InícioColunistasIntercâmbio em Malta: brasileiro conta como assumiu diretoria de organização no país

Intercâmbio em Malta: brasileiro conta como assumiu diretoria de organização no país

Colunista do Estudar Fora - 24/07/2018
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Eu acredito que desde muito cedo, no Brasil, a gente é exposto(a) constantemente a ideia de morar fora, de se desafiar, de “ganhar a vida”. Por vezes, isso acaba sendo uma ideia martelada na nossa mente, que fica ali, meio inerte, até que alguém ou alguma oportunidade bata na nossa porta – ou a gente decida lutar por ela. Comigo, ouso dizer que houve um pouquinho dos dois.

Conheci a AIESEC em 2012, nos corredores da minha universidade. Na época, fui apresentado aos programas de intercâmbio, e, apesar de achar muito interessante, acabei não levando a frente e nem me planejando. Um ano depois, em outra universidade, meu caminho cruzou novamente com o da AIESEC. Além de ter me tornado um membro em efetivo da organização, resolvi, também, me aventurar pela primeira vez no exterior em um intercâmbio voluntário. Meu primeiro destino foi a Argentina e, desde então, não parei mais.

Leia também: Intercâmbio na Ilha de Malta: 4 coisas que ninguém te conta 

Um intercâmbio depois e alguns anos sendo membro voluntário na AIESEC em Santos, resolvi me jogar em um novo desafio. Queria ser Diretor Nacional em uma entidade da AIESEC em outro país. Meu primeiro destino? Malta! Uma pequena ilha próxima a Sicília.

Desbravando a terra do Pastizzi

 Quatro anos trabalhando na AIESEC me fizeram refletir muito sobre que tipo de desafio e desenvolvimento pessoal eu buscava. Eis que, entre tentativas, erros e acertos, acabei indo parar em Malta. Malta enquanto país é super, super pequeno. Só dá, de fato, para se dar conta disso ao chegar e vivenciar o país.

Chegada de Glauco a Malta, em 2017.

 

Malta é composta por três ilhas: Malta, Comino e Gozo. Malta é a maior delas, mas em uma hora, de carro e sem muito trânsito (o que pode ser difícil), dá para ir de uma ponta a outra. Comino é outra ilha pequena e tem a maior “joia” de Malta: Blue Lagoon. Não há muito o que fazer exceto nadar, já que a população local não chega nem a 50 pessoas. Entretanto, o passeio, o mergulho, as fotos, a vista e a memória valem muito a pena. Gozo, por fim, é uma ilha mediana, porém menos urbana do que Malta. Lá o verde praticamente impera e você encontra muito comércio local, paisagens deslumbrantes e, pasmem, até mesmo uma versão local do carnaval.

Como o intercâmbio em Malta expandiu meus horizontes

Trabalhar com Recursos Humanos e Desenvolvimento Organizacional em uma startup é um grande desafio, principalmente na Europa. No Brasil, quando falamos de oportunidade de desenvolvimento pessoal e profissional, temos filas de pessoas esperando por uma oportunidade. Aqui, seja em Malta ou em qualquer outro país europeu, a realidade não é nada, nada similar. Isso fez com que eu precisasse re-aprender como abordar o público, entender como ele pensa e como promover as oportunidades que a AIESEC oferecia. Tudo isso de uma forma mais agradável e até mesmo mais próxima da realidade do meu público alvo.

Em Malta, a realidade é tão distinta do Brasil, que os jovens que estudam economia, no primeiro ano da faculdade, já são recrutados para trabalhar durante o verão por 3 meses e ganham mais do que eu ganharia em um estágio similar, durante 8 meses, no Brasil. E o melhor: o custo de vida é baixo, o que faz com que eles consigam guardar dinheiro. Depois das férias, eles voltam aos estudos e as empresas podem até mesmo contratá-los novamente para voltar nas próximas férias.

A prática parece loucura, mas é real, super incentivada e é aí que mora um dos problemas: como fazer com que oportunidades de voluntariado sejam atraentes para estudantes que simplesmente possuem tantas oportunidades disponíveis? A resposta é simples: estudo e especialização.

Malta, para além dos desafios pessoais, me trouxe desafios profissionais que me tiraram por completo da minha zona de conforto. Também me fizeram buscar respostas, dados, treinamento e consultoria em empresas, startups, incubadoras, universidades e até mesmo junto ao governo. Com isso, carrego comigo uma perspectiva completamente nova de como adaptar o conhecimento teórico e prático que eu já possuía em uma realidade totalmente distinta e desafiadora.

Explorando novas possibilidades na Hungria

Depois de ficar um ano fora e conhecer alguns outros países (França, Portugal, Alemanha, Turquia), senti que era preciso continuar. Um ano morando fora te enriquece como ser humano e certamente te molda como profissional. Entretanto, fica a questão que paira no ar: seria isso o suficiente? Para mim, certamente não. Decidi me desafiar e me jogar em outra oportunidade. Dessa vez, decidi vir parar na Hungria, ainda pela AIESEC.

Por volta de março de 2018 eu tinha três possibilidades claras e tangíveis. Primeiro, continuar na AIESEC em outro país, buscando me aprofundar em outro mercado, outra realidade econômica e social. Segundo, trabalhar em uma empresa fora do país por intermédio da AIESEC em um intercâmbio de Talentos Globais. E, terceiro, voltar ao Brasil e iniciar um mestrado. Optei pelo primeiro.

Glauco a caminho de treinamento na Hungria, em 2018

 

Dizem que toda escolha requer uma renúncia, e eu optei por fazer mais do que uma. Renunciei a algumas possibilidades de trabalho em Malta e também de voltar ao conforto de casa junto aos meus pais. Mas, se você perguntar se eu me arrependo, posso afirmar categoricamente que não, em momento algum. Aqui, estou tendo a oportunidade de gerir um número muito maior de pessoas. Também consigo colocar em prática estratégias e corroborar com o crescimento pessoal e profissional de mais de 400 pessoas, direta e indiretamente. Isso, é claro, sem contar com uma equipe de 12 pessoas e mais de 7 nacionalidades distintas.

Ainda não sei o resultado dessa experiência, uma vez que ela começou bem recentemente. Mas estou certo de que, ao ter optado por doar mais um ano à AIESEC, fiz uma decisão consciente e correta. Também sei que os ganhos que terei aqui vão me tornar um ser humano e um profissional melhor. E isso, sem dúvida nenhuma, responderá minhas dúvidas em torno da famosa ideia de morar fora e ganhar a vida que sempre me martelaram na cabeça desde pequeno. Agora, eu tenho uma pergunta para você que está lendo esse artigo: o quanto mais você vai esperar para lutar por aquilo que te move, te apaixona e que te faz acreditar em mundo melhor?

Sobre o autor

Glauco Leal é formado em Relações Internacionais pela Universidade Católica de Santos. É apaixonado por jornalismo, poesia e uma boa prosa. Já morou em 4 países e atualmente mora em Budapeste, trabalhando como Diretor Nacional de Recursos Humanos da AIESEC na Hungria.

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Sobre o escritor

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