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ENEM 2020 cancelado? Veja o que outros países fizeram com suas provas (e o que o Banco Mundial recomenda)

Gustavo Sumares - 27/07/2020
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A realização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em 2020 foi prejudicada pela pandemia da COVID-19, que obrigou o fechamento das escolas. Inicialmente marcado para outubro e novembro de 2020, a prova foi posteriormente adiada e, atualmente, está marcada para janeiro e fevereiro de 2021. Essa decisão, no entanto, gerou protestos de entidades que argumentam que a pandemia dificultou a preparação de alunos da rede pública (muitos dos quais não tinham como acompanhar as aulas por EAD) para o exame.

A decisão de manter o ENEM também vai de encontro a medidas tomadas por governos de outros países como Estados Unidos, França, Holanda e Irlanda. Esses países cancelaram seus exames de saída do Ensino Médio por causa da crise de saúde pública global, e estão buscando alterntivas para minimizar os transtornos causados aos alunos que fariam as provas.

Mesmo nos países que decidiram manter os seus exames semelhantes — como é o caso da Alemanha — a decisão foi tomada em meio a protestos de alunos, e os exames contarão com uma série de medidas adicionais de higiene e prevenção de transmissão. Confira:

Cancelar o ENEM? Veja o que outros países fizeram:

Estados Unidos

Nos EUA, a prova mais semelhante ao ENEM é o SAT, ou Scholastic Aptitude Test (teste de aptidão escolar). Por si só, ele não vale como certificado de conclusão do Ensino Médio ou dá acesso a universidades. No entanto, a nota do SAT é um dos critérios que as principais universidades do país utilizam para selecionar seus estudantes.

Por isso, o exame é muito importante para alunos (mesmo de outros países) que desejam estudar em Harvard, Stanford, Columbia, Yale, Princeton e outras instituições rankeadas entre as melhores do mundo. E é comum que muitos dos alunos do último ano do Ensino Médio realizem o exame, que é feito em vários momentos do ano.

Mas por causa da pandemia do COVID-19, o calendário de 2020 será diferente. A College Board, organização responsável pelo exame, anunciou no mês passado que vai cancelar a edição de junho do SAT. Numa videoconferência realizada pelo CEO da organização, David Coleman, ele explicou dizendo que “a simples razão é que há coisas mais importantes do que a prova. As evidências científicas são claras: causar aglomerações de estudantes em junho não seria seguro para eles ou para os administradores acadêmicos envolvidos”.

Segundo a Forbes, a College Board vai oferecer mais provas ao longo dos próximos meses para compensar o cancelamento dessa edição. Mas caso as escolas públicas não tenham aberto até o segundo semestre, a organização pretende oferecer o exame digitalmente. É um desafio e tanto: Coleman afirma que isso exigirá um esforço de vigilância digital do teste “numa escala nunca antes vista” para evitar que os estudantes colem.

As universidades dos EUA responderam à situação de diversas maneiras. Muitas delas estão revendo seus calendários de admissões, e algumas estão enviando cartas para estudantes estrangeiros lembrando-os da possibilidade de atrasar em um ano o início de seus estudos.

França

No dia 3 de abril, o ministro da educação da França anunciou que o tradicional baccalauréat, ou “bac”, o exame que alunos franceses no fim do ensino médio realizam (e cuja nota é extremamente importante para o resto de suas vidas acadêmicas) seria cancelado em 2020.

É a primeira vez que a prova é cancelada desde suas concepção em 1808 sob o governo de Napoleão Bonaparte. Segundo a Reuters, mesmo os protestos estudantis de maio de 1968 não foram suficientes para provocar o cancelamento dos exames. Em vez da nota do “bac”, os estudantes receberão uma nota média calculada a partir dos resultados de seus trabalhos, provas anteriores e exercícios realizados em casa.

De acordo com o ministro da educação da França, “essa é a solução mais simples, segura e justa em tempos difíceis como este”. O país já tem mais de 140 casos confirmados da doença, e mais de 26 mil mortes.

Reino Unido

Um exame semelhante ao “bac” francês e ao ENEM brasileiro que é aplicado no Reino Unido é o GCSE, ou “general certificate of secondary education”. Ele é realizado normalmente no fim do ensino médio por alunos de todo o Reino Unido e sua nota é usada como critério de seleção para o ensino superior europeu.

Na metade de março, no entanto, o governo britânico anunciou que fecharia todas as escolas públicas e cancelaria todas as provas por causa da pandemia do COVID-19. Alunos que pretendiam realizar as provas do GCSE (ele é dividido por disciplinas) receberão uma nota calculada com base em outros trabalhos e provas já realizados pelos alunos, bem como suas notas em simulados.

O governo está tomando uma série de medidas para garantir que as notas dadas serão justas e refletirão o desempenho que os estudantes teriam nos exames. As notas devem sair em torno de agosto de 2020, e poderão ser usadas normalmente para ingresso nas universidades.

