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Veja o que professores de Yale estão lendo durante a quarentena

Gustavo Sumares - 13/04/2020
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Diante da importância de se ficar em casa esses dias, é essencial encontrar maneiras interessantes de passar o tempo entre quatro paredes. Uma dessas maneiras que vem mostrando sua eficácia há séculos é a leitura. E pensando nisso, a universidade Yale montou uma lista com os livros que alguns de seus professores estão lendo durante a quarentena.

Abaixo, reproduzimos algumas das sugestões mais interessantes que eles deram. Alguns deles são livros que falam sobre outras epidemias e momentos críticos da história da Europa — o que faz sentido na nossa situação atual. Outros, no entanto, se relacionam de maneira menos direta à nossa realidade, e podem ser uma boa pedida para quem quer pensar em outra coisa durante esses dias.

Uma observação: sempre que possível, informamos os títulos dos livros como eles foram lançados no Brasil, para facilitar sua busca caso você se interesse por algum deles. Confira:

Os livros que professores de Yale estão lendo durante a quarentena

Alice Kaplan, professora de Francês

The Betrayal of the Duchess — de Maurice Samuels

O livro conta a história da Duquesa de Berry, que vivei no século 19 e tinha aproximadamente 1,40 de altura mas, mesmo assim,montou um exército para restituir a dinastia Bourbon ao poder na França. Entre os atrativos do livro está uma descrição precisa da epidemia de cólera que assolou a França em 1832.

David Blight, professor de História da América

Folhas de Relva — Walt Whitman

Collected Essays — William James

Os livros de James e Whitman são livros de cabeceira do professor, mas em especial ele tem achado os poemas de Whitman relevantes para os dias de hoje. Particularmente, ele destaca os poemas “Travessia da Barca do Brooklyn” e “Da Última Vez que Lisases Floriram no Pátio”. Sobre os ensaios de William James, ele os considera importantes por sua discussão sobre a importância do pragmatismo para atingir uma mente aberta, e destaca a frase “O único inimigo de qualquer uma das minhas verdades é o resto das minhas verdades”.

Robert Shiller, professor de Economia

Pobreza e Fomes: Um Ensaio sobre Direitos e Privações — Amartya Sen

Shiller recomenda o ensaio do professor de Harvard Amartya Sen porque, embora ele fale sobre fome (e não sobre epidemias), ele ajuda a entender como esses problemas afetam de maneira desproporcional os mais pobres e socialmente marginalizados. “Espero que a crise atual nos leve a repensar os valores da nossa sociedade”, comenta Shiller.

Frances McCall Rosenbluth, professora de Ciência Política

Anthony Trollope, Elizabeth Gaskell e George Eliot

Os três autores citados acima são as leituras que Rosenbluth vem fazendo. São escritores ingleses do século 19, todos os quais tiveram obras traduzidas para o português (George Eliot, aliás, é o pseudônimo de Mary Ann Evans, que usava um nome masculino para que seus trabalhos fossem levados à sério pela crítica da época). OS livros “são o mais próximo de terapia que eu consigo imaginar”, comenta Rosenbluth.

Priyamvada Natarajan, professor de Astronomia

Decamerão — Giovanni Boccacio

O professor de astronomia de Yale recomenda, curiosamente, um livro italiano do século 14 como leitura para esse momento. E o livro é mais atual do que você pode imaginar num primeiro momento! Natarajan descreve-o como “uma coleção de 100 histórias da Itália do século 14 contadas por sete mulheres e três homens que estavam se resguardando (ficando em casa!) em uma vila perto de Florença para escapar da Peste Negra”. É, portanto, um livro sobre a importância das histórias para momentos de isolamento social, o que o torna uma recomendação particularmente adequada.

Paul Freedman, professor de História

The Black Death: A Personal History — John Hatcher

Ainda sobre a Peste Negra, Freedman diz estar relendo um livro que ele próprio recomenda em suas aulas de História da Idade Média. Trata-se de uma versão levemente ficcionalizada da chegada da Peste Negra em uma aldeia inglesa durante os anos de 1348 e 1349. Apesar dos séculos que nos separam desse evento, o professor de História diz identificar vários elementos comuns entre aquela época e a nossa: “o medo de ouvir falar naquilo, primeiro longe depois mais perto, esperança e depois negação, respostas religiosas e ao mesmo tempo uma ousadia de viver pelo agora”. Ele nota, porém, que com 80% de taxa de mortalidade, a Peste Negra era muito mais grave.

