Por Marcos Santos
Meu Deus, foi eu mesmo que escrevi isso?
Dizem por aí que a Inteligência Artificial é a criação mais revolucionária já criada pela humanidade. Porém, tenho minhas ressalvas. O ser humano gosta de criar coisas novas e dizer que se superou de novo e de novo, quando se esquece do que já foi criado.
Entretanto, desde a Idade Antiga, a nossa relação com a escrita mudou completamente. Não vejo pessoas por aí escrevendo Odisseias em versos rimados e complexos. A escrita, que já foi jurídica, religiosa e metódica, tornou-se cotidiana, até banal—para alguns.
Mas não para você, que deseja se aprimorar constantemente, certo?
Parece fácil no papel, eu sei. O tempo todo dizem para escrever poesias, desabafar sobre o seu dia, organizar seus sentimentos. Mas como organizar sua escrita de modo a perceber o seu progresso real?
Costumo dividir a minha escrita em dois segmentos bem definidos: a criativa e a categórica. Elas não se anulam de modo algum, mas se complementam!
“Eu vou me acumulando, me acumulando, me acumulando—até que não caibo em mim e estouro em palavras”—Clarice Lispector, “Um Sopro de Vida”
A escrita criativa é aquela em que deixo meus pensamentos, ideias e sentimentos fluírem, de modo a conhecer o mais profundo do que estou sentindo. É uma forma de não mentir o que sinto.
Por isso, uso meus cadernos como meu “segundo cérebro”. Muitas vezes, nossos sentimentos não cabem em nós.
Quando tive de escrever algumas das minhas “essays”—redações que enviamos para as universidades no processo de candidatura—foi natural buscar os desabafos e poemas que já tinha escrito. Era como se eu visse o mais intenso e real da minha essência.
Construir um perfil autêntico e uma narrativa única é extremamente importante no processo de application. Isso só é possível se você se conhecer verdadeiramente: como mostrar que você é a pessoa certa para a universidade se você não conhece a sua essência? Revisitar os textos já escritos e refletir sobre eles talvez seja mais importante do que escrevê-los!
A reflexão, na verdade, é o que gera a mudança. A escrita é “apenas” a forma de organizar e de perceber que a mudança tem que acontecer—ou que já está acontecendo.
Isso a IA não pode fazer por você.
“Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo.”—Fernando Pessoa, “Livro do Desassossego”
A maior beleza da escrita é que—embora antiga, ou provavelmente por isso—ela funciona! A escrita vem sendo aprimorada durante milênios de história; ela é a ferramenta mais eficaz de organização que existe!
Embora não ocorra de forma tão convencional, o objetivo da minha escrita categórica, nesse caso, é organizar a minha rotina para avaliar o meu desempenho e, com isso, enxergar o meu progresso.
Mas em um mundo infinito de sites e apps de organização, quais utilizar?
Primeiramente, a tecnologia veio para ficar; então use-a ao seu favor! Notion, Caderno, Google Keep, Sheets e Calendar e o famoso grupo consigo mesmo no Whatsapp. As possibilidades são inúmeras! Sugiro que teste cada uma delas e identifique aquela—ou aquelas—que mais combinem com o seu estilo de organização.
Além disso, separe meia-hora diária—por favor, coloque o seu celular em outro cômodo—para escrever num caderno específico “no que posso melhorar amanhã?”, “no que melhorei hoje?” e “como estou me sentindo?”. Sinta-se à vontade para divagar sobre os seus sentimentos na última pergunta, mas tente ser mais objetivo nas duas primeiras, pois você poderá revisitá-las rapidamente para checar o seu progresso!!
Tire, também, um dia da semana (recomendo o domingo!) para planejar o resto da semana, considerando os imprevistos. Não se esqueça de refletir sobre a semana anterior, com base nos textos diários.
Por fim, não abra mão ainda do bom e “velho” papel! Tenho vários cadernos espalhados pela casa. Se eu tenho uma ideia ou me lembro de algo importante, imediatamente anoto no caderno mais próximo, da forma mais crua. Depois, junto-as, já processadas e organizadas, na ferramenta que uso para aquele tópico.
Síntese com dicas concretas:
- Reflexão diária num caderno específico (pelo menos meia-hora);
- Dia do planejamento + reflexão (ex.: domingo à tarde);
- Lista de prioridades: liste todas as atividades—primeiramente de forma desorganizada—que você lembra que precisa realizar. Depois, ordene-as em ordem de prioridade com base em facilidade e data de entrega;
- Mapa mental: você também pode organizar as suas prioridades de forma visual por área (ex.: diferentes matérias da escola, atividades extracurriculares e tarefas de casa);
- Deixe seu calendário (impresso, para que você possa riscá-lo) visível no seu dia a dia.
Dedicatória
Dedico este texto, primeiramente, à minha mãe Daniela Barreto, que—com suas milhares de agendas—me inspirou a documentar absolutamente tudo que faço, devo fazer e sinto. Também o dedico à minha professora de biologia Valéria Mafra, que reforçou o quanto organizar meu planejamento no papel pode me ajudar a visualizar o quanto venho evoluindo. Por fim, dedico-o à minha orientadora Milene Cecília, que me ensina a compreender os meus sentimentos—ao invés de lutar contra eles.
Vejo a ciência como tradução: inconformidade em hipótese, hipótese em ação. Sou Marcos, medalhista internacional e cofundador do Projeto Sapiens, que incentiva jovens a se desafiarem em olimpíadas científicas. Entre violinos e versos, ordeno perguntas que me perseguem. Afinando cordas ou calibrando pipetas, busco respostas que também transformem vidas.
A coluna acima foi escrita por Marcos Paulo, participante do Prep Program, preparatório da Fundação Estudar com foco em jovens que desejam cursar a graduação no exterior. Totalmente gratuito, o programa oferece orientação especializada sobre o processo de candidatura em universidades de fora do país. Saiba mais e faça sua inscrição aqui.