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O professor que mirou em Stanford e acertou a NASA

Nathalia Bustamante - 08/04/2016
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Por Nathalia Bustamante

Professor do curso de engenharia da Universidade Federal de Santa Catarina, Jonny Silva tem no currículo uma especialização no Japão, pesquisa na Inglaterra e nos Estados Unidos. Tantas experiências internacionais, porém, acabaram aumentando sua conexão com a terra natal. “Todo brasileiro que vai para fora melhora sua relação com o Brasil. As características do país ficam mais claras – tanto as positivas quanto as negativas – e isso me estimulou muito a ser agente de mudança”, explica.

Formado em engenharia mecânica pela Universidade Federal da Paraíba, Jonny trabalhou em campo por anos, até decidir que teria mais espaço para trabalhar com inovação e tecnologia na academia. “Foi uma das decisões mais difíceis e acertadas da minha vida – sair do mercado e entrar no mestrado”, completa. Além da mudança de área, Jonny também mudou radicalmente de vida: saiu do emprego no Maranhão e mudou-se para Florianópolis, onde foi aceito para o programa de mestrado da UFSC.

Todo brasileiro que vai para fora melhora sua relação com o Brasil. As características do país ficam mais claras – tanto as positivas quanto as negativas

A carreira acadêmica é vista por muitos como engessada, mas Jonny é prova do contrário: há, sim, muita motivação e inovação nas universidades brasileiras. “Infelizmente, as áreas do conhecimento ainda estão muito desconectadas. É preciso criar pontes, e não muros, e a universidade seria o lugar para isso. Só precisamos mudar esta mentalidade”, comenta.

Pós no Japão, Doutorado na Inglaterra

Ao concluir o mestrado em engenharia, Jonny continuou como pesquisador no laboratório da UFSC, até que uma oportunidade do governo japonês, o levou para o outro lado do mundo. O programa era uma especialização em engenharia hidráulica no Kyushu International Center. “É uma estrutura interessante, porque a seleção é feita pelo governo, mas o programa é financiado por empresas privadas”, explica ele.

Durante cinco meses, ele estudou com um grupo de 8 estudantes vindos de 7 países diferentes. “Do ponto de vista teórico, como eu já tinha o mestrado, não foi tão desafiador. Mas foi uma grande lição do ponto de vista de interação industrial. Conhecemos as melhores empresas do Japão e o eles têm um projeto de nação que é impressionante”, comenta ele.

Retornando ao Brasil, Jonny prestou concurso para professor da UFSC e lá começou também seu doutorado. “Tive que replanejar minha carreira neste momento. Tinha o sonho de fazer doutorado fora do país, mas como já tinha passado no concurso, optei por fazer apenas parte do programa na Inglaterra”, diz ele.

Assim, através de um acordo de cooperação com a Universidade de Lancaster, conduziu lá sua pesquisa em Inteligência Artificial. O que mais lhe marcou deste período foi a exposição internacional. Estando na Europa, pôde com muito mais facilidade publicar artigos e participar de congressos de engenharia em outros países: Alemanha, Finlândia e até mesmo nos Estados Unidos, na Universidade de Stanford.

[Nos Estados Unidos] Eles têm essa abertura de querer os melhores, independentemente de onde sejam

Como pesquisador na Universidade de Lancaster, porém, ele sentiu na pele a falta de abertura do time. “Independentemente de quanto eu trabalhasse, nunca seria suficientemente integrado”, desabafa. “A relação foi muito boa com meu orientador, mas senti que, para eles, sempre seria um estrangeiro”, completa.

Esta percepção foi diferente quando conduziu sua pesquisa de pós-doutorado nos Estados Unidos, que ele vê como um país mais aberto a aproveitar talentos de fora do país. “O coordenador da minha pesquisa na NASA era um alemão. Eles têm essa abertura de querer os melhores, independentemente de onde sejam”, observa.

