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Intercâmbio no Japão: conheça o dia a dia e as universidades japonesas

Mariane Roccelo - 13/11/2023
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Um intercâmbio no Japão é uma ótima oportunidade para quem busca uma experiência internacional em um país com a cultura muito diferente da nossa. Afinal, os japoneses possuem a mais alta expectativa de vida do mundo, que atualmente está em 84 anos. Para equilibrar, na economia, a participação da população mais velha com a mais jovem, o país adota algumas políticas de atração de estudantes internacionais.

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A longevidade da população é motivo de orgulho. Quem acompanhou a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Tokyo 2020, pôde ver a presença de dois octogenários levando a tocha olímpica, os ex-jogadores de beiseball Sadaharu Oh e Shigeo Nagashima. Beiseball é o esporte mais popular no Japão e queridinho entre os universitários.

Os ex-jogadores de beiseball Sadaharu Oh, Shigeo Nagashima e Hideki Matsui

Há anos, as taxas de nascimento no Japão diminuem continuamente. Para atrair uma população jovem para o país, antes da pandemia começar, o governo japonês havia estabelecido a meta de receber ao menos 300.000 estrangeiros por ano até 2020. Um dos focos principais desse projeto eram estudantes internacionais. Para isso, governo e universidades implantaram maneiras variadas de simplificar e incentivar a vinda desses estudantes.

Muitas dessas mudanças devem seguir existindo nos próximos anos. Entre as medidas adotadas, estão a ampliação da oferta de disciplinas em inglês nas universidades, criação de instituições de ensino do idioma japonês e oferecimento de bolsas de estudo federais e municipais para estudantes internacionais.

Investimentos maciços em Educação

Para quem quer conhecer um país que tem a educação como foco, o Japão pode ser um ótimo destino. No ranking de educação da OCDE, o país está acima da média de pontuação nas áreas de alfabetização, matemática e ciências. A pontuação média dos estudantes japoneses é de de 528,7, terceira maior do mundo, enquanto a média da OCDE é de 492.

Melhores épocas para intercâmbio no Japão

O ano letivo no Japão começa em abril e termina em março, com as férias de verão acontecendo em agosto. Uma das curiosidades do sistema de ensino japonês é que, nos anos da formação básica, os estudantes têm aulas de educação moral e ética, que são consideradas parte fundamental do currículo escolar.

Beatriz Bevilacqua, estudante de editoração na USP e intercambista na KUFS (Universidade de Estudos Estrangeiros de Kyoto), conta que escolheu fazer intercâmbio no Japão porque já mantinha contato com a cultura do país e as vagas eram menos requisitadas.

“Já estudava japonês há alguns anos e havia muito menos concorrência, em comparação aos países anglófonos ou europeus em geral”. A estudante conta que as aulas para a graduação eram todas em japonês, com exceção de poucas disciplinas eletivas, que eram oferecidas em inglês.

Como funcionam as universidades no Japão

Os países asiáticos são famosos por serem exigentes em relação ao sistema educacional. Beatriz conta que o ritmo na KUFS era “bem puxado, tinha sinal para indicar o início e fim das aulas, assim como os intervalos”.

Para quem queria fazer intercâmbio no Japão, a universidade aplicava uma avaliação de nível para selecionar em qual turma cada estudante entraria. “Tínhamos aula de japonês todos os dias e uma carga obrigatória de matérias eletivas”, conta Beatriz. “Nas aulas de japonês, tinha prova todo dia, e a lição de casa era imprescindível para entender o conteúdo que seria estudado nas aulas do dia seguinte”, explica.

Apesar da KUFS ter exigido muitas horas de estudo durante todo o intercâmbio, a estudante conta que a experiência no intercâmbio foi enriquecedora. “No fim, passei com ótimas notas, meu nível de fluência aumentou consideravelmente e fui aprovada no JLPT (exame de proficiência na língua) então valeu a pena”.

Programas de recepção de intercambistas

A meta de aumentar o número de estudantes estrangeiros no país estimulou uma série de universidades a incluírem ou melhorarem programas de recepção de intercambistas, que visam auxiliar, orientar e tirar dúvidas sobre a rotina e adaptação no país.

A KUFS “é uma faculdade de Letras (com licenciatura) e Relações Internacionais com um programa de intercâmbio muito forte”, explica Beatriz. A faculdade oferece uma ampla estrutura para receber os alunos estrangeiros. “Meses antes de ir eu já havia recebido várias instruções e auxílio da secretaria para encontrar acomodação e (a secretaria) até intermediou a reserva do meu translado do aeroporto”, conta.

