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Bolsista da Endeavour dá dicas sobre o processo seletivo

Nathalia Bustamante - 03/05/2017
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Uma das bolsas mais desejadas por brasileiros acabou de anunciar o início das inscrições. As bolsas Endeavour, oferecidas pelo governo da Austrália, atraem estudantes não apenas por seus benefícios generosos, mas também pela oportunidade de estudar em universidades renomadas em um dos países mais bonitos do mundo. Mas o processo seletivo da Endeavour é competitivo e trabalhoso, como comenta Carolina Modesto – uma das brasileiras contempladas pela bolsa em 2016. “É preciso ter persistência para ir atrás de todos os documentos”, afirma.

Carolina, que fez sua graduação em Relações Públicas na ECA-USP, hoje estuda “Development Studies” na Universidade de Melbourne. Ao longo de meses de preparação, ela acumulou bastante experiência com candidaturas: até o aceite da Endeavour, foram 5 applications sem sucesso. Em conversa com o Estudar Fora, ela falou sobre o processo seletivo da Endeavour e dá dicas para quem sonha em chegar lá em 2017.

A decisão de estudar no exterior

Ainda durante a graduação, Carolina já tinha passado um ano no Chile, através de uma parceria da própria USP. Voltando ao Brasil, trabalhou em empresas privadas e não governamentais, começando a construir uma carreira na área de comunicação, mesmo sem ter muita segurança sobre o rumo que seguiria.

Foi ao participar de um dos cursos presenciais da Fundação Estudar, o Liderança Na Prática (antigo Laboratório), que Carolina conseguiu dar uma pausa para respirar e refletir. “Eu não sabia o que queria, que linha seguir. E o curso me deu o tempo que eu precisava para pensar no meu sonho grande, e no que me fazia feliz”, relembra.

Decidiu, então, abandonar o emprego e voltar a estudar. “Sabia que meu emprego não estava no caminho do meu propósito, então decidi focar 100% no processo seletivo para mestrado e em buscar bolsas internacionais”.

Endeavour não era sua primeira opção

Carolina passou meses pesquisando editais e possíveis destinos. A Austrália não estava entre as primeiras opções – antes, ela tentou a Chevening, do Reino Unido, e bolsas do DAAD, da Alemanha. A preparação exigiu um investimento grande – tanto financeiro quanto psicológico.

Em seu primeiro exame de proficiência em inglês, não conseguiu a nota mínima. O jeito foi tentar a prova mais uma vez, conseguindo alcançar 6,5 no IELTS. Para conseguir arcar com gastos com provas e traduções, passou por diferentes empregos temporários durante os meses da candidatura.

Apesar de ter recebido o aceite de universidades no Reino Unido, não foi aprovada no rigoroso processo seletivo da bolsa Chevening, do governo britânico. “Estava no pico do esgotamento quando vi a Austrália”, relembra ela. “Por isso brinco que não escolhi a Austrália, a Austrália me escolheu”, ri.

“Os ‘nãos’ foram muito importantes para me fortalecer. E, no final, a gente só precisa de um ‘sim’.”

Carolina se deu, então, um ultimato: esta seria a última tentativa. Se não fosse aprovada no processo seletivo da Endeavour, tentaria fazer um mestrado no Brasil.

O processo seletivo da Endeavour

Como já tinha preparado boa parte dos documentos solicitados, como traduções e certificado de inglês, seu foco foi correr atrás da carta de aceite da Universidade. Desde sua participação no Liderança Na Prática, ela tinha se envolvido bastante com projetos sociais, e queria que este fosse o foco do seu mestrado no exterior. Encontrou, na Universidade de Melbourne, um curso que unia a gestão de projetos sociais de forma ampla e multidisciplinar à visão internacional: “Development Studies”. O curso une desenvolvimento internacional a uma visão socioeconômica e trabalho humanitário.

