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Brasileiro aprovado dá dicas para conseguir bolsas do maior programa de Stanford

Gustavo Sumares - 19/05/2020
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No dia 15 de fevereiro, enquanto estava almoçando, Bruno Morato recebeu uma ligação. Descobriu, então, que tinha sigdo aprovado pelo programa Knight-Hennessy, um programa de bolsas de pós-graduação em Stanford com um fundo de mais de US$ 750 milhões — e que está atualmente com inscrições abertas para sua próxima turma. Foi a culminação de quase um ano de esforços, e que na visão dele valeria a pena por si só.

“É super legal, mas também é uma experiência muito extenuante”, comenta. A bolsa exige que os candidatos também apliquem para o programa de pós-graduação que desejam cursar. No caso de Bruno, foi o MBA de Stanford. “De certa forma eu achei o processo [de candidatura] para a bolsa mais árduo que o processo para o MBA”, comenta.

A seguir, Bruno conta sobre sua experiência com a candidatura e dá dicas para quem também quer aplicar para o programa de bolsas. Confira!

8 dicas para conseguir uma bolsa do programa Knight-Hennessy

1 – Não tenha medo de mudar de área

Recém-formado como médico, Bruno tem o sonho de empreender na área da saúde. O MBA de Stanford lhe atraiu pelo foco em empreendedorismo, a proximidade da escola com o Vale do Silício e o fato de vários brasileiros egressos do programa serem hoje empreendedores de diversas áreas.

Foi durante o processo de candidatura para o MBA que ele descobriu o programa Knight-Hennessy — durante o application, a escola pergunta se você quer se candidatar às bolsas.  “Foi meio que paixão à primeira vista, porque unia muitas coisas que eu curtia em várias áreas da minha vida: carreiras de impacto, foco em interdisciplinaridade, etc.”, comenta.

Naturalmente, no entanto, Bruno precisou esclarecer na sua candidatura por que gostaria de mudar de área. Fez isso explicando seus planos de criar negócios na área da saúde usando o conhecimento que já tem como médico, e explicando como o programa de MBA de Stanford casava com as suas expectativas para seu futuro profissional.

2 – Não precisa ser um super-aluno

Antes de aplicar, no entanto, Bruno ficou um pouco com o pé atrás. “Eles falam que eles prezam muito por excelência, e então você tem que demonstrar de diversas formas essa excelência”, comenta. Uma delas é por meio das notas, e embora Bruno não fosse mau aluno, ele não tinha certeza de que seu desempenho acadêmico seria suficiente.

“As escolas brasileiras avaliam os alunos de uma forma muito diferente das escolas dos EUA (…) porque lá as notas são em letras, e é mais fácil tirar A do que tirar 10”, comenta. As universidades, no entanto, têm consciência dessa diferença, e entendem que uma nota 7 no histórico de um aluno brasileiro não tem o mesmo peso que um C no de um aluno estadunidense.

No final das contas, Bruno conseguiu demonstrar a excelência que a universidade exigia e ser aceito. Como o application avalia muito mais do que as suas notas, a candidatura dele se sobressaiu. “NBão acho que meu desempenho acadêmico era o que me destacava, e não foi o que me destacou no meu application“, comenta.

3 – Curta a experiência

Bruno recomenda que qualquer pessoa que tenha interesse nos programas de pós-graduação de Stanford tente a bolsa. Segundo ele, a “experiência é enriquecedora por si só”. Ou seja: ainda que você não seja selecionado, passará por algo que vai te ajudar no seu auto-desenvolvimento (e quem sabe até ganhar uma viagem para Stanford com tudo pago).

“Quando eu comecei, eu me sentia quase meio idiota. Tipo, pensava ‘por que eu tô fazendo isso, não vou conseguir'”, lembra. No final das contas, porém, ele conseguiu. Por isso recomenda que todos tentem, mesmo que não confiem totalmente em sua capacidade. “Você não sabe se vai ser a cara do programa. Talvez você seja o perfil [que eles procuram]”, diz.

4 – Aproveite todos os recursos

Em termos de orientação para aplicar à bolsa, Bruno conta que usou muitos dos recursos que a própria universidade disponibiliza. Estudar com cuidado os materiais referentes ao programa e ler com atenção tudo que a universidade publica sobre a oportunidade são dicas que podem ajudar muito mais do que se imagina.

“As pessoas às vezes se perguntam que tipo de alunos o programa está procurando, e isso está lá no site”, pondera. Por isso, ele considera que um ponto importante para quem quer se candidatar é aproveitar todas as informações e orientações que estiverem disponíveis — sem ignorar as fontes oficiais.

