InícioGraduação"Ter mentoria foi essencial", contam brasileiros aprovados em Harvard

“Ter mentoria foi essencial”, contam brasileiros aprovados em Harvard

Priscila Bellini - 11/04/2017
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Não é segredo para ninguém que passar em universidades como Harvard exige muita dedicação. Com dezenas de milhares de candidatos mundo afora, a instituição – assim como outras que fazem parte da Ivy League – realiza um processo seletivo rigoroso para selecionar os melhores alunos.

Depois de passar por um crivo desses, portanto, há muito que comemorar. O estudante carioca Gustavo Coutinho e a mineira Karina Pimenta fazem parte desse grupo de aprovados – sendo que, além de Harvard, Gustavo recebeu o aceite de outras seis universidades americanas e Karina, cinco. Ambos receberam o apoio do Prep Estudar Fora, programa gratuito que orienta jovens brasileiros no processo de application para universidades fora

Por trás desses números, não há mágica: são o produto de meses de trabalho, revisando e refazendo diversas partes do processo de candidatura. Nessas horas, como destaca a mineira de Itajubá, a mentoria durante o programa “caiu do céu”. “Eles me apoiaram e confiaram em mim desde o início. O pessoal estava disposto a ler meus essays, passar madrugada em claro comigo ajudando”, conta ela, que se divide entre a possibilidade de estudar biologia em Harvard ou em Brown, outra universidade membro da Ivy League.

Gustavo também classifica a mentoria como “essencial”, em especial na elaboração das redações exigidas por cada instituição. “Eu acabava as redações de madrugada e, logo de manhã, meu mentor já mandava correções, dicas. Um dia antes de enviar a candidatura, eu ainda estava nessa troca com meu mentor”, explica. Ele aplicou para 10 instituições nos Estados Unidos e recebeu o sim de 7 delas, incluindo nomes como Yale, Stanford, e Universidade de Chicago.

Participando do Prep, os jovens têm contato com uma rede de outros jovens que possui o mesmo objetivo, de estudar nas melhores instituições do mundo. “São pessoas que têm as mesmas dificuldades e problemas, que vão ter as mesmas felicidades no fim”, diz Gustavo, que pretende estudar Economia e Computação. “Era também uma oportunidade de ter contato com jovens fazendo coisas maravilhosas”, completa.

Não há perfil “certo” de candidato 

E também não existe fórmula ideal em matéria de application. Ainda assim, o ponto comum entre aqueles que se saem bem no processo vem de um longo processo de autoconhecimento, e de redações que contem uma “boa história”. O modelo de candidatura “holístico” de universidades americanas dá espaço para que candidatos dos mais diversos perfis valorizem suas trajetórias também variadas.

Eu nunca me sentia confiante comigo mesma, estava constantemente me comparando a pessoas com atividades extracurriculares bem diferentes das minhas

Conseguir transmitir o que havia feito durante o ensino médio foi um desafio para Karina Pimenta. Vinda de uma cidade pequena ao sul de Minas, ela não tivera tantas oportunidades quanto alguém que morasse em uma metrópole. “Eu nunca me sentia confiante comigo mesma, estava constantemente me comparando a pessoas com atividades extracurriculares bem diferentes das minhas”, detalha ela.

Logo depois de sair do Ensino Médio, ela se candidatou às universidades americanas, com uma application que “contava o que achava que eles queriam ouvir”. Não deu certo. Ela decidiu, então, dar uma pausa de um ano (o “gap year”) e se dedicar às atividades que mais gostava de fazer. “Antes, eu dava mais atenção para fazer de tudo e me dedicava menos ao que eu realmente gostava. No terceiro ano do Ensino Médio, tentava me jogar em atividades de política, rádio da escola…”, diz ela.

