Por Beatriz Moraes, estudante do Prep Program 2025
“Meu Deus, agora é real”
Era o que eu falava para mim mesma, dia 15 de julho de 2023, às 21:15, com 15 anos, na cadeira de um avião, pronta para embarcar no meu primeiro intercâmbio. Depois desse, mais um programa viria.
Desde pequena, estudar fora para mim era mais que um sonho: era uma meta. Como toda irmã mais velha, desde a infância eu fui independente e responsável. Grande parte disso vem da minha mãe, que dizia que me “criou para o mundo” e me deu liberdade para fazer minhas próprias escolhas. E também do meu pai, que falava que estudo era o mais importante, sempre.
Então, com somente 15 anos, eu passei na minha primeira oportunidade internacional com bolsa e fui para Nova Iorque totalmente sozinha por duas semanas. Nunca tinha ido para fora antes, então tudo me impressionava: as ruas sem postes de eletricidade, os prédios altos e o sentimento de liberdade.
No ano seguinte, me inscrevi em novas oportunidades e, de repente, lá estava eu novamente em Washington, DC, na Georgetown University. Foi lá que comemorei meu aniversário de 17 anos, com uma pequena festa decorada com a frase “In my birthday era” (na minha era de aniversário) em letras brilhantes — uma referência à Taylor Swift, porque até em outro país e idioma, dou um jeito de mostrar meu amor pela loirinha. E o primeiro pedaço de bolo? Foi para a Bia.
Não, não estou falando de mim, mas da Bia Tulio — uma brasileira que conheci no programa. Apesar de ter a minha idade e o mesmo nome que eu, ela não era participante: era mentora, ganhando em dólar. Bia se tornou uma das minhas melhores amigas lá, mas, na época, não me contou que já havia sido aprovada em mais de 11 oportunidades internacionais e que havia virado professora de intercâmbio. Em entrevista, ela compartilhou um pouco da sua trajetória e vai me ajudar a dividir com você conselhos práticos para também estudar fora do Brasil.
Não se esqueça da pasta de documentos em casa
“Cadê a pasta preta?” Era o que meu pai me perguntava minutos antes de entrarmos na entrevista da embaixada para eu conseguir tirar meu visto americano.
Para ir para os Estados Unidos, precisa-se do visto. Óbvio. O que ninguém te conta é que você precisa de uma papelada imensa para conseguir esse documento. Meu pai, como uma pessoa cautelosa, passou dias organizando todos os documentos necessários em uma pasta preta. E fomos para São Paulo fazer a entrevista.
Porém, quando chegamos lá, percebemos que ele esqueceu a pasta preta com todos os documentos em cima da mesa de casa.
Foi um caos. Tivemos que procurar uma gráfica para imprimir todos os documentos de novo, dirigir mais de uma hora no trânsito de São Paulo e chegar atrasados na entrevista.
A moral da história? É preciso prestar atenção nos detalhes. Quando se fala de oportunidades internacionais, você precisa entender exatamente como o processo de estudar fora funciona. Diferentemente do Brasil, o processo de candidatura para estudar no exterior é holístico. Isso significa que eles vão te avaliar em diversos contextos, desde currículo profissional até redações pessoais.
Bia diz que, durante sua experiência de aplicação, ela passou muito tempo entendendo o processo em si antes de se candidatar, criando estratégias próprias; por isso, é importante compreender profundamente cada etapa. Você pode fazer isso por meio de vídeos no YouTube ou no curso do Prep Graduação Online da Fundação Estudar, disponível aqui no Portal Estudar Fora. Nele, você consegue entender o processo de aplicação, o que pode ser útil não só para o processo de graduação, mas também para outras oportunidades no exterior.
Por mais que, no fim, mesmo com toda a correria, o meu visto tenha sido aprovado, talvez você não tenha a mesma sorte em oportunidades internacionais. Então, lembre-se: entender o processo é tão importante quanto não esquecer a pasta de documentos, senão o visto pode escapar mais rápido do que você imaginava.
Tenha o mapa do metrô
O metrô de Nova Iorque é gigante. Se você não sabia disso, agora sabe. A cidade tem mais de 468 estações, 24 linhas de metrô e opera 24 horas por dia, todos os dias do ano.