5 – Fale do que você gosta

Além dos documentos tradicionais (histórico, diploma, carta de motivação, cartas de recomendação e certificados de proficiência em inglês), o processo seletivo do programa Knight-Hennessy também pede que os candidatos gravem um vídeo. Ele deve ter até cinco minutos e “pedem para você ensinar alguma coisa pros seus colegas de bolsa”, segundo Bruno.

Uma parte difícil do processo é que, por ser mais recente, ele não tem muito histórico: não é tão fácil assim descobrir o que as turmas passadas fizeram que deu certo. Bruno optou então por falar sobre algo que lhe interessava: “blackbox thinking”. “É adotar um mindset parecido com a caixa preta da aviação quando algo dá errado”, explica. Ou seja: olhar, passo a passo, o que levou ao erro, para entender melhor o que aconteceu e extrair lições.

No final, ele sentiu que o importante não foi exatamente o assunto que ele escolheu, mas o fato de que ele falou sobre algo que genuinamente lhe interessava. “As pessoas ensinaram coisas completamente diferentes. Esportes, profissão, etc.”. Em comum, no entanto, os bolsistas falaram com entusiasmo sobre algo que sentiam que podia acrescentar aos colegas, e Bruno sente que foi isso que fez a diferença.

6 – Escolha seus recomendadores com carinho

Uma das partes mais desafiadoras do processo seletivo para as bolsas do Knight-Hennessy, na experiência de Bruno, foi o que ele chama de “gestão de recomendadores”: escolher quem vai escrever suas cartas de recomendações e tomar cuidado para que eles entreguem bons documentos a tempo.

“Ao mesmo tempo que são pessoas em quem você confia, elas estão fazendo um trabalho voluntário para você”, comenta. Esse trabalho envolve conhecer o programa de bolsas, escolher quais histórias vão contar sobre você, e qual linguagem vão usar para contar essas histórias. Nesse ponto, Bruno acha que é válido oferecer algumas orientações.

“Por exemplo: um dos meus recomendadores é do mercado financeiro, e é mais frio. Aí eu falei para ele que ele podia usar uma linguagem mais calorosa”, comenta. Ele também orientou seus recomendadores a serem tão detalhistas quanto possível na sua descrição. Afinal, “se você acha que não é capaz de escrever detalhes sobre mim, talvez você não devesse ser meu recomendador”, sugere.

7 – Espere o inesperado

A parte final da seleção para as bolsas é um “immersion weekend”: um fim de semana em Stanford com tudo pago pela universidade no qual todos os candidatos selecionados até aquele momento passam quase o tempo todo juntos. “É como se fosse um BBB do Knight-Hennessy”, conta Bruno, comparando a experiência ao reality show. “Tem uma programação extensa de atividades, e você fica se perguntando se eles estão te avaliando o tempo todo”, complementa.

Essas atividades, segundo ele, vão desde palestras e aulas até “uma oficina de improvisação com professores de teatro”. “Eu fui super com o pé atrás, porque eu sou 0 do teatro, tava super ansioso”, lembra. No final, a oficina foi uma série de microdinâmicas facilitadas por professores de Stanford, e Bruno conta que “foi super legal”. “Serviu para fortalecer os laços”, avalia.

O fato de que ele conseguiu extrair algo positivo de uma experiência para a qual ele não estava nada preparado — e que, segundo ele, tem pouco a ver com os interesses e habilidades dele — é um bom indicativo da atitude de alguém que é aprovado pelo programa.

8 – Tenha em mente o cenário atual

Bruno ficou sabendo de sua aprovação no Knight-Hennessy em fevereiro. De lá para cá, viu a pandemia do COVID-19 se espalhar pelo mundo, fronteiras internacionais se fecharem e cidades inteiras entrarem em lockdown. “Tem muitas incertezas. A gnt não sabe se o semestre vai começar presencialmente, como vai ser, etc”, comenta.

Essa situação precisa estar na “balança” de quem está pensando em estudar fora: obviamente, a experiência pode ser bem diferente. “Então acho que vale muito a pena você perguntar qualquer quer tirar da experiência, e se o objetivo vai ser impactado pela crise”, recomenda Bruno.

Ao mesmo tempo, há outro aspecto da crise atual que pode ser levado em consideração. “O custo de oportunidade durante as crises é bem menor. Então talvez seja uma boa hora pra parar e tentar algo diferente”, avalia.

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Sobre o escritor

Gustavo Sumares
Gustavo Sumares
Gustavo Sumares é o editor do Estudar Fora. Jornalista, já escreveu sobre tecnologia e carreira.

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