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Intercâmbio na Coreia do Sul: o que uma Fellow Estudar aprendeu em 15 dias no país

Em outubro de 2024, enquanto cursava o Master of Public Administration (MPA) na University of Georgia, Naira Sathiyo participou de uma experiência inédita em sua trajetória: um intercâmbio intensivo de 15 dias na Coreia do Sul. Ela, que é Fellow Estudar e assessora parlamentar na Câmara Municipal de São Paulo, aproveitou a oportunidade para ampliar sua compreensão sobre políticas públicas. A seguir, apresentamos um panorama de sua experiência e dos aprendizados que trouxe do país asiático.

Intercâmbio na Coreia do Sul

O programa, realizado em parceria com a University of Seoul e o Seoul Metropolitan Government, integrava uma disciplina eletiva sobre a Coreia do Sul oferecida no mestrado. A experiência mesclava aulas teóricas, visitas de campo e contato direto com gestores e especialistas sul-coreanos.

Logo no início, Naira teve contato com uma visão ampla de políticas públicas no contexto de uma grande cidade como Seul. As aulas passaram por temas diversos, como meio ambiente, planejamento urbano, transporte público, habitação, juventude e gestão de riscos, sempre conectando teoria e prática. Dentro desse conjunto, a questão da água apareceu com bastante destaque. “A Coreia já enfrentou problemas sérios de abastecimento, enchentes e degradação de rios, então a gestão da água é tratada como uma prioridade real por lá”, explica.

Durante a visita ao sistema de gestão hídrica urbana, ela se impressionou com o nível de reaproveitamento e integração: a água da chuva e a água de rios fazem parte de um mesmo sistema urbano. Esse modelo abastece inclusive estruturas que se tornaram atrações da cidade, como a cachoeira artificial do Cheonggyecheon, instalada em uma área antes degradada. O projeto ajuda a reduzir a temperatura urbana, melhorar a drenagem e criar áreas de lazer. “Você olha e não diz que é artificial, mas é. E muita daquela água vem da água da chuva. Fiz até uma trilha ao redor da cachoeira”, conta.

A gestão de resíduos também chamou sua atenção. Naira chegou ao país acreditando que a incineração seria um método negativo, mas saiu com outra percepção: “Na minha cabeça, queimar era ruim, mas na verdade é um bom jeito de se fazer, se feito do jeito certo”. Em Seul, a incineração é uma etapa final do sistema, usada para o lixo que não pode ser reciclado ou reaproveitado, com forte controle ambiental e geração de energia. As visitas incluíam usinas de processamento de lixo abertas ao público, onde passarelas de vidro permitiam acompanhar todo o processo.

O que a Coreia ensina sobre cidades, população e eficiência

A mobilidade e o planejamento urbano foram os setores que causaram maior impacto em Naira, sobretudo pela semelhança com os desafios de São Paulo. “O sistema de metrô deles é absurdo, o sistema de ônibus é absurdo. Funciona 24 horas por dia e é muito seguro”, destaca.

A tecnologia embarcada nos transportes facilitou a vida do grupo: aplicativos locais substituem o Google Maps, exibem horários em tempo real e tornam a navegação simples mesmo para turistas. Na Secretaria Municipal de Transportes, puderam observar a operação em tempo real. “Eles falaram que, quando um carro quebra, precisam chegar em até seis minutos. E enquanto a gente estava lá, um caminhão quebrou. Eles chegaram em quatro”, lembra.

Outro tema central discutido em aula foi a queda acelerada da taxa de natalidade. “Cada vez mais mulheres optam por não ter filhos. Não é mais um desejo da juventude constituir família, e está caindo muito rápido”, relata. O governo responde com políticas como oferta pública de tratamentos de fertilidade, licenças maternidade e paternidade prolongadas, garantia de emprego e creches integrais, mas, até agora, sem sucesso em reverter a tendência. Para Naira, foi um dos conteúdos teóricos mais marcantes.

Entre as atividades práticas, ela destaca a visita à Fire Academy, em que os treinamentos são feitos com realidade virtual avançada. “É um videogame. A gente coloca os óculos, segura a mangueira pesada e entra em um prédio pegando fogo para salvar pessoas”, conta. O sistema integra comunicação simultânea entre equipes, simulando com precisão uma operação de emergência.

Reflexão sobre políticas públicas no Brasil

Para o trabalho final exigido pelo programa, Naira decidiu conectar Coreia e Brasil comparando as zonas verdes de São Paulo com as da capital sul-coreana. As zonas verdes são espaços projetados para caminhabilidade, ar puro e convivência: “Eles têm espaços fixos de circulação sete dias por semana; nós temos a Paulista fechada um dia”, observa.

A experiência reforçou um diagnóstico que ela já vinha construindo: a diferença crucial entre os países não está apenas em orçamento ou população, mas em vontade política. “Se eu pudesse elencar um ponto principal, seria esse. A vontade política na Coreia é diferente da do Brasil, especialmente de São Paulo”, conta.

Ver soluções funcionando na prática, com rapidez e alto nível de transparência, impactou sua visão de gestão pública. “As pessoas cobram, tudo é público, tudo é transparente”, diz.

Trajetória internacional com propósito local

Hoje, ao aplicar o que aprendeu na Câmara Municipal de São Paulo, Naira sente tanto o poder quanto a frustração do trabalho público. “Aqui é mais lento, mais burocrático. Mas ao mesmo tempo é muito parecido com os Estados Unidos, onde fiz o MPA: polarizado, populoso. Uma diferença importante é que ainda somos um país pobre, e isso muda tudo”, afirma.

Ainda assim, ela insiste na importância de formação qualificada em cargos políticos, algo que, segundo ela, ainda é raro. Ela, que viveu tanto o mestrado nos Estados Unidos quanto a imersão na Coreia do Sul, afirma que sempre quis estudar fora, mas com um objetivo claro: aplicar o conhecimento no Brasil. “Sempre quis ir, mas sabendo que ia voltar”, finaliza.

 

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