Agora imagine uma menina de 15 anos tentando entender essa confusão. Pois é, claramente não deu certo. Durante o programa, eu podia sair sozinha, e, como uma bela curiosa que sou, fui de metrô até os lugares que queria ir. Estava tudo dando certo, até a hora da volta.
Eu precisava estar no campus da faculdade onde o programa acontecia às 21:00 e eram quase 20:30. Eu ia acompanhando todo o trajeto por meio do Google Maps, mas adivinha? Meu celular acabou a bateria. E aí o caos começa.
Eu não sabia que linha eu deveria pegar, peguei a linha errada, saí do vagão da linha de trem que estava, voltei de novo e saí. Após um tempo perdido, consegui achar um funcionário que me ajudou a encontrar a linha que estava e voltei correndo pelas ruas para chegar a tempo na faculdade.
Quando você quer aplicar para universidades internacionais, você precisa fazer tudo, menos o que fiz. A Bia diz que o maior segredo do porquê ela conseguiu passar em tantos programas foi a sua organização. Ela começava a sua pesquisa cedo, planejando os requisitos de cada uma delas, para conseguir elaborar o processo com calma. A aplicação para oportunidades pode te sobrecarregar se você não planejar bem o que está fazendo.
Então, a minha dica e a da Bia é: não se perca na aplicação… porque, se for para se perder, que seja no metrô da sua futura cidade de intercâmbio.
Não seja que nem um garoto americano metido
Um fato importante sobre a Universidade de Georgetown durante o verão a presença de vários adolescentes andando pelo campus, fazendo cursos de todos os tipos. Sendo assim, o curso de política que fazíamos não era o único.
Eis a cena: um elevador, eu, Bia e outro menino de um programa diferente do nosso. Ele desce no andar dele, e assim que sai, a Bia me olha e diz: “aquele menino era super bonitinho”. E, como éramos somente garotas de 17 anos tentando aproveitar um intercâmbio de duas semanas, resolvemos ir atrás dele. Pegamos a escada de emergência e subimos em todos os andares do nosso prédio. Até que chegamos ao último, e, assim que abro a porta, ele está lá. Bia, nervosa, mas confiante, vai até ele pedir seu Snapchat.
O que acontece depois daí? Nada. O menino nunca adicionou Bia de volta na rede social e, quando o vimos no corredor, ele não olhou na nossa cara.
Em oportunidades internacionais, não seja nunca como ele; você precisa se mostrar uma pessoa interessada e interessante. Bia diz que o que mais a fez se destacar nas oportunidades foram as medalhas olímpicas internacionais e nacionais que ganhou no Ensino Médio. Assim como ela, você precisa achar algo em que você se destaque, seja isso uma olimpíada, projeto voluntário ou um esporte. Depois que você entender no que é bom, mostre para aquele programa ou faculdade isso, de alguma forma, seja por meio do seu currículo, suas redações ou até mesmo uma entrevista.
O segredo está em identificar o que te diferencia e mostrar isso de forma estratégica. Porque, no fim das contas, um amor de verão é ótimo… mas aprovação internacional vale bem mais que um “add back” (adicionado de volta) no Snapchat.
Considerações Finais
Então, lembre-se: entenda o processo de estudar fora, se organize e mostre de forma estratégica o que você é bom. Fazendo isso, suas chances de conquistar oportunidades internacionais serão muito maiores.
E também não desista de fazer intercâmbio porque é complicado. Tudo que importa muito também merece muita dedicação — e está tudo bem, porque é justamente isso que torna a conquista especial. Nas palavras da Bia: “Existem diversos programas diferentes que podem estar esperando por alguém como você… Não existe essa de não ser bom o suficiente, muitas vezes você só está procurando pela oportunidade errada”.
Agradecimento especial à Bia Tulio que me concedeu essa entrevista. Torço muito por você e sinto saudades eternas do nosso tempo em DC. Obrigada por aceitar participar desta coluna.
A coluna acima foi escrita por Beatriz Moraes, participante do Prep Program, preparatório da Fundação Estudar com foco em jovens que desejam cursar a graduação no exterior. Totalmente gratuito, o programa oferece orientação especializada sobre o processo de candidatura em universidades de fora do país. Saiba mais e faça sua inscrição aqui.