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Sorbonne: a mais tradicional universidade francesa renasce após quase 50 anos

Nathalia Bustamante - 14/11/2023
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O peso do nome é tão grande que, mesmo sem existir de fato por quase 50 anos, a mais famosa universidade francesa continuou exercendo sua influência. Criada no século XIII, a Sorbonne foi desmembrada em outras 13 instituições parisienses na década de 1970. O processo de reunificação, por enquanto parcial, teve início apenas em janeiro de 2018 – quando duas das “instituições-filhas”, a UPMC e a Paris IV, decidiram juntar-se, recriando a histórica universidade.

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História da Sorbonne

A Sorbonne foi criada como colégio integrante da Universidade de Paris, e destinava-se ao ensino de teologia a estudantes mais pobres. Seu nome é um tributo a Robert de Sorbon, capelão do Rei Luís IX e fundador da escola. Ainda na época da sua fundação, foi palco de debates religiosos históricos, como entre os jesuítas e jansenitas.

Sorbonne passou a ser, então, o nome dado ao núcleo de Humanas da Universidade de Paris (à qual era associada), mas seu prestígio fez com que as duas instituições virassem praticamente sinônimos – até que em 1793 todo o complexo assumiu definitivamente o nome Sorbonne.

A instituição foi fechada em 1791, por conta da Revolução Francesa, mas voltou a ser um centro de ensino pouco depois. E foi na primeira metade do século XX que atingiu o apogeu de sua glória – quando seus pesquisadores e professores levaram a revoluções em várias áreas do conhecimento.

Sempre muito internacional, já nos anos 1930 contava com 14 mil alunos, sendo 30% deles estrangeiros – o que impulsionou a criação da “Cidade Universitária Internacional” (Cité Internationale Universitaire de Paris), um grande campus residencial próximo do Quartier Latin.

Maio de 68 e o desmembramento em 13 instituições

O movimento acontecido em Maio de 68, que teve impacto em diversos aspectos da vida social e política da década de 70, também provocou uma profunda transformação na estrutura da universidade.

Foi nos corredores da Sorbonne que o movimento estudantil ganhou forças e ecoou pelo mundo inteiro. A ocupação da universidade ao longo do mês de maio criou um espaço de politização com potencial de desestabilizar o governo – o que culminou, em 1970, com uma decisão do Ministério da Educação de desmembrar da Sorbonne em 13 unidades autônomas. De acordo com o governo, esta estrutura permitiria melhor a rápida expansão no número de estudantes e programas.

Apesar do relativo sucesso de muitas destas instituições autônomas, a ausência de um nome forte tem sido um problema. Após o desmembramento, apenas quatro universidades passaram a levar o nome original: Paris I Panthéon-Sorbonne, Paris III Sorbonne-Nouvelle, Paris IV Paris-Sorbonne e Paris V René Descartes (cuja Faculdade de Ciências Humanas e Sociais também possui o título Sorbonne). Elas estão situadas parcialmente no sítio histórico da antiga Universidade de Paris.

Muitas delas, porém, são reconhecidas essencialmente por seu número – como Paris IV, Paris V e Paris VII – tornando difícil para a academia internacional diferenciá-las.

Dentre as novas instituições, a Paris-Sorbonne era considerada a principal “herdeira” da universidade original, pois ocupa os antigos prédios entre a rue des Écoles e a rue Victor Cousin, além de ser a instituição onde permaneceram os cursos de Humanas – Letras, Literatura, História, Geografia, Ciências Políticas, Filosofia, Sociologia, História da Arte. A Paris-Sorbonne também é a casa da prestigiada escola de comunicação e jornalismo CELSA, localizada no subúrbio parisiense de Neuilly-sur-Seine.

Apesar da sua presença em rankings internacionais, nem ela e nem nenhuma das outras possui o reconhecimento da marca que “Sorbonne” possuía.

Reunificação em 2018

Este cenário começou a mudar em 2017, quando duas das maiores instituições-filhas resolveram adotar de vez o nome Sorbonne. Mais que isso, na verdade – desde janeiro de 2018, a UPMC – a maior escola de ciências da saúde e medicina da França – e a Paris IV – que se especializou em humanidades, artes e línguas – se uniram para recriar a Universidade Sorbonne que existiu do século 13 até a década de 70.

