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Estudar medicina na Europa vale a pena para pesquisadores, não tanto para médicos

Priscila Bellini - 10/08/2017
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Pensar em universidades europeias é pensar em tradição. E não é pra menos: instituições como a Universidade de Oxford, no Reino Unido, estão em atividade desde o século XI. As escolas de medicina que pertencem às universidades também não ficam longe e primam pela excelência no curso. Além de bons professores e boa infraestrutura, estudar medicina na Europa é especialmente atraente pelo destaque das instituições em campos de pesquisa.

É uma soma de fatores de fazer inveja. Como resume o brasileiro Gabriel Liguori, que cursa o PhD na Universidade de Groningen, na Holanda, e pesquisa engenharia dos tecidos: “Aqui temos muito mais dinheiro, infraestrutura e uma rede de conhecimento do que no Brasil”. Já que as instituições contam com tanto apoio e investimentos robustos, não é de surpreender que as pesquisas sejam mais relevantes e cheguem aos resultados mais rapidamente. “Se você demora muito para fazer algo, outro grupo de pesquisa pode vir e fazer primeiro”, aponta Liguori, que foca o desenvolvimento de próteses cardiovasculares.

Se alguém deseja cursar Medicina para se tornar um bom médico-pesquisador, recomendo fazê-lo na Europa. Se deseja cursar Medicina para se tornar um bom médico, eu diria para fazê-lo no Brasil

No caso dele, a instituição holandesa ofereceu a oportunidade não só de desenvolver uma pesquisa de ponta, como também de se envolver em uma área que não havia chegado às faculdades de medicina no Brasil. Mesmo na Universidade de São Paulo, destaque entre as brasileiras, a engenharia de tecidos não chegara pra valer ao campo da medicina.

Como é estudar medicina na Europa, na prática

Como característica geral, as universidades europeias oferecem aos candidatos de doutorado a chance de passar anos dedicados quase que integralmente à pesquisa. O pesquisador conta com a estrutura consistente e, ainda, com autonomia. Outro ponto vantajoso, como destaca Liguori, tem a ver com a concentração de centros de excelência. “Com duas ou três horas de trem, você está em outra universidade, em outro país, onde eles têm um know how que você ainda não tem e pode ir até lá aprender”, explica ele. Essa proximidade geográfica e a facilidade em se deslocar em diferentes instituições têm efeitos práticos. “Já lidei com essa situação algumas vezes, visitando outras universidades na Holanda e na Alemanha para adquirir novos conhecimentos e implantá-los na minha universidade daqui”.

Para não errar na hora de escolher a universidade europeia, entretanto, é necessário ter alguns cuidados. O primeiro de todos é observar que, em muitas instituições, o curso de medicina exige uma graduação anterior. É semelhante ao padrão americano, em que há o curso pre-medical anterior à medicina. Em outras palavras, se formar na área, na Europa, demandaria o tempo de uma graduação somado à pós-graduação.

Leia também: “Estudar medicina nos Estados Unidos é inviável para brasileiros”

Se, por outro lado, o aluno opta por fazer um mestrado com pesquisa ou doutorado em alguma instituição na Europa, o processo é outro – e varia de acordo com o lugar. De modo geral, como aconselha Liguori, quem escolhe tal grau de formação precisa escolher bem o destino, com base no tipo de pesquisa desenvolvida por lá. “Como um doutorado é 99% dedicado a pesquisa, é necessário conhecer as linhas de pesquisa do grupo no qual se está ingressando”, explica ele. No caso de Liguori, isso significava também verificar qual possibilitaria “estender suas atividades para o Brasil”, para que pudesse continuar o estudo em solo brasileiro.

O tira-teima para decidir se a vivência acadêmica na Europa interessa, portanto, deve começar com um questionamento inicial. “Se alguém deseja cursar Medicina para se tornar um bom médico-pesquisador, recomendo fazê-lo na Europa. Se deseja cursar Medicina para se tornar um bom médico, eu diria para fazê-lo no Brasil”, resume Gabriel Liguori.

Conheça duas universidades europeias que lideram os rankings universitários em medicina:

Universidade de Oxford

Quando se trata da instituição inglesa, fica difícil estipular quando as aulas em medicina começaram – a estimativa é que, desde o século XII, houvesse estudantes na área por lá. A Universidade de Oxford ilustra bem as dificuldades em fazer medicina na Europa. No curso inicial de graduação, assim como no Graduate Entry, a oferta de vagas para alunos estrangeiros é bastante restrita: Somando os dois módulos, são 14 vagas a cada ano, em que alunos do mundo todo competem.
Como Oxford informa, o número de bolsas é ainda menor. No caso dos alunos pré-selecionados, há necessidade de entrevista presencial, que ocorre sempre em dezembro. Sem a possibilidade de bolsas, um estudante brasileiro gastaria, em média, 20 mil libras ao ano com o curso, além dos custos para se manter no Reino Unido, como alimentação e transporte.

Universidade de Coimbra

A instituição portuguesa leva fama pela tradição em diversas áreas, e pela relevância histórica no país desde sua fundação, em 1290. Entre os brasileiros, a UC também ficou famosa por ofertar vagas a brasileiros através do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Entretanto, é necessário lembrar que a Universidade de Coimbra – bem como as outras universidades portuguesas que aderiram ao ENEM – não permite aos candidatos usar o exame brasileiro para o Mestrado Integrado em Medicina, nem para o curso de Medicina Dentária. Como a UC detalha, a restrição veio por um despacho do governo português, já que a concorrência para alunos portugueses era alta.

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Sobre o escritor

Priscila Bellini
Priscila Bellini
Priscila Bellini é jornalista, bolsista Chevening 2018/2019 e mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London School of Economics and Political Science (LSE). Foi colaboradora do Estudar Fora em 2016 e 2017 e editora do portal em 2018.

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