Assim como outros países, as universidades japonesas estimulam estudantes locais a acompanharem os recém-chegados. “Eu tinha dois ‘auxiliares’, ambos estudantes da graduação em Letras – Português, que já tinham feito intercâmbio no Brasil”, conta Beatriz. A estudante conta que “eles tiraram o dia para me ajudar a resolver burocracia”, como pegar o cartão de residente, fazer seguro de saúde obrigatório, comprar bicicleta e descobrir onde ela poderia sacar dinheiro. “Foram extremamente solícitos e até hoje sou muito amiga da (na época, namorada) esposa de um deles”, conta.

Outra parte do programa de recepção da KUFS inclui atividades de socialização como eventos voltados para a adaptação dos intercambistas. “Teve um jantar chique, um churrasco informal, uma tour pela cidade”, conta beatriz.

Paralelamente, na KUFS também há a exigência de que os estudantes estrangeiros ofereçam atividades típicas para apresentar o país de origem aos japoneses. “Tive que dar uma palestra sobre o Brasil para uma turma de crianças de 6-11 anos, e todos os intercambistas tiveram que ir no dia de ‘open house’ para pais e possíveis futuros alunos, para que eles nos conhecessem”, conta Beatriz.

As cidades mais procuradas pelos intercambistas

Um dos destinos mais procurados por quem quer fazer intercâmbio no Japão é a região metropolitana de Keihanshin, formada pelas cidades de Kyoto, Osaka e Kobe. Ela está localizada em Honshu, a maior das 4 principais ilhas que formam o arquipélago japonês. A região de Keihanshin ocupa o 18º lugar no ranking QS de melhores cidades estudantis.

Nesta região metropolitana, está localizada uma das principais instituições de ensino superior do país, a Universidade de Kyoto, que ocupa o 33º lugar no ranking QS mundial. A instituição é uma das universidades japonesas que disponibilizam maior quantidade de disciplinas em inglês, e chega a oferecer cursos inteiros nesse idioma.

Outra cidade requisitada pelos estrangeiros é Tokyo, considerada a 2º cidade com melhores condições de vida estudantil, de acordo com o ranking QS de melhores cidades estudantis. Assim como Keihanshin, Tokyo está localizada na ilha Honshu. Considerada um dos principais centros financeiros do mundo, a cidade é a mais povoada do país, e abriga 10% da população japonesa.

Em Tokyo estão localizadas as chamadas roku Tokyo daigaku (6 universidades de Tokyo), consideradas a “Ivy League japonesa”. As instituições que formam o roku Tokyo daugaku são as universidades de Tokyo, Keio, Waseda, Hosei, Meiji e Rikkyo. A UTokyo (Universidade de Tokyo), é a melhor universidade do país, de acordo com o ranking THE. Na instituição, estudaram 9 dos 23 japoneses que já ganharam o prêmio Nobel.

O dia a dia em Kyoto

“Kyoto é uma cidade histórica que recebe uma grande quantidade de turistas, então a cidade em si é bem preparada para receber estrangeiros”, conta Beatriz. Antes defazer intercâmbio no Japão, a estudante conta que já tinha familiaridade com a cultura e culinária japonesa, “achei a adaptação relativamente fácil porque minha qualidade de vida lá era muito melhor do que em São Paulo”.

Beatriz conta que ia para as aulas de bicicleta e que o transporte público era “extremamente pontual”. “O que mais me fascinou era a segurança, eu voltava de bike da balada de madrugada, andava sozinha por uns becos com câmera no pescoço, via as pessoas guardando lugar em restaurantes largando o iPhone na mesa”, conta.

A sensação de segurança foi uma das características que mais conquistou Beatriz. “Só de não ter a preocupação constante que nós temos aqui com assalto, já sobrava muita energia para enfrentar os aspectos desafiadores”, como a mão de direção inglesa e dificuldades com o idioma, explica.

Outra questão que chamou atenção da estudante foi a relação dos asiáticos com os ocidentais. “O fato de que eu, branca, estava em um país em que isso não vale nada e chama atenção de forma negativa, foi ótimo para entender quão injustamente privilegiada é a minha existência no Brasil”, conta.

Outra característica que chamou atenção da estudante foi a ampla oferta de cultura em Kyoto: “o Japão valoriza muito a própria cultura sem deixar de assimilar o que é positivo e vem de fora, e eu acho isso muito legal”, considera.

“A melhor parte foi a experiência de viver o cotidiano em um país tão diferente do nosso”, conta Beatriz. Segundo a estudante, os momentos mais preciosos eram o dia a dia, “como ir ao mercado, ver mães buscando as crianças na escola, ouvir um treino de beisebol ao longe, ir ao karaokê”.

O Japão é uma das regiões do mundo onde mais ocorrem terremotos, chegando a uma média de 2 mil por ano. É raro encontrar intercambistas que passaram meses no país e que não vivenciaram algum terremoto. “A pior parte, sem dúvida, foi passar por alguns terremotos (dois pequenos e um médio) e dois tufões”, conta Beatriz.

