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O impacto do surto de coronavírus no mundo do MBA

Gustavo Sumares - 16/04/2020
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Não poderia ser diferente: a pandemia de coronavírus já promove efeitos significativos nos programas de MBA. Confira abaixo as disrupções que vêm surgindo e como as escolas estão respondendo a essas questões. Tenha em mente que as notícias mudam a cada dia. Apesar da bagunça, a crise também traz oportunidades, tanto para estudantes quanto para o setor.

1 – Alunos que estão no segundo ano do curso

A principal questão que incomoda current students é o fato de aulas, eventos sociais, de networking e de recrutamento presenciais terem sido cancelados. Muito do processo de aprendizado do curso está justamente nas interações, discussões e convivência entre colegas de backgrounds, culturas e experiências diferentes. Como as reuniões pessoais não podem ocorrer para evitar aglomerações e, consequentemente, a propagação da COVID-19, os alunos estão se sentindo frustrados e lesados financeiramente.

Mais de 700 estudantes do MBA de Stanford assinaram uma petição para exigir uma redução da tuition em 80% neste semestre, alegando que a experiência online não chega nem perto da presencial, tomando como base o valor do investimento em programas online equivalentes.

Anteriormente à petição, a escola havia se posicionado no sentido de permitir que alunos peçam um deferral, ou seja, posterguem o semestre atual para agosto na expectativa de que as aulas presenciais voltem a acontecer a partir dessa data, negando uma redução nos valores.

Outras universidades

Os quase mil alunos de Wharton que também se manifestaram em um abaixo-assinado
endereçado ao Dean sugerem a abertura de discussões com a comunidade para que se
chegue a alguma conclusão justa sobre o assunto.

Por causa das restrições de viagem, Harvard cancelou o componente internacional de um de seus cursos mais famosos, o FIELD Global Immersion (FGI), que inclui a realização de um projeto fora do país. A escola anunciou que espera fazer um ajuste de USD 5,000 para cada um dos alunos afetados.

Summer internships

Alguns summer internships – o estágio de verão que a grande maioria dos alunos realiza
entre o primeiro e o segundo ano de curso – têm sido prejudicados ou cancelados. Entretanto, empresas como o Google mudaram o formato da experiência, utilizando-se da
tecnologia para que os estagiários trabalhem e se relacionem digitalmente.

Esse é, sem dúvida, o principal aprendizado até então para escolas e empresas. O mundo virou de cabeça para baixo por causa da pandemia e, se a disrupção digital em todos os segmentos da economia era uma tendência, de uma hora para outra virou realidade. A necessidade de reinvenção imediata das escolas tem sido um desafio, mas elas estão trabalhando para recriar a experiência do MBA com base nas novas regras de convívio social.

2 – Candidatos que já receberam a oferta para iniciar o curso no meio do ano

Quem já tem uma oferta na mão se questiona se deve solicitar um deferral para postergar o início do programa para o próximo ano. Apesar de ser uma possibilidade, as escolas terão que balancear esses pedidos para que não prejudiquem a disponibilidade de lugares no ciclo seguinte, de 2021-22. Portanto, você deve ter outros motivos fortes para argumentar a favor do seu deferral, além da questão do surto em si ou da sua frustração caso o primeiro semestre seja online, para aumentar suas chances de consegui-lo (como, por exemplo, impossibilidade de tirar o visto a tempo).

Aqueles que foram afetados por causa de restrições financeiras relacionadas à alta do dólar, por exemplo, podem tentar negociar ajuda financeira junto à escola. Listas de espera tendem a andar mais rapidamente dada a situação crítica de alguns estudantes incapazes de iniciar o programa.

3 – Candidatos do Round 3 e alunos que estão pensando em aplicar no próximo ciclo

O Round 3, que sempre teve um certo estigma de maior competitividade pelo fato da turma estar quase totalmente formada nesse estágio do ciclo de applications, agora pode ser considerado como alternativa ainda viável devido às questões mencionadas
anteriormente.

Além disso, muitas escolas estão oferecendo conditional offers – aceitam candidatos mesmo sem as notas de GMAT e de TOEFL (já que os testes presenciais foram
cancelados), com a condição de que façam as provas e enviem os escores assim que
possível.

Tanto o GRE quanto o TOEFL estão sendo disponibilizados em casa – algo que pode ser visto como uma vantagem para quem fica nervoso no ambiente formal de testes. O GMAT espera disponibilizar o exame por meio digital, em casa, na metade de abril. Outras
escolas ampliaram as opções de waivers (isenção das notas dos testes) – agora, uma das
alternativas ao GMAT é atingir uma nota mínima em cursos online específicos dentro de um
determinado período de tempo, por exemplo.

Mudanças de cronograma

É grande a possibilidade de alteração nas datas do próximo ciclo de applications – esperamos deadlines iniciais para 2020-21 mais tardias como um reflexo da extensão do
Round 3 de 2019-20. O receio de contrair uma dívida em dólar tem assustado candidatos
brasileiros, mas há dois pontos a serem considerados:

  1. Justamente pelo momento de incertezas, é provável que a competitividade no ciclo de 2020-21 seja menor. Ao mesmo tempo, com o desemprego e a crise esperados no ano que vem, a tendência futura é uma maior procura por MBAs no exterior. Se o movimento observado em outros períodos de crise se repetir, a menor taxa de empregos e oportunidades locais incentiva a saída do país em busca de qualificação e aceleração da carreira.
  2. Se você tem interesse e/ou background em STEM (acrônimo de Science, Technology,
    Engineering and Math), pode ser interessante considerar programas que oferecem MBAs específicos ou especializações nessa área. Cursos que possuem o selo de “STEM designated programs” do governo dos EUA permitem que você permaneça nos país por até 3 anos após a formatura. Pode ser uma maneira de mitigar o empréstimo em dólar se você recebe na mesma moeda – assim, a preocupação com a flutuação do câmbio
    será, pelo menos temporariamente, menor. Além disso, esse tipo de curso permite um foco e especialização mais profundos do que programas generalistas, o que é cada vez mais valorizado em mercados ascendentes como tecnologia e biotecnologia. Exemplos de escolas de primeira linha que passaram a oferecer STEM MBA Programs são: Harvard, Duke Fuqua, Berkeley Haas, MIT Sloan e Virginia Darden.

Sem dúvida, momentos de crise geram situações inesperadas e, muitas vezes, negativas. Mas também criam oportunidades de mudança, evolução, e inovação – o mundo precisará, mais do que nunca, de líderes de negócio fortes e conscientes durante e após o surto.

Sobre a autora

Daiana Stolf é cientista por formação e escritora e coach por paixão. De mestre pela Universidade de Toronto (Canadá) a aluna de Gestão Estratégica na Universidade de Harvard (EUA), passando por cientista-doutoranda da EPFL (Suíça), em 2011 descobriu o prazer de guiar brasileiros curiosos e determinados a expandir seus horizontes através de cursos de pós-graduação nas melhores universidades do mundo. Ela é co-fundadora da TopMBA Coaching.

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Sobre o escritor

Gustavo Sumares
Gustavo Sumares
Gustavo Sumares é o editor do Estudar Fora. Jornalista, já escreveu sobre tecnologia e carreira.

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