Por Beatriz Rezende
Sou a Beatriz Rezende, participei da turma do Prep Program em 2024, fui colunista do Estudar Fora e fui aprovada na Universidade de Notre Dame com uma bolsa de estudos que cobre mais de 96% dos meus custos totais. Nesse texto, quero falar sobre minha jornada até esse feito: o que mais fez diferença no processo, o que eu faria diferente, os momentos mais desafiadores, como estou me preparando para Notre Dame e o que mais me anima sobre essa nova (e tão sonhada) fase da minha vida .
O que mais fez diferença no processo?
O que sustentou minha application não foi uma única conquista brilhante nem uma epifania repentina sobre quem eu era, mas sim a soma de pequenos compromissos e apoios constantes. O suporte individualizado que recebi da minha application advisor do Prep, especialmente nas revisões das minhas essays, foi crucial. Cada detalhe importava: uma frase que ganhava força com uma palavra trocada ou uma transição que deixava o raciocínio mais fluido.
Ter alguém com experiência no processo lendo minhas essays com olhos atentos e empáticos fez com que eu me sentisse segura para enviar meus textos sabendo que eles estavam claros e, mais importante, fiéis à minha história. Essa é uma dica que não posso deixar de dar: Se inscreva para o Prep para poder contar com mentores experientes. Não porque eles vão “melhorar” você, mas porque eles podem te ajudar a se comunicar melhor com quem está do outro lado da leitura.
Outro ponto fundamental foi a comunidade do Prep. Estar cercada por outras pessoas que estavam passando exatamente pelo mesmo turbilhão de emoções me trouxe consolo e força, especialmente porque não é comum que tenham muitas outras pessoas nas nossas próprias escolas passando por esse processo. Em momentos em que eu duvidava de mim, bastava conversar com alguém do Prep para perceber que não estava sozinha.
Por último, meu planejamento pessoal fez toda a diferença. Desde o início, criei uma agenda com todas as deadlines, tarefas semanais e lembretes. E a cumpri religiosamente. Ter um cronograma bem claro me salvou em fases de exaustão porque eu já não precisava gastar energia pensando no que vinha depois, estava tudo lá. Se eu tivesse que dar um conselho prático, seria: organize-se desde o início. O caos vai chegar de qualquer forma mas com um bom sistema você não afunda com ele.
O que eu faria diferente?
Agora eu que olho para trás, vejo com clareza algumas decisões que eu teria tomado de forma diferente. A primeira delas seria aplicar para menos faculdades. No desespero de garantir uma vaga, eu me inscrevi em mais de 20 universidades. A consequência? Uma sobrecarga imensa de essays, deadlines e taxas emocionais. Aplicar para tantas faculdades não aumentou significativamente minhas chances, só aumentou minha ansiedade. Se eu pudesse refazer, escolheria com mais cuidado umas 18 a 20 universidades que realmente combinassem comigo, priorizando qualidade na pesquisa e nas aplicações em vez de quantidade.
Também teria me comparado menos. Durante meses, vivi achando que só passaria se me encaixasse em um perfil específico — geralmente baseado nos colegas que já tinham sido aprovados. Achava que, se minha trajetória fosse menos “impactante” ou “inovadora” do que a deles, não teria chances. Isso me fez duvidar da minha história e até tentar moldá-la a algo que não era eu. Só mais tarde entendi que há espaço para todos os tipos de histórias e que o mais poderoso que você pode fazer é ser coerente e verdadeiro com a sua.
Outra coisa que aprendi com certa dor foi a não pedir opinião demais. No início, queria mostrar todas as minhas essays para todos os meus peers, buscando sempre aquele comentário que traria “a grande ideia”. Só que o excesso de feedback começou a me afastar da minha própria voz. Um texto bem revisado não é aquele que agrada a todo mundo, é o que traduz com clareza quem você é. A dica que deixo aqui é: selecione bem quem vai revisar seus materiais. Duas ou três opiniões boas são mais valiosas do que dez que te deixam perdida.
Por fim, eu teria cuidado melhor de mim. Durante o processo de application, abandonei completamente o cuidado com a minha alimentação e parei de me movimentar. Meu corpo sentiu, minha mente também. O processo já é desgastante por si só, negligenciar minha saúde só aumentou o peso. Hoje, vejo que manter uma rotina com caminhadas e refeições saudáveis teria me ajudado a manter a clareza mental. Então, se posso te convencer de algo: se cuide. Comer direito e se exercitar também é se preparar para sua futura carta de aceitação.
Momentos mais difíceis
O processo de application exige muito mais do que preencher formulários. Ele exige que você se olhe com profundidade e isso, muitas vezes, dói. Escrever minhas essays foi um dos maiores desafios. As perguntas pareciam simples, mas tocavam em lugares profundos: “Quem é você?”, “O que te move?”, “Como você imagina seu futuro?”, eram questões que nem sempre eu tinha uma resposta clara. Eu passava dias travada, tentando entender o que de mim valia a pena colocar no papel. No fim, percebi que as respostas certas não eram as mais impressionantes, eram as mais autênticas.
