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Como é fazer intercâmbio na Argentina

Mariane Roccelo - 30/01/2024
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Intercâmbio na Argentina é um dos destinos mais procurados por alunos que querem estudar na América do Sul. O país do doce de leite e do alfajor abriga algumas das melhores universidades do continente. Entre elas, estão a Universidad de Buenos Aires (UBA), a Nacional de La Plata (UNLP) e a tradicional Universidad Nacional de Córdoba (UNC). Além disso, o idioma espanhol, próximo do português, é outro ponto positivo para quem pensa em estudar no país.

Dentre as 131 universidades existentes e credenciadas na Argentina, 66 são públicas e gratuitas – 80% dos alunos argentinos estudam de graça nestas instituições. Uma delas, a Universidade de Buenos Aires, está entre as 100 melhores do mundo (QS World University Ranking 2021). O país também conta com instituições centenários, como a Universidad Nacional de Córdoba, com mais de 400 é a mais antiga do país e foi fundada em 1613.

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A graduação em Medicina é uma das mais procuradas de intercâmbio na Argentina por alunos da América Latina que vão estudar no país. Entre os motivos que alunos para estudar medicina na Argentina estão a ausência de vestibular e cursos financeiramente mais acessíveis (quando comparados com as graduações em medicina no Brasil) ou gratuitos.

Esses fatores, somados às boas colocações em rankings internacionais, fazem com que a graduação em Medicina seja um ponto forte do ensino superior argentino, junto com outras áreas, como o Direito.

Como é fazer intercâmbio na Argentina?

A estudante de Direito Gabriela Marques fez intercâmbio na Argentina na Universidad Nacional de La Plata (UNLP) em 2019 por meio de um convênio que a instituição tem com a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), onde ela estuda atualmente. A universitária conta que optou por estudar na Argentina após contar para um amigo francês que gostaria de fazer intercâmbio na Europa e ser questionada por ele: “mas a América Latina é ótima para fazer intercâmbio, você nunca pensou [em fazer aqui]?”.

Foto: Edgardo Ibarra | Unsplash

Na UNLP, Gabriela cursou disciplinas relacionadas ao Direito Econômico, como Economia, Direitos Humanos e Direitos Sociais, “que são coisas bem fortes lá”. Em relação ao ritmo das aulas, a estudante conta que achou o curso mais exigente quando comparado com a UFOP. “O ritmo era mais intenso”, conta, “em bem menos tempo eles passavam muito mais conteúdo e isso era cobrado, as provas eram bem exigentes e era indiferente se você era intercambista ou não”.

A jornalista Marina Fontanelli, de 25 anos, fez intercâmbio em Mendoza, a 4ª maior cidade da Argentina, e recomenda a experiência para todo mundo. “Foi importante para a construção da minha identidade”, diz ela, que se sentiu mais latinoamericana depois do intercâmbio na Argentina.

Entrar nas universidades argentinas com o curso básico

O processo de ingresso nas universidades argentinas é diferente do tradicional vestibular brasileiro. Para iniciar a graduação em qualquer área, o estudante deve passar por um ciclo básico que ensina conteúdos referentes ao curso que deseja entrar. Esse ciclo básico é obrigatório e o estudante deve ser aprovado até um período limite, que varia de acordo com a faculdade e o curso.

Cada universidade oferece seu ciclo básico, o mais famoso e tradicional deles é o CBC (Ciclo Básico Común), da UBA. Para estudantes estrangeiros, algumas universidades exigem o certificado de proficiência em espanhol com nível B2 entre a documentação exigida para que o aluno possa se matricular no ciclo. Os certificados exigidos podem ser o DELE, o SIELE ou CELU.

O semestre letivo da Argentina é igual ao do Brasil, ou seja, o primeiro semestre começa em fevereiro e acaba em junho/julho, e o segundo semestre começa em julho/agosto e termina em dezembro. Todas estas razões fazem com que mais de 43 mil estudantes brasileiros estejam fazendo intercâmbio em Buenos Aires.

