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Da periferia de São Paulo a uma das melhores escolas de música do mundo

Nathalia Bustamante - 05/09/2016
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Por Priscila Bellini

O paulista Matheus Mello começou a tocar logo cedo. Seus pais tocavam na igreja, e a paixão pela música parecia um destino certo, com o apoio dos dois e dos três irmãos, com quem também tocava na igreja. Desde cedo, quando deu os primeiros passos no aprendizado do violino, Matheus levou a música a sério. Tão a sério que, aos 8 anos, já ingressava na Universidade Livre da Música e, aos 11, chegava à EMESP Tom Jobim, a Escola de Música do Estado de São Paulo.

Foi também aos 11 anos que ele passou a tocar violoncelo, sob a orientação dos mestres da EMESP. “A primeira vez em que ouvi o som do violoncelo, foi como se eu me apaixonasse. Era como se o som me chamasse”, conta ele. Em 2012, ele foi aceito como bolsista pela Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo. Para fazer parte do time, passou por uma rígida seleção. Ao longo do ano, além de ensaios e mais ensaios, fazia aulas teóricas e práticas de música. Tamanha dedicação o levou a ser aceito, já em 2014, pela Academia de Música da OSESP.

As rotina diária de dedicação e preparação o levou a se destacar na Orquestra. Isto foi importante para que Matheus conquistasse a aprovação na Haute École de Musique, em Genebra, na Suíça. No processo seletivo, ele concorreu com mais de 30 músicos que disputavam a bolsa de graduação por lá. Diante dos adversários que vinham de países como Japão, Estados Unidos e Rússia, o brasileiro se deu bem. “Essa experiência significa crescer como músico, conhecer novas pessoas, conhecer um novo idioma”, resume o violoncelista.

Eu amo a música. Foi onde eu nasci, e sem ela não sei o que seria de mim. Por isso, eu persisti muito para conseguir as coisas

Matheus conta que o instrumento que usou nas avaliações práticas, um violoncelo feito sob encomenda para ele, fez toda a diferença. O estudante só conseguiu comprá-lo depois de ser premiado como o aluno de maior destaque da Orquestra Jovem, em 2013, o que lhe rendeu 15 mil reais. Naquele ano, ele também fizera parte de uma turnê da organização pela Alemanha, e tocara em uma das salas mais famosas do mundo entre os fãs de música erudita: a Berlin Philharmonie. Depois dessas experiências internacionais, se consolidou a ideia de fazer uma graduação fora do país.

Por outro lado, a aprovação do brasileiro na Haute École o forçou a fazer uma difícil escolha: deixar de lado a oferta da Royal Academy britânica, que renderia um mês na Inglaterra. Como o curso de curta duração por lá começaria ao mesmo tempo que o período letivo na escola suíça, ele teve de escolher e optou pela mais extensa. “Para mim seria mais interessante, por passar mais tempo por lá”, explica Matheus, que busca se tornar um solista de sucesso com a experiência em Genebra. “E também quero aprender um pouco sobre regência”, completa o musicista.

Seria um ponto de virada importante na carreira precoce de Matheus, que vem da Zona Sul de São Paulo. Desde muito cedo, ele teve de se desdobrar para dar conta do ensino médio e do aprendizado de música, que acontecia no centro de São Paulo. “Houve uma época em que eu não tinha dinheiro para pegar o ônibus pra ir à escola. Ou então, eu tinha que sair correndo da aula porque tinha aula de música, no centro”, relembra ele. Mesmo dedicando horas a fio aos estudos e dormindo pouco, já que chegava em casa por volta da uma da manhã e acordava no outro dia às 5 horas, Matheus não desistiu. “Eu amo a música. Foi onde eu nasci, e sem ela não sei o que seria de mim. Por isso, eu persisti muito para conseguir as coisas”.

Para conseguir se bancar na Suíça, entretanto, Matheus ainda depende de uma campanha de arrecadação. Como a bolsa oferecida pela instituição de Genebra não cobre as despesas dele para se manter no país, a ideia foi contar com o crowdfunding e oferecer recompensas aos colaboradores, que vão de um vídeo de agradecimento até recitais solo de 30 minutos.

 

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Sobre o escritor

Nathalia Bustamante
Nathalia Bustamante
Nathalia Bustamante é jornalista formada pela UFJF. Foi editora do Estudar Fora entre 2016 e 2018 e hoje é coordenadora de Conteúdo Educacional na Fundação Estudar.

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