Laurie Santos, professora de Psicologia

The Stoic Challenge — Bill Irvine

O livro do filósofo Bill Irvine, que a professora Santos diz estar relendo, tem como tese principal a ideia de que podemos ver as coisas ruins da nossa vida como um desafio a ser superado e não como uma crise a ser suportada. Ele recupera pensamentos dos filósofos estóicos da Grécia Antiga para nos ajudar a enxergar as oportunidades de crescimento que cada dificuldade traz consigo.

David Skelly, professor de Ecologia

The Borgias: The Hidden History — G.J. Meyer

Skelly diz que usa leituras históricas, mais do que ficção, quando quer escapar da realidade. E nesse sentido decidiu ler a história da família que tenta assumir o controle da Espanha durante o Renascimento. “Apesar dos tumultos e da adversidade [fomes, pragas, guerra, traições políticas], as pessoas dessa época eram notavelmente resilientes e, francamente, insuperáveis”, opina.

Jacob Hacker, professor de Ciência Política

Against the Grain: a Deep History of the Earliest States — James C. Scott

O livro que o cientista político Jacob Hacker diz estar lendo nesse momento conta, com bases históricas, o que é possível saber sobre as primeiras organizações estatais humanas. Ele busca pela resposta a perguntas como “por que os homens abandonaram a caça e se tornaram sedentários dependentes de agricultura?”. Segundo Hacker, o livro também fala sobre como essas primeiras comunidades eram suscetíveis a doenças e epidemias.

Crystal Feimster, professora de Estudos Afro-Americanos

“Uma Arte” — Elizabeth Bishop

Além dos textos que tem usado para preparar suas aulas, Feimster diz que só tem tido tempo para reler alguns de seus poemas favoritos. Entre eles, ela destaca “Uma Arte”, da poeta estadunidense do século 20, Elizabeth Bishop. Em particular ela ressalta os seguintes versos do poema (reproduzidos abaixo na tradução de Paulo Henriques Britto):

“A arte da Perda não é nenhum mistério;

tantas coisas contêm em si o acidente

de perdê-las, que perder não é nada sério

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,

a chave perdida, a hora gasta bestamente,

A arte de perder não é nenhum mistério”.

David Evans, professor de Ciências Planetárias e da Terra

Yale Needs Women: How the First Group of Girls Rewrote the Rules of an Ivy League Giant — Anne Gardiner Perkins

A Better Planet: 40 Big Ideas for a Sustainable Future —Daniel Esty

Epidemics and Society: From the Black Death to the Present — Frank Snowden

Evans diz estar lendo três livros ao mesmo tempo, e todos eles são adequados, em sua visão, ao momento presente. O primeiro conta a história de um grupo de moças que lutou para trazer mais mulheres a Yale; o segundo elenca ideias que podem tornar o futuro mais sustentável e o terceiro é um compilado de histórias de epidemias, e de como elas afetaram a sociedade.

Katie Trumpener, professora de Inglês

A Jewish Refugee in New York: Rivke Zilberg’s Journal — Kadya Molodovsky

Trumpener diz que está interessada em ler sobre a vida cotidiana durante tempos de guerra e crise. Por isso, pegou para ler esse livro levemente autobiográfico que conta a história de um refugiado judeu que chega a Nova York durante a Segunda Guerra Mundial. Com a mãe morta pelos nazistas e o pai e o irmão desaparecidos, ela chega a uma cidade que parece não se dar conta da gravidade do problema que a ascenção do fascismo representa para a Europa. A protagonista, na visão da professora, “está tentando sobreviver e seguir em frente, mas também fica brava com frequência diante do quão pouco as pessoas em volta dela sabem ou parecem se importar com a situação na Europa”.

Esperamos que essas sugestões de leitura consigam animar um pouco esses dias difíceis pelos quais estamos passando. Se você tiver mais algum livro que queira deixar como recomendação, sinta-se à vontade para mencionar nos comentários!

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Sobre o escritor

Gustavo Sumares
Gustavo Sumares
Gustavo Sumares é o editor do Estudar Fora. Jornalista, já escreveu sobre tecnologia e carreira.

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