Intercâmbio na Argentina para aprender espanhol

De acordo com estatísticas do governo argentino, as escolas de idiomas da capital argentina recebem cerca de 30 mil estudantes por ano, o que faz de Buenos Aires a segunda cidade mais popular para aprender espanhol no mundo, atrás apenas de Madri.

As aulas nas universidades argentinas são predominantemente em Espanhol e, para conseguir acompanhar, é necessário conhecer a língua. Gabriela conta que já havia estudado espanhol antes de ir para o intercâmbio, mas “o sotaque da argentina é bem diferente do que tinha aprendido no curso aqui no Brasil”.

Na Argentina, Gabriela optou por complementar os estudos da graduação com aulas de proficiência em espanhol, para que conseguisse aproveitar melhor as aulas. “Chegando lá, tive que aprender quase que do zero”, conta.

Leia mais: Como aprender Espanhol online e tirar o certificado de fluência

As maiores universidades da Argentina oferecem cursos de espanhol para quem quer aprender ou se tornar fluente na língua. A UBA, por exemplo, oferece aulas de proficiência em sedes espalhadas por toda Buenos Aires. Nas cidades também é possível encontrar escolas de idioma especializadas no ensino de Espanhol.

Os cursos intensivos (20 horas por semana) são os mais comuns e, em geral, há turmas começando todas as segundas-feiras, com preços a partir de 400 reais por semana. Outras opções são cursos mais longos – que duram um quadrimestre – ou aulas particulares de espanhol, mais caras que os cursos intensivos.

Para quem opta por aprender o idioma na Argentina, o país oferece um certificado de proficiência em espanhol válido internacionalmente, o CELU (Certificate of Spanish: Language and Use), reconhecido pelos Ministérios da Educação e Relações Exteriores argentinos.

Visto Estudantil para intercâmbio na Argentina

Para brasileiros, a entrada na Argentina é permitida mediante a apresentação do RG ou passaporte sem a necessidade de visto. Entretanto, esse “visto automático” permite a estadia por, no máximo, 90 dias. Para estudantes que querem ficar no país por um período maior, é necessário retirar o visto estudantil, que permite ficar até 10 anos no país. O estudante internacional, porém, não tem permissão para trabalhar durante seu intercâmbio na Argentina.

Para retirada do visto é possível dar entrada com a documentação depois de já estar na Argentina. Os documentos exigidos para o pedido do visto são RG ou passaporte, comprovante de matrícula, comprovante de antecedentes criminais e comprovante de pagamento da taxa de emissão obrigatória.

Gabriela conta que o procedimento para retirar o visto foi bastante demorado devido às agitações políticas recentes na Argentina. “Eles tiveram várias greves gerais esse ano e está tudo muito complicado, demorou tanto que fui tirar o visto quase na hora de ir embora”, conta.

Custo de vida para estudar na Argentina

A realidade é que o custo de um intercâmbio na Argentina já foi mais baixo – tanto por conta da moeda brasileira, que desvalorizou, quanto pela inflação do peso argentino. O custo de vida da capital Argentina é semelhante ao de São Paulo, girando em torno de mil a 2 mil reais mensais. Porém, além das universidades públicas serem gratuitas, as mensalidades das faculdades particulares também são significantemente mais baixas do que as brasileiras.

Durante seu intercâmbio em Mendoza, Marina estudou na Universidade Nacional de Cuyo (UnCuyo). Através de uma parceria com a Unesp, ela recebia uma bolsa mensal de R$400,00 para cobrir gastos com moradia e alimentação. “Apesar de o custo de vida em Mendonza ser mais barato do que em São Paulo, por exemplo, esse valor não é suficiente para o mês. Eu diria que é possível viver na cidade com R$ 800 mensais.”, relembra.

Principais destinos para intercâmbio na Argentina

Buenos Aires

A região da Argentina que mais recebe estrangeiros é Buenos Aires, não apenas por ser a cidade mais populosa e capital do país, mas por abrigar algumas das mais prestigiadas universidades, como a UBA.

