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Por dentro de como é estudar na Caltech, a top dos rankings

Lecticia Maggi - 16/09/2015
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Meu nome é Fábio e eu sou um rising sophomore na Caltech (California Institute of Technology), ou seja, estou indo para o meu 2º ano de graduação. Resolvi escrever essa coluna para falar um pouco sobre a faculdade número um do ranking da consultoria britânica Times Higher Education (THE), mas que poucos realmente conhecem.

Temos por volta de 1.000 alunos de graduação e 1.000 de pós, muito menos que as outras universidades no topo do rankings. Desses 1000 alunos de graduação, aproximadamente 10% são internacionais e atualmente só há três brasileiros

Começando com alguns dados, a Caltech fica localizada na cidade de Pasadena, na Califórnia, apenas uma hora de carro da cidade de Los Angeles. Temos por volta de 1.000 alunos de graduação e 1.000 de pós-graduação, muito menos que as outras universidades no topo do rankings. Desses 1000 alunos de graduação, aproximadamente 10% são internacionais e atualmente só há três brasileiros.

Leia também: Saiba quais são as melhores universidades do mundo 

O campus é bem bonito, mas não é muito grande, o que acaba sendo conveniente pois chego em qualquer aula em no máximo 5 minutos. Outro fato importante é que a Caltech funciona em um sistema trimestral, não semestral como a maioria das universidades norte-americanas.

O início de tudo –  No começo do ano, todos os chamados prefrosh (novos alunos) chegam uma semana antes do início das aulas para o que rotation. Diferentemente da maioria das universidades, por termos poucos alunos temos a oportunidade de viver um pouco a cultura de todos os dormitórios, as nosssas 8 houses: Page, Lloyd, Ruddock, Fleming, Ricketts, Blacker, Dabney e Avery, e depois escolher onde queremos morar, também podendo escolher nossos roommates.

Durante esse período, somos inicialmente designados à um quarto temporário e experimentamos um pouco como é viver em cada dormitório, jantando ou almoçando em cada um deles, conversando com veteranos e indo em atividades específicas de cada dormitório. No final da rotation, cada aluno ranqueia as casas na ordem de sua preferência e, depois de analisadas as preferências de cada veterano, são alocados em algum lugar. No final das contas, é cada aluno sendo o seu próprio “Sorting Hat” do Harry Potter, muitas vezes ranqueando uma casa bem baixo como se fosse um “Sonserina não, Sonserina não…”

Como são as aulas – Terminado o divertido, mas cansativo processo de rotation iniciam-se as aulas. No começo, quase todos os alunos fazem as mesmas disciplinas: temos um currículo obrigatório (core curriculum) que envolve física, química e matemática e pelo menos uma matéria na área de humanas por trimestre.

A maioria das aulas no primeiro ano é em salas que conseguem abrigar os cerca de 250 frosh de uma só vez, mas as aulas de humanas ou aulas mais específicas costumam ter menos de 30 alunos.

Todas as disciplinas que têm grande número de alunos têm as chamadas recitations, aulas que complementam a matéria, mas que dividem todos os alunos em salas com menos de 30 pessoas. Assim, fica mais fácil tirar dúvidas.

Especificamente para matemática e física, existem dois diferentes caminhos que podemos escolher a partir do segundo trimestre: analytical ou practical. Podemos optar por nos aprofundarmos mais na teoria (analytical) ou simplesmente em fazer mais exercícios (practical). Todos os professores também tem office hours para tirar dúvidas pelo menos uma vez por semana, e antes das provas.

O mais interessante é que levamos a grande maioria das nossas provas para fazer em nossos quartos. Não há ninguém senão nós mesmos para fiscalizar se colamos ou se usamos mais tempo do que o permitido

Provas realizadas nos quartos e sem professores – Uma coisa bem especial da Caltech é o que chamamos de Honor Code: “A member of the Caltech community shall not take unfair advantage of another member of the Caltech community”. Em português, significa: “Um membro da comunidade da Caltech não deve lever vantagem injusta sobre um outro membro da comunidade”. Esse Honor Code nos trás benefícios que raramente ocorrem em outras universidades. O mais interessante é que levamos a grande maioria das nossas provas para fazer em nossos quartos. Não há ninguém senão nós mesmos para fiscalizar se colamos ou se usamos mais tempo do que o permitido. E lá esse sistema funciona e é mais conveniente tanto para os professores quanto para os alunos.

