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Como é estudar em Seul, capital da Coreia do Sul? Aluna da Minerva responde

Gustavo Sumares - 07/08/2020
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Recentemente, graças a fênomenos culturais como as bandas de K-pop e o laureado filme Parasita, a Coreia do Sul ganhou os holofotes. Os filmes e músicas transformaram o país e especialmente sua capital, Seul, em um destino cobiçado tanto para turistas quanto para estudantes. Mas como é estudar em Seul?

Para descobrir, conversamos com Barbara Machado, estudante da Minerva Schools at KGI. Os estudantes da Minerva estudam em sete cidades de países diferentes ao longo dos seus quatro anos de estudo, e estudar em Seul é uma experiência que todos eles têm.

A Universidade Minerva, em parceria com a Fundação Estudar, está oferecendo uma bolsa de estudo que cobre os quatro anos do curso de graduação na instituição. A bolsa inclui os custos de anuidade e moradia do estudante, podendo chegar a 40 mil dólares. A candidatura é feita em rodadas, e o próximo prazo se encerra no dia 17 de maio, para a turma que se inicia em setembro. É necessário fazer o processo por meio deste link, que indicará que você conheceu a Minerva através do Estudar Fora.)

A seguir, Barbara responde a nossas perguntas sobre sua experiência na capital coreana. Confira:

Estudar Fora (EF): O que você esperava durante o seu semestre em Seul? Como você se preparou para estudar em Seul?

Barbara Machado (BM): Antes de ir para a Coréia do Sul, o que mais me atraia sobre o país era poder ter meu primeiro contato com a cultura asiática. Cresci admirando de várias formas diferentes países da Ásia — seja a China, por seu rápido crescimento econômico, a própria Coréia do Sul pelos seus investimentos em educação, ou o Japão pela cultura otaku que sou muito fã.

Além disso, para uma apaixonada pelo mundo tech como eu, foi ótimo poder explorar aplicações de tecnologia de ponta na Coréia do Sul. Grandes empresas do ramo de tecnologia e eletrônicos, como a Samsung e a LG, são coreanas e o país também se destaca nos ramos de realidade virtual, realidade aumentada, bitcoin e games.

Foi também impressionante ver como os coreanos balanceiam tecnologia super avançada com tradições seculares. A Coréia é conhecida por ser um dos país conservador, religioso, e com muitas tradições e foi nesses aspectos que me preparei antes de chegar para estudar em Seul. Coisas pequenas como o modo de falar com os mais velhos, se curvar para alguém com “hierarquia superior” e usar a mão esquerda para suportar a mão direita quando for cumprimentar, dentre outras coisas, são importantes.

A hierarquia social é bem rígida e deve ser levada a sério, uma vez que isso influencia a forma como você se comunica e se porta diante de outras pessoas. Por fim, saber um pouco da língua também foi essencial. Como os coreanos não usam o mesmo alfabeto que nós, aprender o “Hangul” (alfabeto coreano) já faz muita diferença! Apesar de dar medo no início, o alfabeto é na verdade bem simples e fácil de aprender e, uma vez que você aprende, frases cotidianas como “Oi!” e “Obrigado” ficam fáceis, além de deixar os moradores locais super felizes ao perceberem que sabemos um pouco do Hangul.

Barbara Machado em gangnam - estudar em seul

EF: Seul era o que você esperava?

BM: A Coréia foi surpreendente e melhor do que eu esperava em vários aspectos, a começar pela simpatia das pessoas locais! Apesar de tímidos, coreanos são em geral muito receptivos a estrangeiros, especialmente se você se apresentar de forma educada e mostrar um pouco de conhecimento da língua e cultura locais. Um dos melhores exemplos disso foi a interação incrível que a Classe de 2022, minha turma em Minerva, vivenciou com os donos do restaurante “Sky”. Esse restaurante ficava a apenas 2 minutos de distância da nossa moradia em Seul e, por isso, muitos alunos frequentavam o local.

Com o tempo, a amizade entre os alunos e os donos do restaurante se desenvolveu tanto que logo estávamos comemorando alguns feriados importantes da cultura coreana com eles, como o “Chuseok” (espécie de Thanksgiving coreano). Hoje, se você visitar esse restaurante, vai encontrar fotos e cartas de alunos de Minerva estampando as paredes do estabelecimento, eternizando momentos de amizade que conseguimos estabelecer com as pessoas locais.