Irlanda

A Irlanda tomou uma medida semelhante à do Reino Unido na questão dos exames. Por lá, os alunos que estão saindo do Ensino Médio prestam o “Leaving Certificate”, uma prova parecida com o ENEM cuja nota também é usada como indicador de desempenho nesse período de estudos e avaliada por universidades como fator de admissão de estudantes.

Por enquanto, o governo irlandês está decidido em cancelar a prova, que aconteceria no dia 3 de junho. Alunos que desejem realizar a prova, por enquanto, terão essa opção, mas precisarão esperar por um período ainda indefinido. É possível que o exame só venha a ser realizado novamente em 2021.

Para os que preferirem não esperar, o governo está montando um esquema junto com as escolas para dar notas aos estudantes com base nos resultados já obtidos por eles. Os examinadores responsáveis pela prova nacional se reunirão a professores e diretores das escolas para determinar quais seriam as notas de cada aluno, com base nos trabalhos e provas que ele já realizou.

O “plano B” do governo irlandês ainda não está definido, mas vem sendo elaborado em meio a pressões para realizar a prova nacional mesmo com os riscos de saúde associados. De acordo com o líder do governo irlandês, “se [a prova] for cancelada, precisamos fazer uma alternativa justa, o que é extremamente difícil”.

Holanda

A Holanda também cancelou o seu “ENEM”. Além de ter notas que são usadas para o ingresso dos alunos na universidadem as provas também servem como comprovação de que os alunos dominam o conteúdo daquele período de ensinos. Por isso, o país pretende oferecer certificados de conclusão do Ensino Médio a todos os alunos que, com base em suas notas anteriores, teriam condição de se formar.

Segundo o governo holandês, a medida foi tomada para que as escolas tivessem mais tempo para organizar suas próprias provas (já que não precisariam se preocupar com o exame nacional). Ela também permitirá que os alunos que concluiriam o Ensino Médio no primeiro semestre de 2020 continuem para o Ensino Superior normalmente no segundo semestre do ano.

Alemanha

A Alemanha foi um dos países que não cancelou seus exames nacionais de Ensino Médio. Mas a situação, por lá, é bem diferente: o país é dividido em 16 estados, cada um dos quais tem seu próprio exame (Criado com base em diretrizes federais). As provas, em todos os casos, recebem o nome de Abitur, e no fim de março os estados optaram por manter as datas dos exames, mas com medidas adicionais de segurança, segundo o Deutsche Welle.

No momento da decisão, o país já estava há algumas semanas com escolas fechadas. A questão central, no entanto, foi que como cada estdo tem sua própria prova, a data de realização do exame varia. Alguns estados teriam as provas no meio de março, e outros em abril. A decisão do governo federal de manter os exames tinha o objetivo de evitar que os alunos de estados que ainda não tinha realizado as provas fossem prejudicados. Mesmo assim, dependendo do estado, as provas serão adiadas ou acontecerão no tempo previsto.

A decisão, de acordo com o Irish Times, gerou protestos por parte de professores e estudantes. Além de terem passado pela incerteza quanto à realização dos exames, alunos cujos pais estão no grupo de risco também temem pela saúde deles. A situação, nas palavras dele, também é agravada por fatores como a pressão de estudar num clima de medo e incerteza, e pais que perderam o emprego recentemente.

Recomendações do Banco Mundial

Uma das organizações que está de olho no que está acontecendo com as provas nacionais de Ensino Médio é o Banco Mundial. Em um post no blog, economistas e especialistas em educação discutem as abordagens que estão sendo tomadas por governos de diversos países e destacam algumas das soluções mais interessantes.

Quanto à pergunta “Qual é a abordagem correta?”, a organização é reticente: “Depende”, diz o post. No entanto, o Banco Mundial também elenca algumas das questões que devem nortear a tomada de decisão sobre o possível cancelamento do ENEM (ou provas parecidas):

  • Se os exames forem atrasados e seus resultados não estiverem disponíveis para as decisões que dependem das notas, como essas decisões serão tomadas?
  • Se o exame for realizado em formato online, como é possível garantir acesso justo a todos os estudantes? Como os realizadores garantirão a segurança dos dados da prova, e quais medidas serão tomadas para evitar vazamentos de dados? E como alunos de classes sociais diferentes poderão se preparar para a prova de maneira igualitária, dada as disparidades entre as salas de aula?
  • Se as provas forem substituídas por notas atribuídas por professores (ou outros “especialistas”), de que recursos os professores precisarão para atribuir essas notas de modo preciso e justo? Como eles poderão avaliar e se comunicar com os alunos de maneira efetiva, mesmo a distância, para entender o que eles podem ou não podem fazer?

O essencial, segundo o Banco Mundial, é que “fatores como o conteúdo e formato das provas, seas condições de administração, o acesso a recursos e materiais de apoio e a análise dos resultados devem ser os mesmos (ou equivalentes) para todos os alunos”. Pensando no caso do ENEM, parece justo dizer que o governo tem um desafio pela frente se quiser garantir essas condições.

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Sobre o escritor

Gustavo Sumares
Gustavo Sumares
Gustavo Sumares é o editor do Estudar Fora. Jornalista, já escreveu sobre tecnologia e carreira.

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