Atividades extraclasse e pesquisas – Fora de sala de aula também há bastante o que se fazer. Temos vários clubes e times esportivos, embora um pouco mais limitados do que outras universidades, porque temos menos alunos. Eu faço parte do time de tênis e de um grupo de acapella chamado Out of Context. São várias horas por semana dedicadas às duas atividades, com os treinos de tênis realizados duas horas por dia cinco  vezes por semana, enquanto o ensaio de acapella são duas vezes na semana por duas horas.

Leia também: Brasileiro conta como é dar aula no Caltech – o top dos rankings para tecnologia

Para o tênis, temos uma temporada que dura do final de janeiro até meados de maio, mas praticamos o ano inteiro. Para o Out of Context temos uma grande apresentação por trimestre, uma delas, o Love Suck, junta os grupos de acapella da Caltech com outros grupos de universidades da região, como a UCLA.

Também há quem faça pesquisa acadêmica durante o ano letivo. No entanto, na Caltech o mais comum é estudantes de graduação participarem do programa Summer Undergraduate Research Fellowship (SURF).

O SURF é um programa de pesquisa que dura 10 semanas durante o verão e geralmente é feito com algum professor da Caltech, embora possa ser feito em outra universidade. Alunos de fora também são aceitos. Para aplicar, é preciso primeiro encontrar um professor que esteja disposto a nos ter em seu laboratório, enviando emails, indo em seus escritórios ou por anúncios por parte do própro professor.

Todos eles são bem acessíveis e ficam felizes em explicar o que fazem no laboratório e, dentro do possível, te oferecer uma vaga. Depois, para completar a candidatura, são necessárias duas cartas de recomendação, e também um “proposal”, espécie de carta em que você explica o que quer fazer no laboratório. Dos alunos da Caltech, a maioria dos que aplicam é aceita e começa suas pesquisas no início do verão, logo após o fim das aulas.

Temos nossas festas, saímos com nossos amigos, vamos para a praia e todos os dormitórios organizam, uma vez por ano, fazem uma viagem para esquiar

Há vida social na Caltech? – Para terminar, uma pergunta que muitos devem ter sobre a Caltech é se nós temos “vida social”. E eu respondo que sim: temos nossas festas, saímos com nossos amigos, vamos para a praia e todos os dormitórios organizam, uma vez por ano, fazem uma viagem para esquiar. É claro que temos todas as nossas responsabilidades e passamos uma grande parte do nosso tempo estudando porque a Caltech é muito puxada, mas de vez em quando temos nossa chance de relaxar.

E em relação à comunidade de alunos é importante destacar que há vários grupos diferentes para cada tipo de pessoa e vida que queira levar, e todos respeitam as escolhas dos outros. Esse conjunto da pequena e unida comunidade, do Honor Code e de coisas como a Rotation foram alguns dos motivos pelos quais eu escolhi a Caltech. E hoje, estando aqui, tenho certeza de que foi a escolha certa!

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Fábio Arai é estudante do 2º ano de graduação na Caltech.
*Foto: Fábio no campus da Caltech / Crédito: arquivo pessoal

Leia também:
Guia gratuito para quem sonha com a graduação no exterior
Especial: histórias para te inspirar a estudar fora

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Sobre o escritor

Lecticia Maggi
Lecticia Maggi
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduada em Gestão de Negócios pelo Senac-SP. Foi editora do Estudar Fora entre 2014 e 2016. Atualmente, é coordenadora de comunicação no Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), que tem como um de seus objetivos ajudar a qualificar o debate educacional no país.

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