Seul foi também surpreendente em relação ao design da cidade. Bairros como Gangnam-gu (conhecido como o metro quadrado mais caro da cidade), repletos de prédios modernos com design minimalistas, se misturam com outros bairros como Myeong-dong e Itaewon-dong onde pequenos cafés se amontoam lado-a-lado à infinitas lojas de cosméticos e restaurantes, e as ruas se enchem de turistas à noite.

Seul também apresenta um sistema moderno e super eficiente de transporte público que inclui ônibus e metrô. No total, a cidade tem nove grandes linhas de metrô que circulam por toda parte e chegam até aos subúrbios e arredores. Os trens chegam a cada 5 minutos, são limpos e contam com aquecedor durante o inverno. Também há vending machines (máquinas que vendem comida e refrigerantes) nas estações.

Também foi ótimo poder ver o “hallyu” (ou Onda Coreana) de perto! Onda Coreana é o termo dado a um aumento na popularidade global da cultura sul-coreana desde os anos 90. Impulsionado principalmente pelo k-pop e k-dramas, e mais recentemente pelo seu cinema (como, por exemplo, através do filme coreano Parasita, ganhador do Oscar de Melhor Filme), o “hallyu” pode ser visto a todo momento e em todos os lugares. Lojas repletas de merchandising de bandas de k-pop e atores estão por toda a parte, e você consegue ouvir as músicas em praticamente todos os cafés e lojas de cosméticos.

Eu amei explorar o “hallyu” na Coréia e tive a oportunidade de ir no show do meu grupo de k-pop favorito, o Blackpink! Mas não só de “hallyu” vive a Coréia e inclusive é muito comum ouvir musicas eletrônicas, hip-hop e pop americano.

Comida coreana - estudar em Seul

Por fim, o ponto mais surpreendente sobre o país (e meu preferido!) foi a comida. Diversa e apimentada, a culinária coreana se tornou uma das minhas favoritas. O prato mais famoso na Coréia é, sem dúvidas, o kimchi – uma espécie de repolho apimentado e fermentado. O kimchi acompanha praticamente todos os pratos como um side dish e é tão importante para eles como o nosso clássico “arroz com feijão”.

A Coréia também adora carnes e o korean barbecue (ou churrasco coreano) é o melhor que já comi — depois do brasileiro, é claro! Eles são apaixonados por frango e fazem o melhor frango-frito do mundo. Embora a cozinha coreana seja desafiadora para veganos e vegetarianos, é fácil comer de forma saudável. Quase todos os pratos incluem algum tipo de vegetal como, por exemplo, o bibimbap, meu prato favorito e que é servido em uma vasilha de pedra e composto por arroz, carne, ovo e legumes variados.

Outro ponto incrível é que comer em restaurantes é acessível e muitas vezes mais barato do que cozinhar, além das comidas dos restaurantes terem aquele gosto de “comida de casa”, feita na hora.

EF: Como você gerencia a barreira do idioma de Seul em comparação com São Francisco?

BM: Comparado com San Francisco, a barreira linguística se tornou mais visível em Seul, uma vez que a Coréia não tem o inglês como sua língua oficial. Porém, comparado com outros países que não têm o inglês como primeira língua, foi fácil me virar na Coreia com basicamente nenhum conhecimento de coreano, já que eles estudam inglês na escola e quase todo mundo sabe pelo menos um pouco.

Entretanto, coisas como pedir comida pelo aplicativo ou pegar um táxi podem ser difíceis sem um conhecimento básico do Hangul. Além disso, algumas pessoas são bem tímidas e podem optar por não interagir com você por se sentirem inseguras com o inglês. Por isso, aconselho que aprendam pelo menos o básico de coreano e apostem na linguagem corporal para se comunicar.

Por outro lado, é possível vencer a barreira linguística e fazer conexões com pessoas locais mesmo sem um conhecimento básico da língua, como foi meu caso. Uma das formas para fazer isso é por meio de celebrações! Coreanos são festivos e bairros como Hongdae e Itaewon apresentam uma vida noturna super agitada, bem como eventos diários (como, por exemplo, competição de dança de k-pop!). Por isso, esses bairros atraem várias pessoas mais jovens que estão dispostas a interagirem e se divertirem.

