.

Durante o Study Tour, trabalhamos a construção de uma autoestima coletiva elevada assim como nosso empoderamento como jovens líderes brasileiros. Essa experiência internacional me fez perceber que precisamos mudar nossa mentalidade e estarmos cientes da nossa singularidade como nação. O Brasil é um país maravilhoso e temos muito a ensinar ao mundo.

Volto para o Brasil já com uma saudade enorme do turbilhão de experiências vividas, mas com uma vontade e motivação ainda maior no meu coração de realizar mudanças que o mundo precisa ver, de ser esse ator social que acredita em si e que propõe soluções. Agora levanto todos os dias e repito comigo mesma a frase do filme Invictus: “sou dona do meu destino e capitã da minha alma”.

 

Laura Luiza Costa

Graduanda em Relações Internacionais pela Puc Minas, atualmente trabalha na Comissão da Verdade de Minas Gerais; é diretora do Minionu, maior modelo das Nações Unidas em nível secundarista da America Latina e é embaixadora da Mission Abroad, organização sem fins lucrativos fundada no Canadá, pela qual participou do North American Study Tour.

 

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