Por Felipe Barreto Távora , estudante do Prep Program 2025
Harvard University: apesar de muito conhecida pelos filmes, séries e suas conquistas científicas durante o século XX e XXI, a instituição foi fundada em 1636, e portanto foi marcada em quase 400 anos de história por sucessivas gerações de nomes notáveis em diversas áreas do conhecimento. Durante o século XIX, porém, a grande maioria de seus alunos eram nativos americanos, e a presença de um latino-americano, do então Império Brasileiro, era algo incomum de se ver.
Mas, se algo definia Joaquim Antônio Alves Ribeiro, pode-se dizer que ele era um ser incomum. Desde o início quebrou preconceitos sobre o lugar onde nasceu e a todo momento quis compensar o atraso científico em que sua província vivia quando comparada ao resto do mundo. Ao ir para os Estados Unidos, Joaquim tinha a missão de trazer todos esses conhecimentos para a sua terra, o Ceará.
A história de Joaquim começa no dia 9 de janeiro de 1830, na cidade de Icó, no coração do sertão nordestino e em meio à paisagem semiárida. Em uma família tradicional da época, tinha 16 irmãos e um pai que possuía terras e criava gado para a venda de couro. Por causa disso, acredita-se a admissão de Joaquim à universidade de Harvard foi facilitada pelo contato que seu pai teve com um comerciante.
Até hoje, entretanto, não há informações detalhadas sobre como ele conseguiu o feito de cursar medicina em Harvard em pleno século XIX, mas fato é que se formou em 1853 junto com outros importantes médicos, a exemplo de Zabdiel Boylston Adams, importante cirurgião durante a Guerra Civil Americana. Além disso, em Harvard, Joaquim teve a oportunidade de ter aulas com John Collins Warren, responsável por participar da primeira cirurgia sob anestesia geral da história, em 16 de outubro de 1846.
Após a sua graduação, em 1853, Joaquim poderia ter continuado nos Estados Unidos no auge de seus 23 anos e com boas oportunidades de emprego. Entretanto, ele queria servir ao seu país, e para isso teve de revalidar o seu diploma na Faculdade de Medicina da Bahia para começar a atuar como médico, pois na época existiam apenas duas faculdades de medicina no Brasil: na Bahia e no Rio de Janeiro.
Após a conclusão na Bahia, mudou-se para o interior do Rio Grande do Norte, onde por um ano foi responsável por tratar de uma epidemia. Lá, por saber inglês e francês, atendeu brasileiros e estrangeiros e, por conta das péssimas condições de trabalho e do atraso dos salários, resolveu ir embora.
Nessa nova fase, resolveu abrir uma clínica na cidade de Recife, onde serviu como médico generalista no período de 3 anos. Finalmente, em 1858, Joaquim retorna à sua terra: o Ceará. Em 1859, chegou a participar de uma junta médica que tratou o então prefeito da cidade de Fortaleza, conhecido como boticário Ferreira, em seus dias finais, após sofrer de um aneurisma de aorta abdominal.

Ele foi o primeiro médico da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, criada de 1860 a 1861 e ainda hoje em funcionamento. Nesse sentido, o Doutor Joaquim foi um médico da caridade, já que começou a ser pago pela província do Ceará para cuidar de pessoas que não tinham dinheiro para cuidados com a saúde, recebendo, portanto, a alcunha de “médico dos pobres”.
Além de caridoso, Joaquim a todo momento quis aplicar os conhecimentos que aprendeu em Harvard por meio de um do periódico científico médico “A Lanceta“, um dos primeiros da época e de sua autoria. Ele foi editor e escritor de 3 volumes desse jornal, que trazia artigos científicos, orientações médicas e propaganda das publicações de seus próprios livros, além de outros textos.

Joaquim se destacou por escrever uma espécie de “best-seller” na época, o livro intitulado “O Manual da Parteira”, um manual ilustrado que ajudou muito na condução de partos pelo Brasil. Além disso, ele se preocupou com o bem-estar da sua comunidade de outras formas. Por exemplo, quando conduziu um trabalho científico verificando a qualidade da água que abastecia a cidade por meio do Açude Pajeú, que segundo ele continha água inadequada para beber e era uma das maiores causas da disseminação de doenças na cidade.
O médico também foi o responsável por fundar o primeiro Museu de História Natural do Ceará, inspirado pelo museu de história natural da universidade de Harvard, vendendo para o Estado toda a sua longa coleção de artefatos, como fósseis, animais empalhados, pedras e demais materiais.
Joaquim se casou com a filha de um comerciante britânico, sua prima legítima, e com ela teve 3 filhos, sendo uma filha casada com o famoso romancista Domingos Olímpio. De 1860 a 1870, doenças como cólera e varíola alastravam-se pelo país, e foi por isso que Alves Ribeiro serviu em um lazareto e ajudou a salvar muitas vidas nesse período, já no final de sua carreira.
Até hoje não se sabe a causa exata da morte do Dr. Ribeiro, mas ele ficou enfermo na década de 1870 e procurou ajuda em tratamentos fora do país. Sem sucesso, retornou à Fortaleza e morreu em 2 de maio de 1875.
Apesar de não muito lembrado pelos seus sucessores na medicina, Joaquim foi uma figura importantíssima para o desenvolvimento da medicina no país e do pioneirismo no estudo no exterior, aplicando de maneira muito sábia e grata tudo que aprendeu em Harvard em benefício da sociedade e população de seu próprio país. Por um propósito Joaquim foi movido, e com esse propósito de democratizar o acesso aos cuidados médicos, ele foi eternizado.

A coluna acima foi escrita por Felipe Barreto Távora, participante do Prep Program, preparatório da Fundação Estudar com foco em jovens que desejam cursar a graduação no exterior. Totalmente gratuito, o programa oferece orientação especializada sobre o processo de candidatura em universidades de fora do país. Saiba mais e faça sua inscrição aqui.