Mesmo sem ter contatos na universidade, foi relativamente simples conseguir a aprovação. “Como este mestrado é profissional, não precisei fazer projeto de pesquisa e nem estabelecer contato prévio com o orientador”, explica. A candidatura foi toda feita online. A Universidade anunciava que o retorno seria dado em até 6 semanas, mas a candidatura à bolsa Endeavour se encerrava em 4. No final, a carta de aceite da universidade chegou em três semanas – tempo exato que ela precisava para concluir a candidatura com calma.

Carolina acredita que seu envolvimento em trabalhos voluntários, na ONG Cidadão Pró-Mundo, tenha somado muitos pontos para sua application. “Era algo que eu fazia com muito amor, não para conseguir preencher nenhuma candidatura. Acho que eles pensam ‘se ela está preocupada com a comunidade dela aqui, é provável que vá fazer um trabalho que traga o bem para os dois países”, analisa.

“O processo seletivo da Endeavour é mais trabalhoso que difícil, na verdade”, argumenta ela. Afinal, é uma etapa única e candidaturas incompletas não são nem sequer avaliadas. A Endeavour recebeu mais de 6 mil inscrições em 2016. Destas, apenas 500 foras consideradas completas e elegíveis. Entre elas, um aceite que chegou na caixa de e-mail de Carolina. “Foi a realização de um sonho”, relembra.

Depois de 5 applications negados, aquele 1 “sim” mudaria sua vida. “Os ‘nãos’ foram muito importantes para me fortalecer. E, no final, a gente só precisa de um ‘sim’”, conclui.

Hoje, há quase oito meses na Austrália, Carolina compartilha suas experiências em um blog pessoal, Modesto Diário.

Dicas para quem quer se candidatar

Carolina embarcou para Melbourne em julho do ano passado, para o curso que se iniciava em setembro. Como o curso é full time, ela não trabalhou – embora o visto de estudante permita trabalhos em meio-período e em finais de semana. O curso escolhido não foi 100% coberto pela bolsa Endeavour, e por isso ela realizou alguns projetos temporários – e economizou bastante – para pagar a diferença. Mesmo assim, o governo da Austrália arcou com suas passagens, seguro-saúde, boa parte da mensalidade e 3 mil dólares australianos para manutenção no país.

 

Abaixo, Carolina listou seus 8 maiores aprendizados com o processo seletivo da Endeavour, que culminaram em sua aprovação:

  1. Leia e releia todo o edital com calma. Tudo o que você precisa para passar está dentro de você e no edital;
  2. Reserve tempo para escrever as essays com coerência, conectando seus interesses com histórico e projetos futuros.
  3. Escolha bem quem vai escrever suas recomendações – pense em alguém que te conhece bem e seja MUITO grata a esta pessoa, pois é um processo bastante trabalhoso.
  4. Atenha-se às normas do edital. Por exemplo, eu fiz tradução juramentada e autenticada em cartório de todos os documentos, mas não era necessário – tenho colegas que fizeram sozinhos e certificaram com um professor.
  5. Aceite seus ‘nãos’. Tenha humildade de aceitar que não era o momento certo e resiliência para continuar, aproveitando os aprendizados. Não entre na estatística dos que desistiram, se isso é o que você realmente deseja.
  6. Cuidado com o fuso horário da Austrália! Sydney, por exemplo, está 13 horas à frente de São Paulo. Na dúvida, programe-se para enviar a candidatura no dia anterior.
  7. Fique atento ao valor do curso que você escolheu. A bolsa tem um limite e, se o valor do curso for superior, caberá a você pagar o excesso.
  8. Depois que enviou a candidatura, relaxe. Eles demoram para dar a resposta, e se preocupar não vai levar a nada neste momento.

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Sobre o escritor

Nathalia Bustamante
Nathalia Bustamante
Nathalia Bustamante é jornalista formada pela UFJF. Foi editora do Estudar Fora entre 2016 e 2018 e hoje é coordenadora de Conteúdo Educacional na Fundação Estudar.

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