Buenos Aires é a melhor cidade estudantil da América Latina e está entre as 50 melhores do mundo, ocupando a posição 31º no ranking QS de melhores cidades para estudantes morarem. O custo de vida na cidade é alto e acima do restante do país, sendo muito semelhante ao de São Paulo. Entretanto, com a recente desvalorização do peso argentino, recentemente ficou mais barato, para brasileiros, visitarem o país.

A capital argentina possui um ótimo sistema de transporte público que conta com uma ampla oferta de ônibus e metrô, além de oferecer sistemas alternativos de transporte, como bicicletas públicas.

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A região central de Buenos Aires é repleta de bons restaurantes com preços acessíveis, sorveterias e padarias tradicionais. Para quem aprecia a vida cultural urbana, há inúmeros teatros, livrarias e cinemas espalhados por toda a cidade e que funcionam até de madrugada.

A temperatura média da Argentina é mais baixa que a brasileira, principalmente nas cidades que estão localizadas ao sul do Brasil, como Buenos Aires. “Só andei de roupa de frio”, conta Gabriela. Em relação a alimentação, a base da dieta Argentina é muito semelhante ao sul do Brasil. É repleta de carnes, batatas e doces tradicionais, como churros, doce de leite e sorvetes caseiros.

Mendoza

Para quem pensa em fazer um intercâmbio na Argentina para aprender espanhol, Mendoza é uma boa opção. Ela é relativamente pequena, com cerca de 115 mil habitantes, mas é o centro de uma região metropolitana de quase 1 mlhão de habitantes. Esse tamanho menor implica também um custo de vida menor do que na capital Buenos Aires. E com a valorização do real frente ao peso argentino, torna-se um destino particularmente acessível para brasileiros.

Conhecida mundialmente por ser a quinta maior produtora de vinho do mundo, é uma região que tem muito mais a oferecer. Isso inclui diversas opções de atividades ao ar livre e prática de esportes radicais. Destaque para o pico do Aconcágua, o ponto mais alto das Américas, com 6.962 metros.

Além disso, é uma cidade rica em paisagens históricas e passeio culturais. Embora boa parte de seus edifícios coloniais tenham sido destruídos por um terremoto em 1861, outra parte mantém-se de pé desde o século XVI. Também foi uma das cidades visitadas por Charles Darwin durante suas viagens. E, finalmente, é um pólo produtor de vinho na Argentina, o que a torna interessante para enólogos.

Córdoba

Com quase 1,3 milhões de habitantes e situada no centro do país, a cidade de Córdoba é conhecida por ser uma “cidade universitária”. Isso por sua tradição acadêmica universitária e devido aos milhares de estudantes argentinos de todas as províncias que decidem fazer seus estudos nas universidades cordobesas. A principal delas – Universidad Nacional de Córdoba (UNC) – possui aproximadamente 110 mil alunos e seu Campus se localiza a poucos minutos, a pé, do centro da cidade.

As 10 melhores universidades da Argentina de acordo com o QS Latin American University Rankings

Para ver o ranking completo, clique aqui.

1º – Universidad de Buenos Aires

É a principal e maior universidade da Argentina e o curso de medicina é um dos mais procurados por quem faz intercâmbio na Argentina. Tem forte tradição acadêmica: cerca de 30% da pesquisa científica feita na Argentina é realizada na UBA. Entre os ex-alunos ilustres, a universidade formou quatro dos cinco ganhadores argentinos do prêmio Nobel, além de outros 15 ex-presidentes.

A UBA é uma universidade pública formada por 13 faculdades espalhadas por toda Buenos Aires. Conta com 4 institutos e 3 hospitais que formam uma rede hospitalar, 18 museus e um amplo sistema de bibliotecas. Em 2021, ela completou 200 anos de existência.

