Formado em Administração Pública pela FGV e em Economia pela USP, o Fellow Estudar Vinicius Bueno já possuía uma carreira sólida em políticas públicas quando foi para os Estados Unidos cursar o Master in Public Administration in International Development (MPA/ID) na Kennedy School, em Harvard.
Nesta entrevista, ele compartilha sua experiência no programa, os aprendizados que mais marcaram sua formação e como a experiência em Harvard ampliou sua visão sobre políticas públicas e impacto social. Leia a seguir:
Você pode contar um pouco sobre sua trajetória antes do mestrado?
Antes de ir para Harvard, eu fiz duas graduações no Brasil: Administração Pública na FGV e Economia na USP. Sempre busquei trabalhar com impacto social, criar oportunidades e ajudar a resolver problemas públicos. Minha carreira sempre esteve alinhada ao propósito de gerar oportunidades para que as pessoas possam sonhar e alcançar seus sonhos. Passei pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo, Fundação Lemann, Ministério da Educação e Secretaria da Educação de São Paulo. Foram cerca de quatro a cinco anos trabalhando diretamente com políticas educacionais. Antes do mestrado liderei o Gestão da Aprendizagem na Secretaria de Educação de São Paulo, um projeto prioritário para melhorar a aprendizagem dos 3,5 milhões de estudantes da rede estadual.
Você sempre quis estudar na Kennedy School?
Sim. Desde 2013, no meu primeiro ano da graduação. Fiz um curso perto de Boston e participei de um evento sobre a Kennedy School, fiquei com aquilo na cabeça. O MPA/ID era o que mais combinava comigo: rigor técnico em desenvolvimento econômico, combinado com liderança e habilidades socioemocionais. Acabei aplicando apenas para a Kennedy School. Se não desse certo, tentaria novamente, mas fui aprovado de primeira (embora tenha adiado por conta da pandemia).
Outro fator que pesou foi a forte comunidade brasileira em Harvard. No segundo ano fui presidente da associação de brasileiros da universidade; no primeiro ano, coordenei o “Brasil on Campus”, programa da Fundação Lemann para conectar brasileiros(as) de Harvard, MIT, Columbia, Yale, Stanford e Oxford. Sempre quis manter meus vínculos com o Brasil e contribuir para o país mesmo estando distante.
O que mais te marcou no programa?
As pessoas. Minha turma tinha cerca de 90 alunos de 30 países, todos com trajetórias muito interessantes e compromisso em gerar impacto social. Aprendi demais tanto dentro quanto fora da sala de aula.
Também os professores, muitos são referências mundiais em política pública e desenvolvimento econômico. A Kennedy School promove eventos frequentes com líderes globais, e alguns até ficam como fellows, então você literalmente pode sentar por uma hora para conversar com um ex-primeiro-ministro.
Como é a estrutura do MPA/ID?
São dois anos bem intensos. Cerca de 60% do currículo é obrigatório, com foco pesado em economia: micro avançada, macro avançada, econometria, teorias do desenvolvimento, e uma disciplina muito prática de casos de desenvolvimento econômico.
Os outros 40% são eletivas, e aí há muita liberdade. Fiz matérias na Kennedy School, mas também há oportunidades de cursar disciplinas na Business School, na School of Education e na Law School
Quais foram as aulas mais marcantes para você?
Duas se destacam:
- A disciplina do Ricardo Hausmann, referência em desenvolvimento econômico. Ele criou o Growth Lab e a metodologia de growth diagnostics para apoiar estratégias de desenvolvimento econômico. A parte teórica é excelente, mas o mais marcante foi aplicar tudo em um diagnóstico sobre o Brasil, com colegas de vários países. Hoje, inclusive, trabalho em uma organização que colabora diretamente com o Growth Lab, após ter atuado lá como research assistant durante o mestrado, então foi uma ponte direta para meu trabalho atual.
- O curso de Liderança do Ronald Heifetz, criador do modelo de liderança adaptativa. É um curso muito vivencial, que simula tensões reais, conversas difíceis e dinâmicas de grupo. Muita uita gente se transforma, muitas vezes enfrentando dilemas pessoais e tendo que interagir em ambientes em que a tensão em alguns momentos é alta. Ele é psiquiatra, então entende profundamente comportamento humano. Foi único para mim.
Como era o perfil da sua turma?
Muito diversa em quase tudo: países, experiências, setores. Mas havia um elemento comum: o compromisso com o interesse público. Mesmo quem vinha do setor privado tinha uma motivação forte de gerar impacto em escala.
Apesar do sistema de notas ser competitivo (com ranking), o ambiente era extremamente colaborativo. As matérias são difíceis, especialmente as quantitativas, então formamos grupos de estudo e um sempre ajudava o outro.
De onde vem essa sua disciplina e dedicação aos estudos?
Acho que é interno, um desejo meu de fazer as coisas bem feitas. Mas também vem da minha mãe. Ela sempre teve expectativas altas, cobrava bastante desempenho e investiu muito na minha educação e da minha irmã.
Apesar de ela não trabalhar com políticas públicas (ela sempre esteve no setor empresarial), a trajetória dela me influenciou porque a educação foi o que permitiu que ela crescesse profissionalmente. Acho que ela quis garantir que tivéssemos as melhores oportunidades possíveis.
E agora, no que você está trabalhando?
Atualmente trabalho no Wyoming Business Council, a agência de desenvolvimento econômico do governo do estado de Wyoming, nos Estados Unidos. É uma organização híbrida: governamental, mas com estrutura de governança parecida com o setor privado. Tem board, autonomia para contratação etc. A missão é promover o crescimento econômico do estado, gerando boas oportunidades de emprego e diversificar a economia do estado.
O trabalho está diretamente relacionado ao que aprendi no mestrado. Aplicamos exatamente as metodologias de desenvolvimento econômico que estudei, e trabalhamos muito próximos ao Growth Lab. É como uma “residência médica”, só que para economistas. Você aplica tudo na prática, sob supervisão de pessoas muito experientes.
Pensa em voltar para o Brasil?
Com certeza. Meu visto me permite ficar até 2027, mas meu propósito está muito conectado ao Brasil. Mesmo morando fora, continuo atuando em projetos com governos brasileiros e mentorando brasileiros interessados em Harvard. Tenho buscado disseminar minha tese do mestrado sobre como governadores no Brasil podem entregar melhores resultados, e iniciado conversas sobre a ideia de trazer as metodologias que aprendi no mestrado em estou aplicando em Wyoming para o Brasil, possivelmente por meio de um projeto piloto e futuramente criando uma organização que apoie governos a diagnosticar quais são os principais fatores que limitam seu crescimento econômico e a partir isso desenhar e implementar estratégias que favoreçam o crescimento inclusivo e sustentável de diferentes regiões do Brasil. Eu quero voltar e contribuir com o Brasil no longo prazo.













