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Estudar na Juilliard: como é ser aluno do melhor conservatório do mundo

Priscila Bellini - 20/07/2023
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Mestres da música, da dança e das artes cênicas por todos os cantos, em um campus localizado no coração de Nova York, pertinho da Metropolitan Opera. Não é à toa que, unindo esses aspectos, a Juilliard School seja considerada a melhor instituição de artes performáticas. No QS World University Ranking de 2020, a Juilliard encabeça o pódio da categoria, contando com mais de cem anos de história.E ela mantém essa posição ao menos desde 2016.

Quem quer seguir os passos de nomes como o da atriz Viola Davis, do compositor Philip Glass, da cantora Nina Simone ou do trompetista Miles Davis tem que se preparar para testes exigentes. Apenas 7% das applications têm resultados positivos, um índice de aprovação bastante restrito.

Juilliard School em números

O lado positivo dessa seletividade é que a escola tem poucos estudantes, e turmas bem pequenas. O conservatório tem apenas cerca de 930 estudantes, e uma taxa de apenas cinco alunos por professor ou funcionário. Dentre os alunos, aproximadamente 250 são de outros países que não os EUA.

Essa seletividade também é um dos fatores que contribui para a excelência da instituição. De acordo com o QS World University Rankings by Subject, que avalia as melhores escolas do mundo por áreas de estudo, a Juilliard lidera desde ao menos 2016 na área de artes performativas.

Como entrar na Juilliard School

Além da leva de documentos que compõem a application, é necessário passar por exames para avaliar a capacidade técnica dos candidatos nas modalidades que escolheram. No caso do trombonista paulista Hélio Góes, natural de São Roque, o processo seletivo para a Juilliard incluiu três etapas no pre-college que cursou na instituição.

Nessa modalidade, disponível para quem não chegou ao ensino superior (os alunos têm entre 9 e 17 anos), os alunos devem demonstrar habilidades técnicas. O brasileiro, na época com 16 anos, resolveu se candidatar, depois de cinco anos de estudo de trombone e de passar pela Universidade Livre de Música Tom Jobim. “Como o instrumento era muito grande, só com 11 anos consegui começar”, comenta.

Para demonstrar as habilidades necessárias, os candidatos passam por um exame teórico, uma entrevista com representante da Juilliard (para avaliar fluência na língua inglesa) e depois pela etapa prática, em que tocam um repertório pré-estabelecido.

“O concerto ou o solo executados têm que ser feitos junto com o piano. A prova é feita com um pianista da Juilliard, e você tem que ajeitar tudo com ele em meia hora, antes do teste”, detalha Hélio. Por isso, o jeito é estar com as diretrizes na ponta da língua, e pronto para encarar a avaliação.

Como se sair bem na prova

Um dos pontos que o estudante brasileiro faz questão de destacar vem do nervosismo na hora da prova. É claro que, diante de uma avaliação para o melhor conservatório do mundo, a reação mais imediata seja o frio da barriga. “A sua porcentagem de aproveitamento cai, com relação ao tanto que você estudou até aí. Mas é possível trabalhar para que essa dedução não seja tão grande”, resume Hélio.

A estratégia dele foi treinar com uma professora particular antes da prova, de modo a pegar prática e ter alguém por perto de ouvidos atentos para eventuais tropeços. “Fazer preparação para prova é algo essencial. Quanto mais você puder fazer simulações com seus amigos, familiares e professores, melhor”.

Outro detalhe que pode ajudar vem do corpo docente da Juilliard. Hélio conta que, de modo geral, ter um contato prévio com o professor ajuda bastante. Uma aula, uma visita à escola, uma conversa breve ou contato prévio dão um impulso a mais. “É muito difícil um forasteiro chegar e ganhar uma vaga por lá se quem está do outro lado da banca não conhece nada, zero, sobre ele”.

O que a escola oferece

Só de olhar ao redor e ver a arte sendo feita, ou atravessar a rua e assistir a um concerto de uma das maiores orquestras do mundo já faz toda a diferença.

Olhando esse processo seletivo exigente, já é possível imaginar o nível da instituição ao qual ele dá acesso. A Juilliard reúne fatores determinantes para os aprendizes de música, dança e teatro.

São aulas teóricas que dão base sólida aos estudantes, horas de prática em instrumentos e possibilidade de tocar, desde muito cedo, em orquestras. No pre-college, nos bacharelados ou nos níveis de pós-graduação, os alunos cursam matérias que vão da regência até o aperfeiçoamento de seu instrumento principal.

Além disso, graças à fama consolidada e ao apoio financeiro que recebe, a Juilliard School tem recursos de fazer inveja a outras instituições. Estúdios de gravação, palcos disponíveis a qualquer hora e instrumentos de qualidade (são centenas de pianos Steinway à disposição) fazem parte do cenário.

“O ambiente é muito importante para as artes em geral. Só de olhar ao redor e ver a arte sendo feita, ou atravessar a rua e assistir a um concerto de uma das maiores orquestras do mundo já faz toda a diferença”, sintetiza Hélio.

Quanto custa estudar em Juilliard

Assim como outras universidades de prestígio dos EUA, a Juilliard School tem um custo nada trivial em termos de anuidades. De acordo com o site da instituição, são US$ 49.260 por ano apenas em taxas referentes aos estudos.

A isso, deve-se somar um valor de aproximadamente US$ 18 mil referente a moradia na própria universidade — morar em Nova York não é nada barato, e esse valor é relativamente acessível para os padrões de lá. Contando também os valores de compra de livros, partituras e manutenção do instrumento, os custos de estudo na instituição estadunidense podem superar os US$ 70 mil por ano.

Bolsas de estudo

Felizmente, a escola oferece opções de auxílio financeiro, especialmente para estudantes que demonstrarem talentos excepcionais em suas áreas. Esse auxílio vai desde um apoio baseado em necessidade financeira para alunos que precisem de uma ajuda para poder pagar pelo curso até bolsas integrais em alguns dos programas.

As opções de bolsas para Juilliard podem ser vistas nesta página. De acordo com a instituição, alunos de fora dos EUA são elegíveis para todos os programas de apoio financeiro que eles oferecem. Também é possível ler mais sobre essas oportunidades neste documento, da própria escola.

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Sobre o escritor

Priscila Bellini
Priscila Bellini
Priscila Bellini é jornalista, bolsista Chevening 2018/2019 e mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London School of Economics and Political Science (LSE). Foi colaboradora do Estudar Fora em 2016 e 2017 e editora do portal em 2018.

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