“Morar em Tóquio é como viver em diversas cidades” diz estudante
Por Carolina Campos
O número de brasileiros que residem no Japão vem diminuindo nos últimos anos. Dados do Ministério da Justiça japonês e do Itamaraty mostram que, em 2007, havia 313.000 brasileiros residindo no arquipélago. Em dezembro de 2012, eram pouco mais de 190.000. No entanto, na contramão, o número de brasileiros que embarcam para o país em busca de qualificação está crescendo. Dados do programa federal Ciência sem Fronteiras (CsF) revelam que 171 alunos se inscreveram na graduação sanduíche (Brasil- Japão) em 2012. Um ano depois, o número cresceu para 532.
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Morar em Tóquio é como viver em diversas cidades ao mesmo tempo: da grande metrópole ao vilarejo
Os motivos de tanto interesse? Além de excelência universitária (a Universidade de Tóquio, por exemplo, está em 23º lugar no ranking da THE 2015), o Japão oferece uma riqueza cultural difícil de ser encontrada: “Morar em Tóquio é como viver em diversas cidades ao mesmo tempo: da grande metrópole ao vilarejo”, considera Miguel Falci, de 34 anos, que cursa mestrado em arquitetura na Universidade de Tóquio. “É mais do que uma experiência acadêmica, é uma experiência de vida!”.
Viver na cidade tem pontos negativos, como o alto custo de vida, o que obriga muitos estudantes bolsistas a complementarem a renda com trabalhos temporários. Para economizar, há também quem opte por morar em bairros mais afastados – o que não é necessariamente ruim: “Muito bairros se parecem com pequenas cidades, com comércio de lojinhas, velhinhos regando suas plantas, crianças brincando nas ruas… A vida parece mais ‘leve’. É algo totalmente diferente do que vemos no centro”, diz.
Miguel conta que, via de regra, no centro da capital os habitantes vivem apinhados, em espaços minúsculos e muito próximos uns dos outros. “Talvez por isso mesmo cultivem um hábito tão socialmente saudável: a preocupação com o próximo. É incrível como os japoneses levam isso a sério: nos trens, por exemplo, ninguém fala ao celular, ninguém fala alto; nas casas, invariavelmente mal isoladas (térmica e acusticamente), jamais se escuta a música ou a TV do vizinho. Esse respeito vai além: em lojas, bancos, supermercados e guichês em geral, deixar alguém esperando é quase pecado capital, e quando isso acontece, os atendentes se desdobram em intermináveis pedidos de desculpa”, explica ele, que não se cansa de repetir o quanto este comportamento torna a vida mais fácil.
Muitas vezes, uma simples compra no supermercado ou a leitura de uma conta de água se converte em um verdadeiro jogo de adivinhação
Barreira linguística – A língua é uma das grandes barreiras para os estrangeiros que se aventuram a estudar no Japão. As universidades mais renomadas oferecem cursos completos de pós-graduação em inglês. Mas, ainda que seja possível cursar disciplinas, escrever a tese e até ter acesso a funcionários da universidade que sejam fluentes em inglês, é importante lembrar que o dia a dia do estudante não se resume à universidade. “Muitas vezes, uma simples compra no supermercado ou a leitura de uma conta de água se converte em um verdadeiro jogo de adivinhação”, conta Miguel.
E, como a língua é uma barreira difícil de se transpor dada a sua complexidade para os ocidentais, viver no Japão exige um senso de comunidade muito forte, sobretudo entre pessoas que já tenham alguma experiência no país. “Dessa maneira, acabamos meio que internalizando a ideia de vida em grupo, na qual dependemos uns dos outros para tocar as nossas próprias vidas”, ressalta.
Para os interessados em estudar no Japão, a orientação é ter paciência e não desanimar nas primeiras dificuldades. É preciso paciência para se adaptar a um mundo completamente novo, a uma língua complexa e a costumes distintos dos brasileiros. O lado bom disso tudo é ter a certeza que, depois de passar por uma experiência assim, a sua dimensão de mundo jamais será a mesma.
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