Pós-Doutorado na NASA

Retornando ao Brasil, Jonny assumiu a coordenação do curso de Engenharia Mecânica na UFSC – posição que ocupou por 4 anos e que lhe aprazia, mas que trazia a perspectiva de enveredar para a área administrativa da Universidade. “Sabia que se continuasse lá, seria chamado para outras posições e teria que adiar ou desistir do meu projeto de fazer um pós-doutorado no exterior.”

O pós-doutorado, diferentemente do mestrado ou do PhD, não é uma titulação acadêmica. “Considera-se pós-doc tudo o que se faz depois do doutorado e que tenha mais de 3 meses de duração”, explica o professor. O processo para ser aceito é menos padronizado que a candidatura a mestrado ou graduação: primeiro, é necessário ser aceito como pesquisador da universidade em que irá. Então, o supervisor deve gerar uma carta de convite que, juntamente com o certificado de proficiência e o projeto de pesquisa, são submetidos para concorrer à bolsa.

Desde que apresentara um artigo sobre a sua pesquisa de doutorado na Universidade de Stanford, ele tinha planejado ir para lá. “Fiquei encantado pela estrutura da universidade”, confessa.

O contato que fez em Stanford, porém, não teve sucesso. “O professor orientador não respondeu meu e-mail e também não poderia falar ao telefone, pois era surdo”, relembra ele. Meses depois, ele receberia um contato do mesmo professor convidando-o para o pós-doc. Mas então, o seu plano B já parecia uma opção ainda melhor que o original.

Enquanto ainda lidava com a ausência de resposta da Universidade de Stanford, Jonny descobriu que a NASA também possuía um projeto de pós-doutorado. “Encontrei um artigo de dois pesquisadores da NASA e escrevi um e-mail para eles com 5 perguntas e respostas sobre mim. A estratégia deu certo”.

Seria mais fácil mirar em escolas médias ou pequenas, mas resolvi ousar e, no fim, não poderia projetar um cenário melhor para o meu pós-doc

Aceito no processo depois de idas e vindas com a carta de recomendação (os pesquisadores que ele contatou primeiramente não poderiam gerar a carta de aceite de que ele precisava, e ele precisou encontrar outra equipe do mesmo laboratório), Jonny embarcou para Mountain View, no coração do Vale do Silício.

“Uma dica que dou, desde então, é que quando estiver elaborando sua visão, pense no melhor dos mundos”, aconselha ele. “Seria mais fácil mirar em escolas médias ou pequenas, mas resolvi ousar e, no fim, não poderia projetar um cenário melhor para o meu pós-doc”, comenta ele.

Jonny trabalhou por um ano no Ames Research Center – tendo publicado três trabalhos e interagido com especialistas de 4 países. “A experiência de estar no Vale do Silício é realmente incrível”, comenta.

Mesmo tendo recebido um convite para se candidatar a uma vaga de pesquisador em um dos projetos da NASA, o professor optou por voltar para o Brasil. “Além do vínculo com a universidade que tinha devido à minha bolsa da CAPES, também tinha meu filho, então com 3 anos, que tinha ficado no Brasil. Não poderia aceitar”, justifica. Contribuiu para a decisão também a visão de que, aqui, poderia fazer mais diferença do que no Vale do Silício.

Com o pós-doutorado completo, Jonny – um curioso por natureza – quis explorar outras possibilidades fora da academia. Ciente de como foram importantes as difíceis decisões de carreira que tomou e percebendo como sua trajetória servia como referência motivacional para os seus alunos, Jonny passou a pesquisar sobre coaching profissional e fez um treinamento com o Instituto Brasileiro de Coaching (IBC).

Hoje, além da orientação técnica que oferece aos seus orientandos do mestrado e doutorado, o professor que mirou em Stanford e acertou na Nasa também auxilia outras pessoas a tomarem decisões corajosas e ambiciosas com mais propriedade e autoconhecimento.

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Sobre o escritor

Nathalia Bustamante
Nathalia Bustamante
Nathalia Bustamante é jornalista formada pela UFJF. Foi editora do Estudar Fora entre 2016 e 2018 e hoje é coordenadora de Conteúdo Educacional na Fundação Estudar.

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