InícioPós-Graduação4 dicas para quem vai fazer uma pós com pesquisa no exterior

4 dicas para quem vai fazer uma pós com pesquisa no exterior

Lecticia Maggi - 09/09/2016
Comentários:

Por Doutora Nirupama Shridhar 

A decisão de cursar uma pós-graduação stricto sensu – seja mestrado, doutorado ou PhD – já é por si só uma tarefa desafiadora. E torna-se ainda mais assustadora se a ideia for estudar em outro país, com uma cultura acadêmica totalmente diferente. Para começar, é preciso ter a consciência de que muitos desafios precisarão ser superados ao longo deste caminho.

A ansiedade é um sentimento muito comum neste processo, assim como a dúvida de como algumas situações específicas devem ser enfrentadas e quais decisões devem ser tomadas. É evidente que escolher, por exemplo, a melhor forma de comunicar-se com seu professor ou supervisor é ainda mais difícil quando não se tem referência alguma a respeito das especificidades da  cultura acadêmica do país ou da instituição.  Contudo, algumas condutas podem ajudar a minimizar esses percalços. Gostaria de compartilhar quatro sugestões básicas, com base em minha experiência pessoal, que poderão ser muito úteis para o sucesso do seu período de estudo e pesquisa no exterior.

#1 Comunique-se diretamente com seus professores, mentores ou com o pesquisador principal 

Não hesite em aproximar-se dos professores, mentores ou do pesquisador principal. Inicialmente, ficava insegura se meu supervisor não respondesse rapidamente aos meus e-mails. Mas, depois de algum tempo, eu percebi que eles são pessoas extremamente ocupadas. Nunca leve para o lado pessoal caso não receba o retorno imediato.

Se você acha que está sobrecarregado, pense novamente. Muitos professores e pesquisadores principais fazem malabarismo com seu tempo, dividindo-se entre escrever pedidos de bolsas; redigir ou supervisionar papers que estão sendo escritos; gerenciar pesquisas e direcioná-las para subvenções existentes;  supervisionar seus laboratórios; ministrar aulas;  executar as responsabilidades inerentes ao seu departamento;  e ainda transitar entre os grupos políticos (que existem em toda universidade). Portanto, aquele e-mail enviado a ele na sexta-feira à tarde, ainda estará, na segunda-feira, no final de uma pilha de mensagens e não é difícil imaginar que a resposta, por sua vez, levará alguns dias.

Uma forma de contornar esse problema, poupar tempo e evitar ansiedade é checar se seu professor sentir-se-ia confortável em recebê-lo por alguns minutos em seu escritório para algumas perguntas rápidas ou críticas. Isso foi o que eu fiz, funcionou e, inclusive, ajudou a estreitar o relacionamento com meu supervisor. Aprender a gerenciar a comunicação é uma habilidade que ajuda em qualquer situação. Esteja, portanto, certo de que assimilou essa lição.

ninguém espera que você comece uma atividade, seja ela qual for, sabendo exatamente como tudo funciona

#2 Sempre peça ajuda

Quando entrei pela primeira vez em um laboratório, resisti muito em pedir ajuda sobre como usar as ferramentas estatísticas, com as quais até então eu nunca havia tido contato. Considerava isso a maior dificuldade de todos os tempos. Mas, quando eu finalmente deixei de ser resistente nesse sentido, aprendi que ninguém espera que você comece uma atividade, seja ela qual for, sabendo exatamente como tudo funciona. Foi então que minha pesquisadora chefe apontou que existe uma curva de aprendizado normal e colocou à disposição um cientista sênior para me apoiar. Essa atitude me ensinou não só que aprender é parte do processo, mas também que quando se pede ajuda está subentendido que você já tem as habilidades necessárias para concluir a tarefa que lhe foi atribuída.