Visto Estudantil

Para brasileiros, o Japão exige um visto estudantil que deve ser emitido através de uma instituição educacional autorizada, que pode ser universidades, escolas de idiomas ou cursos especializados em intercâmbio. O visto estudantil varia de acordo com a instituição que receberá o aluno, mas geralmente permite que os intercambistas trabalhem enquanto estudam, com um limite de horas semanais de trabalho.

No Japão, é comum estudantes trabalharem durante a formação, devido ao alto custo de vida no país.

Intercâmbio de idiomas no Japão

O Japão é um país cada vez mais preparado para a entrada de estrangeiros. Para incentivar a vinda de estudantes e profissionais internacionais, há escolas de idiomas espalhadas pelas cidades que são voltadas para todos os níveis de proficiência na língua japonesa.

Com esse mesmo objetivo, as principais universidades oferecem aulas de aperfeiçoamento e acompanhamento em japonês para os intercambistas.

Sobre o EJU – Exame de admissão unificado

O EJU (Examination for Japanese University Admission for International Students) é um teste padronizado de avaliação de conhecimentos básicos aplicado em grande parte das universidades japonesas para a admissão de estudantes estrangeiros. E se você pretende fazer intercâmbio no Japão durante a graduação, é bem provável que precise realizá-lo.

O EJU avalia as disciplinas de idioma japonês, ciências, matemática, história e atualidades do Japão e do mundo. O teste é realizado semestralmente em diversas cidades japonesas. Por meio do consulado japonês da sua região é possível se informar melhor sobre a necessidade de realização do exame.

Melhores universidades japonesas

De acordo com o ranking de melhores universidades japonesas de 2024 do THE (Times Higher Education), as 10 melhores instituições de ensino superior no país são:

  • The University of Tokyo
  • Kyoto University
  • Tohoku University
  • Osaka University
  • Tokyo Institute of Technology
  • Nagoya University
  • Kyushu University
  • Hokkaido University
  • University of Tsukuba
  • Tokyo Medical and Dental University (TMDU)

O que você precisa para fazer intercâmbio no Japão

Para quem quer fazer uma graduação no Japão, é necessário primeiro ter um passaporte válido, para poder viajar até lá e receber o visto. Além disso, no entanto, é necessário comprovar ao menos 12 anos de estudo no seu país de origem, ou ter um diploma de bacharelado internacional (como os que são aplicados no fim do ensino médio na França ou Alemanha).

Em alguns casos, por conta da diferença de currículo entre o ensino médio japonês e o brasileiro, o diploma daqui pode não ser reconhecido lá. Nesse caso, o estudante que pretende fazer intercâmbio no Japão também precisará comprovar que domina esse conteúdo. Isso pode ser feito por meio de provas padronizadas como o SAT e o ACT. Em alguns casos, porém, o EJU pode ser exigido (veja acima mais sobre ele).

Na pós-graduação, os requisitos são semelhantes. É necessário ter um diploma comprovando a conclusão do curso superior no país de origem. Cartas de recomendação e motivação também podem ser solicitadas, assim como projeto de pesquisa.

Na pós-graduação, é mais comum que os programas aceitem comprovação de proficiência de inglês. Na graduação, porém, os estudantes podem precisar da comprovação de conhecimento da língua japonesa por meio do JLPT. Em todos os casos, é importante verificar na universidade e no curso pretendido para não ter problemas. Via de regra, cursos de graduação e pós nas áreas de humanas e ciências sociais costumam exigir domínio do japonês com mais frequência.

Bolsas para intercâmbio no Japão

Para quem pensa em estudar no Japão, a melhor oportunidade é o programa de bolsas do Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia do país, o MEXT. As bolsas MEXT estão disponíveis para diversos níveis de estudo, desde cursos curtos até doutorado.

Entre os benefícios das bolsas MEXT estão a isenção das anuidades do curso escolhido, passagens de ida e volta pra o Japão, valor mensal para manutenção no país (que varia entre cerca de R$ 3 mil e R$ 5 mil) e, caso necessário, curso de japonês antes do início das aulas.

As inscrições para as bolsas MEXT de intercâmbio no Japão costumam acontecer no final do primeiro semestre de cada ano (em geral entre abril e junho). Mais informações sobre elas podem ser vistas na página do consulado japonês da sua região.

Para intercâmbio no Japão de pós-graduação, há também um programa anual do governo japonês em parceria com a UNESCO. Em geral, o programa costuma dar preferência a estudos relacionados a sustentabilidade, energias renováveis e meio ambiente.

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Sobre o escritor

Mariane Roccelo
Mariane Roccelo
Jornalista. Formada em Jornalismo e Comunicação Social pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Meios e Processos Audiovisuais (PPGMPA) e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM), ambos da USP.

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