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Conciliando esporte de alto rendimento e ensino médio: a rotina de um estudante atleta

Por Giovana Ramalho Lacerda , estudante do Prep Program 2025

É geralmente durante a fase da adolescência que nós jovens despertamos vários interesses e vivenciamos momentos de autodescoberta, tanto nas matérias do colégio quanto em atividades extracurriculares, como o esporte. Em meio a essas descobertas, vários jovens se identificam com o esporte devido à sua variedade de modalidades, tanto para garantirem momentos de leveza e relaxamento durante semanas estressantes de tarefas quanto de maneira competitiva. 

Para mim, Giovana Lacerda (gi:), o esporte já teve diversas funções. Aos 12 anos, comecei a correr de maneira lúdica: treinava sem grande compromisso nem objetivo. Porém, inspirada pela minha mãe, que corria rotineiramente e é portadora de diabetes mellitus I  há 45 anos, fui gradualmente me tornando uma jovem mais engajada com a corrida. Aos 13 anos de idade, cursando o 8º ano,  assumi a rotina, de treinar 2x  à noite e 1x quase de madrugada, o que me levou a conseguir correr 30km. 

Após chegar a essa quilometragem, decidi atribuir à corrida uma maior dimensão na minha vida: quis ingressar no atletismo competitivo justo quando meu ensino médio teve início. Para seguir este objetivo, seria necessário treinar duas vezes por semana antes do horário do colégio, além de outras 4-5 vezes independentemente. 

Com isso, centenas de dúvidas e preocupações surgem ao mesmo tempo: como conciliar esses treinamentos intensos com um alto desempenho acadêmico e carga de outras extracurriculares? Encontrei a resposta para esta pergunta ao viver, me adaptar e me reestruturar nessa rotina movimentada. Venho aqui compartilhar minha experiência, e, espero, estimular mais estudantes atletas a incorporarem o esporte em suas vidas!

Durante 2 anos, duas vezes por semanas acordava às 04:30, me deslocava até a pista de atletismo, onde de 05:30 às 07:00 treinava com uma equipe que tinha o mesmo foco em competições. Com treinos bastante intensos, nos quais terminava as voltas lutando para conectar minha respiração com o oxigênio disponível, tomava café da manhã no carro e banho no colégio, antes de subir para aula. Nas outras 4x, fazia um treino de corrida e uma série de exercícios de fortalecimento. E, em algumas das semanas, uma vez adicional de corrida regenerativa. 

Simultaneamente, cursava o tradicional ensino médio brasileiro, liderava o clube de simulações do colégio, fundava a conferência também da escola, e estava criando um projeto de impacto social para juventude na política. 

Para conciliar estes compromissos, primeiro precisei aprimorar meu autoconhecimento. Percebi que estudava melhor após correr, e no período da noite. Notei também que eu era mais produtivo quando fazia uma mesma atividade ou estudava uma mesma matéria por horas seguidas ao invés de alternar. Tendo isso em vista, organizei primeiro os horários fixos de reunião e aulas das minhas atividades acadêmicas, e em seguida estabeleci períodos de estudo para o colégio, interrompidos pelos meus treinos de corrida independentes. 

Outro aspecto muito emblemático na vida do estudante atleta é o estresse com competições, possíveis viagens para realizá-las e pressão para além da vida escolar. Ao longo dos meus 2 anos com corrida competitiva, fui 4x patrocinada pela federação local de atletismo para representar meu estado, a Bahia, em campeonatos regionais e nacionais. Com isso, os treinos ficaram mais intensos, consequentemente mais cansativos, e eu necessitava de mais horas de sono.

Além disso, perdia dias de aula devido às viagens, e havia sempre aquela expectativa de obter bons resultados no campeonato, tanto de mim mesma quanto externa. Sempre tentava ao máximo garantir que os professores soubessem sobre essa rotina de atleta, além de sempre contar com colegas também para enviarem o conteúdo dos dias perdidos. Foi muito importante para mim compartilhar sobre a minha rotina e objetivo com os professores e outras pessoas do meu cotidiano, pois me sentia mais à vontade para pedir ajuda para essa recuperação de conteúdos e fazer dúvidas sobre “as exatas mesmas coisas que foram faladas em sala de aula”. 

Sobre a pressão, e o aspecto psicológico de maneira geral, é inegável que eu me pressionava por estar representando meu estado, por querer “fazer valer” os treinamento árduos e  por estar sendo patrocinada, entre outros. Muitas vezes tentava pensar que o esporte não era tudo para mim: era uma possibilidade a mais de me descobrir, assim como era o colégio e meus projetos.

É difícil, também, abstrair das expectativas alheias, desde família, treinadores, escola, etc. Mas se teve algo de importante que aprendi ao longo dos anos em competições foi que a minha postura seria a determinante da expectativa sobre mim. Se eu podia representar algo enquanto estudante atleta era que eu era plural, pois era estudante, atleta, e idealizadora de iniciativas sociais. Por isso, passei a valorizar a maneira como essas atribuições compunham a minha individualidade e autenticidade enquanto ser interdisciplinar com suas experiências, ao invés de focar no desempenho pontual de cada aspecto.

Muitas vezes, na vida de estudante atleta, dar o “zoom out” para analisar a diversidade de experiências que você enfrenta na sua vida é a chave para se ver como ouro. E ouro não no sentido de medida de meu valor, mas no sentido de ficar contente comigo mesma e me enxergar com preciosidade. 

Atualmente, não faço mais corridas competitivas com a mesma intensidade que comecei. Porém, tendo este esporte já enraizado na minha essência, continuo treinando para corridas de longas distâncias, e consegui correr 2 meias-maratonas durante o penúltimo ano do meu ensino médio. Fui encontrando meus caminhos em outras atividades, como feiras de ciência, e agora o esporte assume o papel de manutenção de saúde mental e bem estar, e não mais de competição

Apesar de estar escrevendo aqui sobre competitividade e esporte, gosto sempre de lembrar que somos jovens, e que não devemos estabelecer funções concretas e obrigações rígidas para aquilo que fazemos por paixão. Se fui me encontrando e me identificando com outras atividades além do esporte, percebi que não precisava me prender à rotina e à seriedade com a qual eu enxergava a corrida. Eu tinha a escolha de agora atribuir a ela outra função em minha vida, e foi isso que fiz. Não é porque começamos uma atividade que precisamos levá-la da mesma forma como começamos! 

Com isso em mente, desejo a vocês a melhor trajetória possível de competição! Explorem o esporte e o quão bem ele pode fazer a vocês. Se tiverem esses objetivos, mergulhem fundo nesta jornada, mas sem obrigações de tornar o esporte o meio da sua vida:) 

Estou aqui na torcida por vocês!


 

Giovana é uma estudante soteropolitana de 17 anos, atualmente no 3º ano do ensino médio. Sua ambição de estudar no exterior surgiu cedo e, desde o 9º ano, participa ativamente de Simulações das Nações Unidas, acumulando experiência em cerca de 40 conferências. Também se dedica à pesquisa científica, investigando os efeitos das redes sociais em jovens. Seu objetivo é cursar Ciência Política e advogar pelo acesso ao esporte.

 


A coluna acima foi escrita por Giovana Ramalho Lacerda, participante do Prep Program, preparatório da Fundação Estudar com foco em jovens que desejam cursar a graduação no exterior. Totalmente gratuito, o programa oferece orientação especializada sobre o processo de candidatura em universidades de fora do país. Saiba mais e faça sua inscrição aqui.

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