InícioIntercâmbioÉ possível fazer intercâmbio a dois? Confira dicas de casal brasileiro

É possível fazer intercâmbio a dois? Confira dicas de casal brasileiro

Priscila Bellini - 12/06/2017
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O intercâmbio pode parecer o tipo de experiência que um estudante tem sozinho. Ao embarcar em um avião, as vivências que o esperam no país de destino têm a ver só com ele — e seus avanços na carreira e na academia. Mas, para quem namora ou já tem um relacionamento estável, fica a pergunta: afinal, é possível fazer um intercâmbio a dois?

A resposta mais certeira é simples: depende do casal. Não raro, casais optam pelo relacionamento à distância e ficam um período separados, um em cada país. Por outro lado, há quem não queira lidar com a distância e prefira seguir para o período no exterior junto ao companheiro. Foi o caso dos brasileiros Rodolfo e Sarah Benevenuto, que decidiram fazer as malas em 2016. Eles haviam começado o namoro em 2011, ao fim da graduação, e, em 2014, se casaram. “Muita gente nos perguntava se não seria melhor viajar, estudar e trabalhar um pouco mais, antes de casar e criar raízes. Mas acho que, no nosso caso, nossas raízes cresceram um no outro”, explica Rodolfo, que cursa o PhD no Trinity College Dublin, na Irlanda, em um programa desenvolvido em parceria com o MIT (Massachussetts Institute of Technology).

Entre tomar essa decisão e de fato embarcar para a Irlanda, entretanto, houve muito planejamento. Isso porque, a princípio, nenhum dos dois receberia bolsa de estudo. “Nós tomamos a decisão definitiva de vir quando conseguimos juntar um equivalente a quatro meses de gastos”, esclarece Rodolfo. Ainda em 2016, entretanto, o engenheiro paulista conseguiu apoio da Fundação Estudar. Já a esposa, que desenvolve pesquisas em Neurociência, seguiu para o Trinity College Dublin graças a um programa de parceria com a Universidade de São Paulo, onde se formou.

Decisão em conjunto

No processo que vai desde a decisão por estudar fora até a realização desse objetivo, o diálogo é fundamental. “Uma lição importante que aprendi no casamento foi a de nunca tomar uma decisão importante sozinho. Sem dúvida, isso exige muita abnegação de ambas as partes e muito, mas muito planejamento”, conta Rodolfo, que investiga no PhD como os transportes podem ajudar no combate à pobreza.

Todo esse cuidado durante o planejamento vale a pena para o casal e vira quase um pré-requisito. “Sem isso, acho difícil transformar um par de sonhos em um sonho para um par”, resume o brasileiro. Isso porque, em casos como o de Rodolfo e Sarah, a distância era um preço que estava fora de cogitação e a saída era pensar muito sobre cada passo dado.

Mesmo determinados a permanecer juntos, eles perceberam que haveria dificuldades. Para começar, raramente as propostas recebidas contemplavam ambos. Há bolsas que incluem o family allowance, por exemplo, mas elas são mais escassas. Além disso, os dois não encontrariam, muito provavelmente, um edital que incluísse os dois perfis, vindos da área de Medicina e de Transportes. “O que ficou de lição para nós foi que, se as oportunidades não aparecem, é preciso criá-las”, diz Rodolfo. Foi com isso em mente que conseguiram viabilizar a experiência em Dublin, sempre levando em conta um “plano B”.

Como viabilizar o intercâmbio a dois

Se os editais, via de regra, não contemplam o casal, qual o melhor caminho? Novamente, o ponto-chave é planejamento. O primeiro passo é avaliar quais são os programas de bolsas nacionais e internacionais que se encaixam para um e para o outro. Leve em conta o campo de pesquisa de interesse, as instituições que atraiam o pesquisador, a abordagem do curso… Tudo deve ser colocado na equação.

“Também recomendo verificar as oportunidades de emprego durante o período de estudos”, diz Rodolfo, que incluía essa possibilidade no seu “plano B” junto à esposa. Se o orçamento é apertado, há ainda saídas como financiamento estudantil e empréstimos. Outra estratégia apontada pelo brasileiro foi a que aplicou no planejamento para o período em Dublin. “Recomendo preparar uma reserva para os primeiros meses”, indica ele, que separou junto à companheira o equivalente a quatro meses. Vale lembrar que muitos países exigem essa reserva na hora de aceitar os pedidos de visto.

Recompensas de estudar fora a dois

Não é novidade que uma experiência no exterior pode abrir portas para o aperfeiçoamento profissional e para a pesquisa acadêmica. “O meio acadêmico em que estamos por si só já proporciona um contato muito grande com outros pesquisadores de várias partes do mundo”, conta Rodolfo Benevenuto. “Nós temos a oportunidade de absorver não apenas conhecimento técnico nas nossas áreas, mas também muitas histórias inspiradoras e outras visões de mundo”, resume.

Como ele destaca, ter a companheira por perto oferece o apoio necessário nos dias mais difíceis dessa experiência, em um país tão longe de casa. “Se adaptar a uma cultura nova, a um lugar onde a vida acontece em outro idioma e seus relacionamentos mais próximos dependem de uma conexão Wi-fi pode ser bastante desafiador no começo”, comenta ele. “Hoje, independentemente do lugar onde estejamos, basta estar ao lado dela para me sentir em casa”, conclui.

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Sobre o escritor

Priscila Bellini
Priscila Bellini
Priscila Bellini é jornalista, bolsista Chevening 2018/2019 e mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London School of Economics and Political Science (LSE). Foi colaboradora do Estudar Fora em 2016 e 2017 e editora do portal em 2018.

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