Karina embarcou para um voluntariado na Argentina, trabalhando com animais, e viu que aquela experiência mudou sua vida. “Eu pensei ‘se isso não agregou para a minha application, agregou para a minha vida’”, comenta. Ela também passou a se dedicar à fotografia, uma área em que sempre tivera interesse. Também procurou um professor universitário de Biologia e pediu para colaborar em um projeto de pesquisa sobre microalgas, mesmo com os conhecimentos limitados na área. “Foi incrível porque eu não sabia de nada, tinha o nível de Ensino Médio, mas estava com gente disposta a me ensinar”, explica.

No fim das contas, a experiência criando uma ONG na cidade-natal e os trabalhos voluntários que realizava chamaram a atenção do comitê de seleção. Como Karina faz questão de ressaltar, só conseguiu um resultado positivo ao se dedicar àquilo que a interessava. A candidatura tem de dizer muito sobre o candidato, ainda que as respostas fujam do padrão. “Em uma das perguntas de Yale, eles perguntavam o que me motivava. Eu falei de um vídeo do Shia LaBeouf [ator americano] gritando ‘just do it’”.

E o candidato que já fez de tudo?

O segredo para uma boa redação vem, portanto, de uma boa história e que diga muito sobre a trajetória do candidato. “A essay não pode ser vaga. O seu amigo tem que pegar aquele texto e pensar ‘nossa, isso aqui é muito Gustavo’”, aponta Gustavo. E daí vem a dificuldade, já que o processo exige muita reflexão sobre cada decisão do candidato. “É uma parte para a qual a gente não é preparado no Ensino Médio brasileiro, em que os textos têm que ser em terceira pessoa”, opina.

No caso de Gustavo, era difícil definir um perfil fechado para apresentar na redação, já que o estudante carioca tinha interesses bastante diversos. “Eu sou altamente envolvido com tudo que se pode imaginar”, resume ele, que estudou sempre em escolas públicas. “Já participei de simpósio científico, co-fundei cursos de ciências da computação, fiz estágio, simulação da ONU, dei tutoria”. Com uma lista extensa de atividades, Gustavo destacou tais características e como elas se encaixavam no perfil das instituições americanas – onde o currículo pode abarcar majors e minors em diferentes campos do conhecimento.

A essay não pode ser vaga. O seu amigo tem que pegar aquele texto e pensar ‘nossa, isso aqui é muito Gustavo

Sabendo da estrutura precária das escolas públicas e disposto a mudar esse cenário, ele passou a se envolver em projetos ligados à educação. Ainda no Ensino Médio, Gustavo foi um dos participantes do Village to Raise a Child, projeto de Harvard para identificar e premiar jovens empreendedores fazem a diferença na comunidade em que vivem. Seu objetivo, que ele pretende levar adiante na carreira, é melhorar a educação no Brasil e criar mais oportunidades para os estudantes de escolas públicas. “Essa é uma meta que eu ponho como independente da carreira que eu escolher, porque desejo impactar cada vez mais gente”, diz ele.

Para passar em universidades tão renomadas, como ele destaca, não é necessário ser um gênio. “Eu me considero uma pessoa que sempre se esforçou pra fazer o melhor que podia. Independentemente da matéria, é necessário dar o seu melhor. Esse é um fator marcante”, conclui Gustavo.

 

Candidate-se ao Prep Estudar Fora

O Prep Estudar Fora, programa preparatório da Fundação Estudar para graduação, está com inscrições abertas para a turma 2017-2018 até o dia 17 de abril. O programa seleciona estudantes do terceiro ano do ensino médio que sonham em estudar nas melhores universidades do mundo e os prepara durante o seu processo de candidatura. O programa é gratuito e tem mais de 90% de aprovação.

Os interessados devem preencher um formulário de candidatura e enviar histórico escolar e outros documentos complementares através do site. Podem se inscrever estudantes que estejam no terceiro ano do Ensino Médio ou que tenham tirado um “gap year” antes de entrar na universidade.

 

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Sobre o escritor

Priscila Bellini
Priscila Bellini
Priscila Bellini é jornalista, bolsista Chevening 2018/2019 e mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London School of Economics and Political Science (LSE). Foi colaboradora do Estudar Fora em 2016 e 2017 e editora do portal em 2018.

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