Outro momento especialmente doloroso foi lidar com as rejections. Foram mais de 20. Cada e-mail começando com “We regret to inform you…” machucava um pouco mais. Porém, nenhuma doeu tanto quanto a da minha early. Receber aquele “não” me fez duvidar de todo o resto. Chorei (por semanas), me questionei, quis desistir (inclusive, quase mandei um email para o time do Prep oficializando essa “decisão”). Graças ao apoio da minha mãe, eu sobrevivi e continuei a jornada. Com isso, aprendi que uma rejeição não define sua trajetória. Seu valor não é determinado pelo nome da faculdade que te aceitou (ou que te rejeitou).
Além disso, foi difícil lidar com pessoas ao meu redor que me desencorajavam. Ouvi várias vezes que o meu perfil não era “bom o suficiente”, que minhas conquistas eram “fracas” e que “nem por um milagre eu passaria”. Essas palavras ficaram martelando na minha cabeça e, em alguns dias, pesavam mais do que o meu sonho de estudar fora. O que me manteve firme foi me cercar de quem acreditava em mim — mesmo que fosse uma pessoa só. Então, se você está lendo isso e se sentindo desmotivado por causa de quem te cerca, saiba: você não precisa convencer o mundo inteiro, só precisa continuar.
Aplicar para financial aid também foi um processo muito sensível. Preencher o CSS Profile e ver o valor do meu financial need me causava ansiedade. Eu sabia que, para muitas universidades, aquele número enorme podia significar um “não”. Porém, eu estava pedindo a quantia necessária para que eu pudesse estudar nessas faculdades e, mesmo que o sistema fosse injusto com estudantes internacionais, continuei porque eu acreditava que uma universidade certa para mim existia — e eu a encontrei!
Houve também um momento em que eu me perdi tentando entender qual era a “narrativa” da minha application. Eu tinha várias atividades legais, experiências diversas, mas não via um fio condutor. Passei semanas tentando forçar uma história até que percebi que minha história já existia, só precisava ser contada com clareza e intenção. Às vezes, a gente acha que precisa de um grande enredo, mas o que as universidades querem é ver coerência. Minha dica aqui é: não invente, descubra. Sua narrativa já está em você.
Como estou me preparando para Notre Dame
Depois de tanto tempo esperando esse momento, agora estou fazendo de tudo para começar esse novo ciclo com o pé direito. Estou trabalhando em dois empregos durante esses meses livres para juntar dinheiro. Para estudantes internacionais, qualquer renda que você consiga antes de ir é valiosa (especialmente porque temos restrições de trabalho nos EUA). Então, se você está prestes a embarcar: aproveite esse tempo livre de forma produtiva.
Além disso, tenho conversado com estudantes brasileiros e americanos de Notre Dame. Quero entender como funcionam as aulas, os professores, as oportunidades de pesquisa, os clubes e, claro, a cultura do campus. Falar com quem já viveu aquilo me ajuda a chegar mais preparada e menos ansiosa. Estou também aplicando para on-campus jobs já que isso faz parte do meu pacote de auxílio financeiro e quero garantir que tudo esteja resolvido antes de agosto.
Talvez o mais importante de tudo: estou aproveitando minha família. Sei que quando embarcar, vou sentir saudade de coisas simples — um café da manhã com minha mãe, um papo bobo com meu irmão, um domingo em casa. Então, tenho tentado viver tudo com presença. Se você ainda está no Brasil, valorize esses momentos. Eles fazem parte da sua história tanto quanto qualquer carta de aceitação.
O que mais me anima sobre esse novo ciclo
O que mais me emocionou sobre Notre Dame foi o acolhimento. Desde o início, me senti vista. Recebi uma bolsa altíssima, os integrantes do Admissions me conheciam por nome, recebi uma carta escrita à mão de um admissions officer, fui convidada para participar do programa de honra do Mendoza College of Business ainda no meu primeiro ano de faculdade e muito mais! Pela primeira vez, senti que alguém lá fora olhava pra mim e dizia: “Queremos você aqui”. Isso me marcou profundamente, especialmente porque nem sempre me senti assim na minha cidade natal.
Também estou animada com tudo que vou poder acessar: laboratórios modernos, eventos incríveis, professores renomados. Porém, acima de tudo, estou animada por ter a chance de me reinventar. Conhecer pessoas de diferentes lugares, viver em outro país, experimentar novos jeitos de pensar e de ser é assustador? Sim, mas é lindo também. Por fim, confesso que mal posso esperar para ver a neve pela primeira vez!
No geral, meu processo de application não foi perfeito e nem sempre foi prazeroso. Contudo, ele foi necessário. E eu não digo que ele foi necessário apenas para a minha aceitação em Notre Dame, mas também para a transição mais difícil da minha vida (até agora): fim da adolescência e início da vida adulta. Sem os desafios e o pesado processo de autoconhecimento que a application te obriga a enfrentar, eu provavelmente não conseguiria me chamar com tanta convicção de adulta.
Veja aqui todos os textos publicados por Beatriz no Estudar Fora.
Faça sua pré-inscrição no Prep Program, preparatório gratuito da Fundação Estudar para jovens que querem fazer graduação no exterior. Veja aqui!