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5 diferenças culturais entre Brasil e Portugal nas quais você deve prestar atenção

Gustavo Sumares - 07/11/2022
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Muita gente tem vontade de ir para Portugal porque imagina que o país é igual ao Brasil mas fica na Europa. O fato de a língua ser a mesma entre os dois países acaba alimentando essa ideia. Mas há inúmeras diferenças culturais entre Brasil e Portugal que devem estar na mente de quem pensa em ir estudar nas terras lusitanas.

Deixar de prestar atenção a essas diferenças pode fazer com que você cometa alguma gafe ou simplesmente não entenda por que os portugueses respondem às suas palavras e atitudes de determinada maneira. E se você quer estudar fora, é importante ficar atento a difereças desse tipo!

Por isso, vamos listar abaixo cinco diferenças culturais entre Brasil e Portugal que são importantes para quem deseja visitar o país — e mais importantes ainda para quem quer estudar por lá. Confira:

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5 diferenças culturais entre Brasil e Portugal

Evitar incertezas

Descrever culturas diferentes pode ser bem desafiador, mas há uma série de metodologias masi rígidas que buscam fazer isso de maneira precisa. Uma delas é a abordagem Hofstede, que mapeia diferenças culturais em torno de seis pontos principais, como “Individualismo” e “Orientação ao Longo Prazo”. E comparando Brasil e Portugal de acordo com essa abordagem, uma das maiores diferenças entre os dois está na tendência a evitar incertezas (ou, no original em inglês, “Uncertainty Avoidance”).

Esse ponto avalia quão receptiva a cultura é a novidades ou comportamentos diferentes. Quanto mais alta a pontuação, mais rígidos são os padrões de comportamento da cultura, e menos tolerante ela é com comportamentos fora daquilo que é percebido como “normal”.

Numa escala de 0 a 100, o Brasil tem 76 pontos nesse fator, contra 99 pontos de Portugal. Ou seja: os portugueses, de acordo com essa metodologia, são bem mais apegados às suas maneiras tradicionais de se comportar e fazer as coisas do que nós. É importante ter isso em mente ao ir de um país para o outro. Comportamentos diferentes do esperado pela sociedade local podem ser menos tolerados por lá do que aqui.

Indulgência

Outro ponto que a metodologia Hofstede avalia é chamado de “Indulgência”. Ele se refere à facilidade (ou dificuldade) com a qual as pessoas de uma determinada cultura satisfazem seus impulsos (como comprar algo que tem vontade, por exemplo). Quanto mais alta a pontuação do país, maior a tendência de que seus cidadãos satisfaçam esses desejos impulsivos sem se preocupar muito com as consequências.

O Brasil tem 59 pontos nessa categoria, contra 33 pontos de Portugal. Ou seja: a gente costuma ser mais despreocupado e impulsivo do que os portugueses. Para eles, segundo essa metodologia, atitudes impulsivas são menos comuns e mais custosas; eles normalmente pensam mais detidamente sobre o que vão fazer antes de tomar uma decisão.

Na prática, isso pode indicar que comportamentos impulsivos podem ser menos compreendidos por lá do que são por aqui. Então se você costuma comprar muitas coisas por impulso ou mudar de ideia de última hora por conta de uma intuição, vale a pena considerar que os portugueses podem ser menos compreensivos com comportamentos desse tipo do que os brasileiros.

Melhor para elas

Para mulheres, há uma série de indícios de que Portugal é um país mais receptivo do que o Brasil. É o que aponta o Women, Peace and Security Index 2019, um ranking elaborado pela Universidade de Georgetown em parceria com o Instituto de Pesquisa pela Paz de Oslo. O documento avalia os níveis de inclusão, segurança e justiça para mulheres em diversos países de acordo com fatores como representação parlamentar das mulheres, número médio de anos que elas estudam formalmente e taxa de desemprego entre mulheres.