2º Universidad Nacional de La Plata

A UNLP é formada por 17 faculdades divididas em 5 conjuntos de prédios na região de La Plata, localizada ao sudeste de Buenos Aires. Os cursos de Medicina e Direito são os mais tradicionais da UNLP, que oferece 137 cursos de graduação, possui 1 observatório, 1 planetário e 14 museus.

Entre os ex-estudantes ilustres da UNLP estão os ex-presidentes Cristina Kirchner e Néstor Kirchner. A universidade também oferece “uma série de atividades extracurriculares para quem quer participar” a quem busca-a para intercÂmbio na Argentina, conta Gabriela.

3º – Universidad Torcuato di Tella

A Torcuato di Tella é uma instituição privada e sem fins lucrativos. É uma universidade relativamente nova, foi inaugurada em 1991, e está localizada em Buenos Aires. A origem da faculdade está relacionada à família do engenheiro Torcuato di Tella, fundador da Siam, empresa tradicional Argentina que, atualmente, é líder do mercado de eletrodomésticos da região.

As áreas mais fortes da Torcuato são as ciências sociais nos campos da economia, estudos históricos e sociais, matemática e estatística, administração de empresas, direito, ciências políticas, relações internacionais, ciências sociais e arquitetura. Ela possui um amplo programa de intercâmbio e mantém parceria com mais de 90 universidades em todo o mundo.

4º – Universidad Nacional de Córdoba

Com mais de 400 anos de existência, a UNC é uma instituição pública, financiada pelo governo argentino e a segunda maior universidade do país.

Formada por 13 faculdades que oferecem mais de 300 cursos, a UNC possui cerca de 100 centros de pesquisa, 25 bibliotecas e 16 museus. A primeira instituição científica da Argentina foi criada na UNC, que atualmente também possui um observatório astronômico.

5º – Universidad Austral

A premissa da Austral é conciliar o melhor da tradição do ensino universitário com o que tem de mais avançado no universo da educação. Além dos cursos de graduação e pós-graduação, a Austral também investe em pesquisa e extensão. O principal financiador da Austral é a instituição católica Opus Dei.

6º – Universidad de San Andrés (UdeSA)

A Udesa é uma universidade privada e seu campus principal foi erguido na cidade de Victória, localizada a 600 km acima de Buenos Aires. Ela é formada por 7 faculdades que oferecem 12 cursos de graduação e 19 de pós-graduação.

7º – Pontificia Universidad Católica de Argentina

A UCA é uma instituição privada, cujo campus principal está localizado em Buenos Aires. Ela também possui prédios em Rosário, Paraná, Mendoza e Pergamino. As áreas do conhecimento que a UCA é especializada são as de Desenvolvimento Humano e Pobreza, Biomedicina, Tecnologia de Alimentos e Mudanças Climáticas.

8º – Instituto Tecnológico de Buenos Aires

O ITBA é uma faculdade privada, especializada em ensino e pesquisa nas áreas de engenharia, tecnologia e gestão. O instituto foi criado por um grupo de oficiais navais e nasceu com o propósito de incentivar o estudo de engenharia avançada.

Localizado em Porto Madero, região portuária e turística, o ITBA é uma das instituições de ensino superior mais difíceis de se entrar da Argentina. Os motivos que aumentam a concorrência na instituição é um processo de admissão mais rigoroso que a média do país e o fato do ITBA ser uma instituição pequena.

9º – Universidad Nacional de Rosário

A UNR é uma universidade pública localizada em Santa Fé, na cidade Rosário. Ela é formada por 12 faculdades com 124 cursos de pós-graduação e 63 de graduação.

9º – Universidad Nacional del Litoral

A Universidade Nacional do Litoral da Argentina existe desde 1919 e fica na província de Santa Fé, com campi na cidade de mesmo nome (capital da província), Esperanza, Reconquista e Gálvez. Suas área de destaque são Química e Engenharia.

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Sobre o escritor

Mariane Roccelo
Mariane Roccelo
Jornalista. Formada em Jornalismo e Comunicação Social pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Meios e Processos Audiovisuais (PPGMPA) e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM), ambos da USP.

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