InícioGraduaçãoGap year: o que é, como funciona e como pode ajudar na...

Gap year: o que é, como funciona e como pode ajudar na application

Priscila Bellini - 08/12/2023
Comentários:

A expressão em inglês pode não ter chegado às conversas de muitos brasileiros, mas o conceito em si não é estranho. O gap year funciona como um período de transição entre a saída do Ensino Médio e o ingresso no Ensino Superior. Em outras palavras, uma pausa entre os dois pontos, em que o aluno não está matriculado ainda na graduação.

Sem tempo para ler? Clique no play abaixo para ouvir esse conteúdo.

Para os interessados em estudar fora, esse período pode ajudar na preparação da application. Como o gap year permite uma “pausa” na rotina, é possível investir em outros interesses (como o aprendizado de um idioma) ou aperfeiçoamento de alguma habilidade.

Leia também: Trancar a faculdade e tirar um ano sabático vale a pena? Saiba como decidir!

No caso da mineira Karina Pimenta, que hoje faz a graduação em Harvard, o tempo fora da escola não serviu apenas para elaborar sua candidatura com calma. “Eu tirei o gap year por mim, para mim, e o que saísse dele seria uma consequência”, diz ela. “Se eu passasse em alguma universidade, ótimo. Se não, foi a melhor oportunidade que eu dei a mim mesma de crescer”.

Leia também: Especialistas indicam 4 passos para escolher uma universidade no exterior

Na lista de tarefas feitas durante o gap year, estão um voluntariado na Argentina, o tempo dedicado à fotografia e a oportunidade de trabalhar em laboratório, junto a um professor da Universidade Federal de Itajubá. Com o período de aprendizado por lá, teve contato com estudantes universitários e com o dia a dia da pesquisa em um projeto com microalgas. Durante o ano, adotou uma mesma postura: “se isso não agregar à minha application, pelo menos vai agregar alguma coisa à minha vida”.

Vale a pena? Como planejar?

Não vale encarar o gap year como um período tranquilo e sem planejamento. Pode ser uma chance de mudar a rotina e mesmo a forma de aprendizado, mas exige comprometimento por parte do estudante. Para além das atividades a serem desenvolvidas nesse período, está o planejamento financeiro necessário, além do cronograma de application padrão.

Afinal, para concorrer às vagas em uma instituição estrangeira, o processo de candidatura exige uma lista extensa de documentos e testes padronizados. Entre eles, as provas de proficiência, como o TOEFL, além do ACT e SAT. Some-se a isso a necessidade de demonstrar um bom desempenho acadêmico e listar as atividades extracurriculares.

Leia também: Como se candidatar para estudar nos Estados Unidos

Diante de uma lista de afazeres do tipo, além dos interesses pessoais para o gap year, cada aluno traça um planejamento. No caso do paranaense Leonardo Nerone, que se mudou para São Paulo e começou uma startup, além de trabalhar como desenvolvedor na Pagar.me, empresa brasileira de pagamentos online. Ele acaba de receber os aceites da Universidade da Pensilvânia e da New York University em Shanghai e pretende estudar Ciência da Computação.

Com o tempo em São Paulo, pode explorar melhor os próprios interesses. “Foi durante o gap year que comecei a me interessar por compiladores, algo que quero muito estudar a fundo na faculdade, e também por inteligência artificial”, conta ele, que recomenda a experiência a outros brasileiros. “Se você acha que vai ser uma chance de sair da zona de conforto, um período em que vai se dedicar inteiramente a algo de que gosta, acho que vale a pena”.

Leia também: Três ferramentas de organização para ajudar na sua application

Para dar conta das exigências da application, Leonardo recomenda antecedência. Nem sempre é possível obter uma boa nota na primeira tentativa e vale a pena deixar um tempo extra destinado a outras tentativas. Os essays também demandam muita atenção e revisões numerosas, até a versão final. “Antes de escrever os essays, reflita muito sobre seus interesses, características e experiências reais suas que demonstram esses traços”, aconselha o brasileiro.

