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Brasileiro conta como é estudar na melhor universidade da China

Lecticia Maggi - 20/10/2015
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Por Wildiner Batista

Dificilmente você vem para a Universidade Tsinghua, na China, e não se apaixona por ela. A estrutura é boa – eles contam com diversos laboratórios de pesquisa – e o corpo docente é espetacular – você vai ter aulas com algumas das mentes mais brilhantes da China e com professores doutores das melhores universidades do mundo. O atual e o ex-presidente da China, Xi Jinping e Hu Jintao, são formados aqui. O  campus fica em Pequim, cidade com 20 milhões de habitantes e que é o centro político e cultural do país.

É impressionante o respeito que se tem em relação ao professor aqui: conversar durante a aula é uma ofensa grave, chegar atrasado uma ofensa gravíssima e, na primeira aula de cada semestre, eles têm o costume de aplaudir os docentes

Além disso, o nome da universidade abre muitas portas. Quando falo para um  chinês que estudo aqui, ele fica muito impressionado. E não é para menos: a concorrência e a pressão que os estudantes chineses sofrem para conseguir entrar aqui é imensa, e dentro da universidade a barra também continua alta.

Antes de vir para a China, quando estava decidindo para qual país e universidade me candidataria, li um artigo que falava que Tsinghua queria estar entre as 10 melhores do mundo em menos de 50 anos! Afinal, os chineses sabem que, para se posicionarem como super-potência, eles precisam ter um sistema de ensino que, além de bom, seja reconhecido internacionalmente. Eles estão investindo muito na universidade que, em apenas um ano, subiu da 47ª para a 25ª posição no QS World University Rankings. Apesar de Tsinghua ainda não ser famosa no Ocidente, com os avanços que estamos tendo e com o volume crescente de estudantes estrangeiros aqui, acredito que nos próximos 10 anos isso vai ser bem diferente.

Aqui em Tsinghua pude selecionar disciplinas tanto do meu instituto (Engenharia Civil) quanto de outros. Além disso, apesar de meu intercâmbio ser de graduação, tive acesso às disciplinas de pós, que acabaram sendo a maioria na minha grade. Ao todo estou cursando nove disciplinas, das quais cinco são da pós-graduação, duas da graduação e duas de mandarim.

A metodologia, na maioria das aulas, não é muito diferente da adotada no Brasil: é o professor na frente dando a aula e os alunos prestando atenção. É impressionante o respeito que se tem em relação ao professor aqui: conversar durante a aula é uma ofensa grave, chegar atrasado uma ofensa gravíssima e, na primeira aula de cada semestre, eles têm o costume de aplaudir os docentes.

Para a minha sorte, apesar de cursar nove disciplinas, não tenho tantas provas assim. Geralmente, tenho uma prova e um projeto de cada matéria. Por exemplo, na disciplina de Logística Internacional, estamos fazendo um projeto em grupo (trabalho com mais três chineses) sobre cross-border e-commerce e teremos três apresentações de 10 min cada durante o semestre para apresentar nossos resultados. Em uma matéria sobre Real Estate, teremos que entregar um artigo de 5.000 palavras (em inglês ou mandarim) e assim por diante.

Uma das matérias mais interessantes que faço é “transporte do futuro”, na qual trabalhamos em conjunto com alunos do Royal Institute of Technology da Suécia, um dos centros de ensino mais respeitados da Europa. As aulas são por vídeo-conferência. Os professores funcionam, basicamente, como mentores e nós apresentamentos  avanços dos projetos em grupo em cada aula.

O fato de não ter tantas provas, além de aliviar um pouco a tensão, reforça a capacidade de reflexão e senso-crítico, já que temos que buscar informações de cada projeto por conta própria – filtrando o que é bom do que não é. No meu caso, ainda ajuda muito a melhorar meu domínio tanto de inglês quanto de mandarim.

Para aqueles que pensam em estudar no exterior, principalmente engenharia, recomendo fortemente a Universidade Tsinghua, não só para intercâmbio mas também para fazer toda a graduação, se você já fala mandarim ou está disposto a estudar cerca de dois anos para aprender. Além do menor custo em relação às universidades norte-americanas, é uma tremenda oportunidade de entender um pouco da 2ª maior economia do mundo e de uma civilização com 5.000 anos de história.

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Wildiner Batista é estudante de Engenharia Civil na Unicamp e está fazendo um intercâmbio de 2 anos na China pelo Ciência sem Fronteiras (CsF). No primeiro ano, ele estudou mandarim em Wuhan e agora estuda na Universidade Tsinghua, que é considerada a melhor universidade dos BRICS (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

*Foto: Wildiner na Universidade Tsinghua, em Pequim. / Crédito: arquivo pessoal

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Sobre o escritor

Lecticia Maggi
Lecticia Maggi
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduada em Gestão de Negócios pelo Senac-SP. Foi editora do Estudar Fora entre 2014 e 2016. Atualmente, é coordenadora de comunicação no Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), que tem como um de seus objetivos ajudar a qualificar o debate educacional no país.

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