O Brasil fica na 98ª posição no ranking, atrás de países como Casaquistão, Emirados Árabes Unidos, Gana e Timor-Leste. Segurança é um dos principais motivos para essa posição: quase 75% das mulheres brasileiras dizem se sentir ameaçadas ao andar sozinhas à noite. E estimativas da Human Rights Watch apontam que apenas cerca de um quarto das sobreviventes de violência doméstica denunciam os crimes à polícia, por sentirem que as autoridades são despreparadas, não levam à sério suas denúncias ou obrigam-nas a dar testemunho em áreas sem privacidade.

Já Portugal empata com a Alemanha na 17ª posição. Por lá, as mulheres estão mais representadas no poder estatal, têm mais anos (em média) de estudo formal, menor taxa de desemprego e maior inclusão financeira. Esses indicadores sugerem que a sociedade portuguesa é mais receptiva às mulheres do que o Brasil. Então se aqui comportamentos machistas já são malvistos, lá serão ainda menos tolerados.

Por outro lado, a taxa de violência sofrida pelas mulheres por parte dos parceiros íntimos é mais alta em Portugal do que no Brasil (5% contra 3,1%). Isso pode ser uma distorção causada pelo fato de as mulheres brasileiras terem uma tendência menor a denunciar esse tipo de violência (pelos motivos já mencionados), mas é algo importante de se levar em conta.

A mesma língua?

Embora tanto Portugal quanto o Brasil tenham o português como língua oficial, é incorreto pensar que você pode ir daqui para Portugal e já entender tudo assim que chegar lá. Um dos principais motivos disso é a diferença de pronúncia entre os dois países. No Brasil, tendemos a pronunciar com força todas as vogais de uma palávra; já em Portugal, o mais comum é que apenas a vogal tônica seja efetivamente pronunciada. Com isso, a palávra “mágica” em Portugal pode soar como “májc”, “obrigado” como “brgad” e “universidade” como “nvrsdad”.

Além da pronúncia, há também inúmeras diferenças de vocabulário que podem deixar brasileiros confusos. Por exemplo: lá, os ônibus se chamam “autocarros”, celular é “telemóvel”, pão francês é “cacete”, fila é “bicha”, injeção é “pica”, adolescente é “puto” e as matérias da universidade são “cadeiras”.

E há também algumas diferenças sintáticas (isto é, na construção das frases) que podem causar estranhamento. Lá, em vez de usar o gerúndio (“estou estudando geografia”), as pessoas costumam usar o infinitivo precedido por preposição (“estou a estudar geografia”), por exemplo. Com todos esses fatores misturados (fora outros que não mencionamos), a compreensão pode ficar bem difícil.

Tudo é perto

O Brasil tem mais ou menos, 8,5 milhões de quilômetros quadrados de extensão territorial. Portugal tem cerca de 92 mil quilômetros quadrados. Ou seja: Portugal cabe quase 90 vezes dentro do Brasil. E essa diferença de extensão territorial entre os dois países se reflete numa diferença cultural quanto à percepção de distâncias.

No Brasil, é possível viajar mais de 600 quilômetros sem sair de um mesmo estado. E se você quiser viajar de uma ponta à outra do país, terá diante de si uma viagem de mais de três mil quilômetros (de Porto Alegre a Macapá, por exemplo, são cerca de 3.300 quilômetros). Comparado a isso, uma viagem de 100 quilômetros é uma viagem bem curta.

Não em Portugal: por lá, uma viagem de 100 quilômetros é uma viagem longa. Afinal, o país tem, de leste a oeste, cerca de 200 quilômetros em linha reta. Esse tipo de viagem, portanto, representa atravessar metade do país. Portanto, não se surpreenda se um português ficar chocado ao saber que você viajava mais de 300 quilômetros todo fim de semana para visitar sua família enquanto fazia faculdade na capital.

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Sobre o escritor

Gustavo Sumares
Gustavo Sumares
Gustavo Sumares é o editor do Estudar Fora. Jornalista, já escreveu sobre tecnologia e carreira.

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