Em matéria de essay, o esforço é de encontrar um assunto que siga a máxima “show, not tell” – ou seja, em que o aluno não precise nomear uma qualidade sua, mas que a demonstre em uma situação. Os exemplos de Leonardo se relacionavam ao interesse por tecnologia e empreendedorismo. “Eu falei, por exemplo, sobre como criar um sistema de login quando ainda estava aprendendo a programar mudou minha forma de resolver problemas, não só em programação”, diz ele.

O que vale fazer durante o gap year? Como isso ajuda na application?

Há muitas possibilidades, incluindo oportunidades de estudo, aperfeiçoamento de idiomas estrangeiros e experiências profissionais. O caminho certeiro para decidir é combinar uma análise sobre os próprios interesses com o tipo de atividade deseja explorar antes de embarcar para a faculdade.

Também é necessário entender como cada prática pode ser relatada na application e de que maneira se “encaixa” na história contada pelo estudante. Se a intenção é descrever como o interesse pela bancada de pesquisa atraiu o candidato à universidade, talvez uma vivência na área caia bem. Se, por outro lado, o plano é demonstrar a vontade de causar impacto social, talvez a opção mais atrativa seja um voluntariado.

Definir o que fazer durante o gap year – e como aproveitar ao máximo esse intervalo – exige autoconhecimento e um cronograma bem alinhado.

Motivos para tirar

O brasileiro Ricardo Buarque listou os motivos pelos quais tirou um gap year, antes de embarcar para a graduação nos Estados Unidos. Conheça as principais razões e confira o vídeo dele para o Estudar Fora.

#1 Você pode praticar um idioma estrangeiro

Para os que precisam calibrar o inglês antes de fazer a graduação fora, essa é uma chance de se engajar em atividades relacionadas ou mesmo fazer um intercâmbio. Já os que têm um bom nível de proficiência podem dar um próximo passo.

“Também é muito importante que você saiba o vocabulário acadêmico”, opina Ricardo. Como ele explica, muitos cursos de inglês no Brasil se dedicam ao vocabulário voltado à conversação e não contemplam os termos usados na academia.

#2 Um ano para estudar de forma diferente

Como tendência geral, as instituições americanas exigem menos horas em sala de aula e mais estudos independentes, feitos por parte dos alunos. Passar um ano no próprio ritmo, estudando um tema em particular, pode ajudar na adaptação.

#3 Mais um tempo para montar a college list

Escolher a universidade de destino demanda tempo e pesquisa por parte do estudante. “Muitas vezes, você tem que fuçar no site da universidade por horas e horas, até encontrar razões específicas pelas quais quer ir para lá”, explica Ricardo.

7 dicas para aproveitar o Gap Year da melhor maneira possível

Se você pretende estudar fora e acabou de concluir o Ensino Médio, mas ainda não foi aceito em nenhuma universidade estrangeira, fazer de 2019 o seu “Gap Year” pode ser uma boa ideia. E com as dicas a seguir, você conseguirá aproveitar o Gap Year da melhor maneira possível.

A ideia central é manter o foco no seu objetivo e planejar o seu ano de maneira a chegar ao momento da application o mais preparado possível. Isso significa: com um bom estudo (e certificado) de língua estrangeira, com os documentos necessários em mãos, e com experiências relevantes para contar no seu essay! E, nesse sentido, as sete dicas abaixo podem ajudar bastante! Confira:

1. Programe-se e informe-se!

É importante planejar o seu Gap Year e se ater a esse planejamento para não perder prazos ou desperdiçar tempo. Faça um cronograma listando as principais atividades que precisa (ou deseja) realizar a cada mês, e procure seguí-lo tanto quanto possível. Enquanto isso, busque mais informações sobre os cursos e universidades estrangeiras às quais pretende se candidatar, para ir se preparando para o essay! O carioca Ricardo Buarque, que já fez um vídeo listando motivos para tirar um Gap Year, conta que candidatos bem-informados sobre as faculdades às quais estão se candidatando têm chances bem melhores no processo seletivo.