Ambas as instituições eram bem ranqueadas internacionalmente – a UPMC (sigla para Université Paris Marie Curie) estava em 123º lugar no ranking da Times Higher Education em 2018, enquanto Paris IV alcança a 196ª posição. A união combinou duas instituições de 35 mil e 24 mil estudantes, respectivamente. Apesar do medo de que isso poderia criar uma universidade grande e mais difícil de administrar, a Université Sorbonne atualmente ocupa o 75º lugar no ranking.

Mas o Presidente da UPMC, Jean Chambaz, afirmou que a união é necessária por razões acadêmicas – não apenas os benefício de “marca” da Sorbonne. “Se quisermos tratar os grandes problemas do mundo, precisamos juntar pesquisadores das ciências e medicina àqueles trabalhando nas humanidades”, disse ao site Times Higher Edication. “A reconstrução de uma universidade abrangente não vai ajudar apenas nossas instituições, mas também vai nos ajudar a servir a sociedade”, completou.

A Sorbonne em números hoje

Hoje, a Sorbonne conta com cerca de 53 mil estudantes que se distribuem por 22 programas de graduação, 418 cursos de mestrado em 21 locais em Paris e região. Destes, cerca de 10 mil são estudantes estrangeiros. 

A universidade já formou, ao todo, 33 vencedores de prêmios Nobel e 6 da medalha Fields (que é uma espécie de “prêmio Nobel da Matemática”). Entre eles estão Marie Curie, que descobriu a radioatividade (e ganhou os prêmios Nobel de Química e de Física), e seu marido, Pierre Curie (que ganhou o de física).

Nos rankings, a Sorbonne também se destaca como uma das melhores universidades do mundo. Ela ocupa a 59ª posição no QS World University Rankings (sendo a terceira melhor universidade da França) e a 75ª posição no THE World University Rankings (no qual é a quarta melhor da França). No Academic Ranking of World Universities, ela aparece em 46º lugar.

Como se candidatar para estudar na Sorbonne

O processo para se candidatar e ser admitido na Sorbonne é semelhante ao de outras universidades francesas – que já explicamos neste artigo. Os requisitos variam para cada universidade e curso, mas de maneira geral, é preciso apresentar um conjunto de documentos composto por diploma, histórico de notas, teste de proficiência oficial em língua francesa, carta de motivação e, eventualmente, cartas de recomendação.

Um bom conjunto de documentos de candidatura (chamado de dossiê) seria aquele que apresenta um projeto de estudos preparado com antecedência, coerente e com os estudos anteriormente realizados pelo candidato, oferecendo uma formação que esteja de acordo com os objetivos e expectativas acadêmicas e profissionais do estudante.

Sendo uma universidade pública, a Sorbonne tem os valores de anuidade subsidiados pelo governo francês. Por isso, custa apenas cerca de 300 euros por ano para um curso de pós-graduação na instituição.

Cursos de curta duração

A Sorbonne Nouvelle, instituição focada no campo das línguas, das letras, das artes e das ciências humanas, também oferece uma série de cursos de inverno e verão de lingua e de cultura francesa. As aulas, geralmente, acontecem durante a manhã e à tarde são oferecidas atividades culturais. Os valores do curso giram em torno de 700 euros, para uma carga horária de 60 horas.

Ex-alunos ilustres

Pela instituição passaram diversos prêmios Nobel, como Pierre e Marie Curie, Louis de Broglie e Jean Perrin; grandes pensadores e até mesmo um presidente do Brasil:

  • São Tomás de Aquino, padre dominicano e teólogo
  • Honoré de Balzac, escritor francês
  • Marie Curie, física
  • Pierre Curie, físico
  • Simone de Beauvoir, filósofa e escritora
  • Jacques Derrida, filósofo
  • Jean-Luc Godard, cineasta
  • Jean-Paul Sartre, filósofo e escritor
  • Jorge Coli, historiador
  • Claude Lévi-Strauss, Antropólogo
  • Paulo Evaristo Arns, cardeal
  • Fernando Henrique Cardoso, 34.º presidente do Brasil
  • Lygia Clark, artista plástica brasileira
  • Celso Furtado, economista

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Sobre o escritor

Nathalia Bustamante
Nathalia Bustamante
Nathalia Bustamante é jornalista formada pela UFJF. Foi editora do Estudar Fora entre 2016 e 2018 e hoje é coordenadora de Conteúdo Educacional na Fundação Estudar.

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