Uma das minhas melhores experiências nesse sentido foi festejar o Halloween em Itaewon. Para minha surpresa, coreanos amam o Halloween e levam a celebração super a sério. Durante a noite do dia 31 de outubro, as pessoas enchem as ruas exibindo fantasias incríveis. Eu tive o prazer de fazer vários amigo na noite de Halloween que gostaram da minha fantasia ou só porque estavam curiosos pelo fato de eu ser estrangeira.

EF: Você participou de alguma experiência da Minerva ao estudar em Seul (por exemplo, co-curriculares, civic projects, What I’ve Learned)? Eles foram diferentes de suas experiências em San Francisco?

BM: As experiências que Minerva proporciona aos alunos ao estudar em Seul são incríveis. Dentre as que participei, duas foram marcantes: um co-curricular sobre bitcoin e meu civic project com uma startup coreana.

Evento da Minerva - estudar em seul

Falando primeiramente sobre o co-curricular, o evento basicamente consistiu de uma conversa entre alguns alunos e profissionais no ramo de bitcoin. Esse evento foi muito rico pois contamos com participantes com backgrounds bem diversos: tivemos empreendedores que desenvolveram formas inteligentes de popularizarem o uso de criptomoedas, investidores interessados em descobrir empresas do ramo promissoras, bem como profissionais com background em Direito que estavam pesquisando como usar a tecnologia por trás do bitcoin para gerar contratos mais eficientes. Todos os profissionais foram receptivos e responsivos às nossas perguntas, e estavam curiosos sobre os alunos.

Outro ponto marcante foi desenvolver um civic project com uma startup. Civic projects são basicamente projetos elaborados por Minerva em conjunto com empresas locais e dizem a respeito de algum desafio que a empresa esteja vivenciando. Alunos interessados naquele tema ou empresa podem se candidatar para desenvolver um civic project que consiste de uma ideia plausível e que vá resolver aquele problema. No final, ainda podemos as transferir horas gastas com o projeto como créditos, além de adquirirmos experiência profissional.

No meu caso em específico, junto com outros dois alunos, eu desenvolvi um projeto para uma fintech coreana. Foi ótimo poder aprender sobre o ramo de fintechs na Ásia, UX & UI design, e também pesquisar sobre alguns problemas sociais da Coréia, como o aumento da pobreza entre a população idosa. Nesse projeto também pude ver mais de perto a dinâmica da hierarquia no trabalho, muito importante na Coréia.

EF: Como são seus cursos acadêmicos? Qual é a sua especialidade ou qual profissão você espera ingressar? Isso mudou desde o seu primeiro ano?

BM: Com relação aos meus estudos, o semestre em Seul me ajudou a decidir sobre o que quero focar na minha graduação. Além de decidir fazer um double major em Business e Computer Science, com foco em Strategic Finance, Data Science e AI, eu também pude ver de forma mais concreta como alinhar meus interesses em Business e Computer Science. Com meu civic project e conversas com profissionais na cidade, bem como com outros alunos, pude confirmar que sou apaixonada por empreendedorismo e tecnologia e é na intersecção desses dois campos que quero trabalhar.

EF: Agora, como estudante do segundo ano, o que você recomendaria a um aluno que se inscrever em Minerva?

BM: Para alunos interessados em aplicar para Minerva eu aconselho que sejam pessoas curiosas e que procurem sempre estarem aprendendo sobre outras culturas e línguas. Depois de viver em um país tão diferente do Brasil, pude ver que essas características nos transformam em pessoas mais adaptáveis e empáticas — características essas essenciais para quem pensa em fazer parte da comunidade de Minerva.

Outro ponto fundamental é que alunos interessados em Minerva estejam dispostos a sair da sua zona de conforto. Por mais mágico que possa parecer conhecer sete cidades globais enquanto recebe uma educação de ponta, não é fácil ter que se mudar para um novo país a cada semestre e reconstruir tudo (de amizades até o seu quarto), a cada quatro meses.

Por fim e mais importante, sejam sempre receptivos a conhecerem pessoas novas! Um dos meus grandes aprendizados ao estudar em Seul foi que eu sempre posso aprender algo novo com alguém, por mais diferente que a outra pessoas possa parecer de você.

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Sobre o escritor

Gustavo Sumares
Gustavo Sumares
Gustavo Sumares é o editor do Estudar Fora. Jornalista, já escreveu sobre tecnologia e carreira.

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