2. Estude uma língua estrangeira

Se você quer estudar fora, provavelmente vai precisar de um certificado que ateste a sua proficiência em alguma língua estrangeira — em grande parte dos casos, em inglês. E o Gap Year é um ótimo momento para se dedicar ao estudo dessa língua. Assim que possível, informe-se sobre os procedimentos necessários para tirar esse certificado, e empenhe-se no estudo dessa língua (seja por meio de cursos, seja por conta própria). Uma boa idea é mudar a língua padrão dos programas, sites e apps que você usa no dia-a-dia para a língua em questão.

3. Decida o que (e onde) quer estudar

No final do seu Gap Year, você vai se candidatar a um curso de uma universidade estrangeira. É essencial, portanto, que você use esse tempo para decidir quais serão esse curso e essa universidade! Acesse o site da universidade em questão, pesquise sobre os cursos que ela oferece, tente conversar com alunos ou ex-alunos por meio de redes sociais (aproveitando para treinar a língua estrangeira!) e procure por outros brasileiros que já tenham estudado lá. Há diversos recursos disponíveis para te ajudar a encontrar a universidade ideal para você.

4. Experimente o que quer aprender

Se você ainda está em dúvida quanto ao que pretende estudar na universidade, pode aproveitar o Gap Year para se decidir da melhor maneira possível: dedicando-se àquilo que lhe interessa! Por exemplo: se você está pensando em cursar Ciência da Computação, fazer um curso online de programação pode ser uma ótima introdução ao tema. Se, por outro lado, estiver pensando em Direito, pode ser interessante ler alguns dos livros que os alunos da Harvard Law leem para ver se o assunto lhe interessa mesmo. E não tenha medo se descobrir que o curso que você achava que queria não era bem o que você esperava; afinal, é para esse tipo de descoberta que o Gap Year serve!

Leia mais: Vida de undergrad: O meu Gap Year

5. Envolva-se em algo que vá auxiliar na sua candidatura

Na hora de se candidatar a uma universidade no exterior, é interessante que você tenha experiências interessantes e relevantes para contar no seu essay. Por isso, é uma boa ideia aproveitar o Gap Year para criar essas experiências. Se, por exemplo, a sua candidatura for motivada por uma vontade de causar impacto social, realizar algum tipo de trabalho voluntário durante o Gap Year é uma ótima ideia. Se, por outro lado, você estiver se candidatando pela oportunidade de realizar pesquisa acadêmica, vale a pena verificar com instituições locais se elas têm algum projeto de pesquisa em andamento do qual você possa participar.

6. Organize seus documentos

Não são poucos os documentos necessários para se candidatar a uma universidade estrangeira. Desde cartas de recomendação até certificado de língua estrangeira, passando por diplomas, passaporte, visto e outros documentos pessoais, é uma “papelada” que pode levar bastante tempo para se encontrar e organizar. nâo deixe de aproveitar o Gap Year para verificar quais documentos são necessários para a sua candidatura e para realizar os procedimentos necessários para obter cada um deles. Como alguns deles podem levar bastante tempo, é bom começar a se programar com antecedência.

7. Aproveite para se conhecer melhor

Não tenha medo de se colocar como foco do seu Gap Year. Afinal, ele é acima de tudo um período de auto-conhecimento. E por mais que ele possa ser aproveitado em atividades que vão facilitar o seu processo de application, o objetivo principal desse período continua sendo permitir que você reflita sobre o que pretende fazer nos próximos anos da sua vida — tanto na área acadêmica e profissional quanto pessoal. Aproveitar o Gap Year para entender melhor o que você gosta, o que quer da vida e quais são suas prioridades para os próximos anos é essencial. E se isso exigir algum tempo livre, não tem problema.

Leia mais: Não foi aprovado na universidade dos sonhos? Saiba como não desanimar!

O que você achou desse post?

Sobre o escritor

Priscila Bellini
Priscila Bellini
Priscila Bellini é jornalista, bolsista Chevening 2018/2019 e mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London School of Economics and Political Science (LSE). Foi colaboradora do Estudar Fora em 2016 e 2017 e editora do portal em 2018.

Artigos relacionados