Sim, é desconfortável dizer que não sabe. Mas, nesse caso, é preciso fazer as pazes com o desconforto e perguntar! Por exemplo, se não tem certeza do que está sendo solicitado, peça por um modelo. Ou melhor, fale com outra pessoa do laboratório que anteriormente tenha realizado essa tarefa, ela lhe dará algumas dicas. Uma vez que você explique educadamente que se trata de algo novo, toda a ajuda que precisa lhe será oferecida. Saiba que muitos professores têm um profundo cuidado com seus alunos e querem promover um ambiente que realmente viabilize o aprendizado. Buscar ajuda necessária explicita sua vontade de aprender.

#3 Aproxime-se de outras pessoas e participe de atividades de lazer

Esteja em contato constante com outros estudantes internacionais. Explore comitês de diversidade, grupos de defesa e assine newsletters do departamento. Na minha universidade, por exemplo, existem grupos que conectam os estudantes de pós-graduação que estão em minoria, assim como serviços exclusivos para alunos de outros países, diversos clubes e eventos do campus, todos criados para integrar e celebrar a diversidade cultural. Também é igualmente importante expandir os horizontes, desenvolvendo novos interesses e hobbies. Participar de uma liga esportiva ou de um grupo é uma maneira divertida de fazer novas amizades e conhecer pessoas afins. Como a carga horária do curso geralmente é muito intensa, é crucial “despressurizar” tendo uma vida social e ativa fora do laboratório.

É crucial “despressurizar” tendo uma vida social e ativa fora do laboratório

#4 Faça novos contatos dentro da sua área de atuação

Em uma pós-graduação, as aulas, o trabalho no laboratório e os eventos acadêmicos não são as únicas atividades necessárias . Desde o início é preciso olhar à sua volta e perceber o que pode ser adequado a você. Muitos estudantes cometem o erro de procurar trabalhos no último momento. Inscrever-se em feiras ou eventos de apresentação de oportunidades de trabalho, dentro da universidade, pode ser conveniente até mesmo se você não estiver efetivamente à procura de uma posição.

Encontre as bolsas de estudo disponíveis em sua área: muitas agências federais e estaduais aceitam estagiários em seus projetos, assim como as entidades sem fins lucrativos admitem voluntários. Algumas oportunidades são a porta de entrada e permitem expandir sua rede de contatos e construir um currículo que tenha aplicabilidade na vida real. Outra opção para desenvolver uma rede de contatos em sua carreira é participar de sociedades profissionais, identificar associações locais e regionais para relacionar-se de forma ativa e inscrever-se em eventos abertos para estudantes. Esse tipo de atividade pode ser a chance de você enxergar onde gostaria de estar quando concluir os estudos.

Claro que na minha experiência pessoal enfrentei muitos desafios, mas eles me fizeram perceber que eu não estava sozinha.  Centenas de estudantes como eu estavam no mesmo barco e sobrevivendo em novos ambientes acadêmicos. Lembre-se que você está ingressando em uma cultura acadêmica diferente da sua, por isso, esteja disposto a compreender uma perspectiva diferente e, acima de tudo, preparado para vivenciar novas experiências.

 

Sobre a Autora
A Doutora Nirupama Shridhar nasceu na Índia e é atualmente pesquisadora de saúde pública americana, professora na universidade Seattle Central Community College e  colaboradora convidada do Editage Insights, portal de educação responsável por sediar webinários e workshops para pesquisadores e estudantes.

 

Leia também:
Corte no Ciência sem Fronteiras também afeta pesquisadores
Na graduação em Stanford, baiana pesquisa vacinas para o Zika Vírus e HIV
Nos EUA, estudantes podem transformar sua pesquisa em negócios

O que você achou desse post?

Sobre o escritor

Lecticia Maggi
Lecticia Maggi
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduada em Gestão de Negócios pelo Senac-SP. Foi editora do Estudar Fora entre 2014 e 2016. Atualmente, é coordenadora de comunicação no Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), que tem como um de seus objetivos ajudar a qualificar o debate educacional no país.

Artigos relacionados