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Como é estudar na Arábia Saudita? Brasileiro conta sua experiência no país

Priscila Bellini - 03/02/2017
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Famosa pela produção massiva de petróleo, a Arábia Saudita está longe de ser um destino comum para brasileiros. Logo de cara, o carioca Rafael Lavrado hesitou em se candidatar a um programa de mestrado por lá. Afinal, além de um destino exótico, era a primeira turma da KAUST (King Abdullah University of Science and Technology) fundada em 2009.

No ano anterior ao início das atividades, 2008, a KAUST recorreu às melhores instituições do mundo para selecionar alunos em áreas de engenharia e tecnologia. No Brasil, por exemplo, organizou eventos de divulgação na USP e na Universidade Federal do Rio Janeiro. Foi lá que Rafael, então estudante de engenharia eletrônica e de computação, soube das bolsas oferecidas pela KAUST, que pretendia atrair  para estudar na Arábia Saudita os formandos com melhor desempenho.

A proposta era tentadora, desde o início do processo seletivo. Depois de preencher uma application com seus dados, Rafael foi chamado para uma entrevista em São Paulo, com todas as despesas pagas. A etapa final, formalizando o convite para estudar por lá e apresentar os projetos, aconteceu na Cidade do México, novamente com apoio financeiro. “O rei Abdullah investiu 20 bilhões de dólares na faculdade e queria chamar os melhores alunos e professores no mundo. Era uma chance que só apareceria uma vez na vida”, conta Rafael.

O rei Abdullah investiu 20 bilhões de dólares na faculdade e queria chamar os melhores alunos e professores no mundo. Era uma chance que só apareceria uma vez na vida

Para garantir que os alunos da primeira turma topassem a empreitada e fossem para o país, as vantagens oferecidas chamavam a atenção. Durante um ano antes de embarcar, Rafael recebeu uma bolsa “pré-curso” de 1200 dólares mensais. “Era uma ajuda de custo para terminar meu ensino com tranquilidade financeira”, ele explica. Uma vez na Arábia Saudita, o valor subiu para 1700 dólares, e Rafael passou a viver na acomodação oferecida pela KAUST, um apartamento com três andares. “Quando comecei a receber a bolsa da faculdade, foi mais do que suficiente para me sustentar por lá. Eu conseguia me manter sem problemas com uns 200 dólares”.

Como é viver na Arábia Saudita

Ao descrever a KAUST, o carioca Rafael Lavrado vai direto ao ponto. “A universidade foi criada para você não sair de lá por nada”, ele sintetiza. Em outras palavras, na cidade universitária existe de tudo: desde academias até uma praia particular. Reunindo mais de 60 nacionalidades nas primeiras turmas, o esforço era de tornar o ambiente o mais ocidentalizado possível.

Isso porque, para a população em geral, a Arábia Saudita adota uma postura bastante conservadora. No país, por exemplo, o cinema é estritamente proibido, mas foi liberado dentro dos limites da KAUST. A proibição de que mulheres dirijam também cai por terra dentro da cidade universitária, em cujas praias particulares as alunas estão liberadas a usar biquínis. A KAUST é a única instituição de ensino superior do país em que homens e mulheres são reunidos em turmas mistas. 

A liberdade de dentro do Campus, porém, não oculta o clima diferente do resto do país, como conta Rafael. “Para ir da cidade mais próxima, Jeddah, para a faculdade, tinha de pegar uma estrada no meio do deserto, exclusiva da KAUST. Tinha segurança reforçada, com soldados e tanques”, diz ele. Cidades mais conservadoras, como a capital Riyad, também exigiam cuidados especiais quanto ao comportamento. “Se você for jantar com alguém, em casal, tem que mostrar a certidão de casamento caso a polícia religiosa te pare”.

Experiência acadêmica na Arábia Saudita

Como a intenção do rei Abdullah era, desde cedo, atrair um time de destaque, a KAUST atraiu professores de lugares como o MIT e Cornell. “O ensino é diferente do Brasil. Os professores apresentam a matéria e os alunos ficam mais tempo se virando sozinhos”, resume Rafael.

O professor escrevia no quadro e tinha mais dois telões disponíveis para exibir outras coisas. Depois da aula, ele escaneava a matéria e enviava aos alunos

Destaca-se na universidade a infraestrutura, graças ao investimento realizado desde o início em sua construção. Como o brasileiro explica, KAUST era “outro mundo”. “O professor escrevia no quadro e tinha mais dois telões disponíveis para exibir outras coisas. Depois da aula, ele escaneava a matéria e enviava aos alunos”. 

Fora de sala de aula, a instituição estimula os alunos a participarem de summer jobs – estágios remunerados em empresas estrangeiras. Rafael, por exemplo, embarcou para Nova Iorque para trabalhar na IBM, no meio do mestrado, que dura cerca de dois anos. No fim do curso, muitos estudantes recebem propostas para trabalhar na Arábia Saudita, em especial na empresa estatal de petróleo.

Processo seletivo para estudar na Arábia Saudita

Hoje em dia, os interessados em estudar na Arábia Saudita devem passar por um processo de seleção mais rígido que o da primeira turma – e com menos benefícios. Agora, a bolsa inclui “apenas” os 1700 dólares mensais, a acomodação e as passagens de ida e volta.

São exigidos testes padronizados de inglês (como o TOEFL), cartas de recomendação de professores, carta de motivação e histórico escolar. “Você tem de estar entre os melhores do seu curso e mostrar que tem interesse em alguma pesquisa específica desenvolvida por lá”, destaca Rafael.

 

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Sobre o escritor

Priscila Bellini
Priscila Bellini
Priscila Bellini é jornalista, bolsista Chevening 2018/2019 e mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London School of Economics and Political Science (LSE). Foi colaboradora do Estudar Fora em 2016 e 2017 e editora do portal em 2018.

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