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Os prós de estudar em um community college dos EUA

Lecticia Maggi - 23/05/2015
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Por Carolina Campos

Os americanos têm certo preconceito com community colleges. Eles acham que lá é lugar de quem não conseguiu entrar numa faculdade tradicional. Só que existem community colleges que são excelentes. No que eu estudei, todos os professores tinham doutorado

Nos Estados Unidos, os chamados community colleges são instituições públicas que oferecem ensino superior de dois anos e, ao final, conferem um diploma chamado de associate degree. No Brasil, é comum as pessoas associarem os community colleges a cursos tecnólogos. É um erro, já que tal correspondência não existe. Na verdade, os community colleges servem de porta de entrada aos chamados 4-years colleges (cursos de graduação de 4 anos), diferentemente dos cursos tecnólogos no Brasil, que já preparam o aluno para uma profissão. Isso significa que depois de se formar em um community college, alguns alunos – dependendo das notas que tiverem – conseguem transferência para uma faculdade tradicional, onde precisarão cursar mais dois ou três anos para conseguir um diploma de bacharelado.

Entenda a diferença dos community colleges para os colleges tradicionais

No entanto, embora os community colleges sirvam de porta de entrada para universidades e colleges (faculdades) tradicionais, sua reputação por vezes é posta em xeque. Um dos preconceitos é acreditar que, pelo fato de boa parte dos alunos serem de baixa renda e precisarem trabalhar para pagar seus estudos, eles não são tão dedicados.

Dados da American Association of Community Colleges revelam que entre 2011-2012, 81% dos alunos de tais escolas trabalhavam paralelamente aos estudos. Uma realidade completamente diferente da encontrada em universidades famosas como Harvard, Yale e Stanford, por exemplo, em que uma minoria trabalha.

De um community college até Harvard – Mas a concepção de que um community college é sinônimo de baixa qualidade não é compartilhada por quem já passou por lá. Formado em Relações Internacionais pela American University em Washington, Duval Guimarães, de 30 anos, também tem um mestrado em políticas públicas pela Harvard Kennedy School. No entanto, seu caminho até Harvard começou justamente num community college, o Santa Barbara City College (conheça a trajetória dele aqui).

“Os americanos têm certo preconceito com community colleges. Eles acham que lá é lugar de quem não conseguiu entrar numa faculdade tradicional”, conta Duval. “Só que existem community colleges que são excelentes. No que eu estudei, por exemplo, todos os meus professores tinham doutorado”, relembra.

Foi porque Duval descobriu que poderia estudar num community college que sua vida mudou: “Eu não tinha perfil para entrar numa universidade americana. Meu ensino médio não foi moldado para o processo de admissão das universidades e minhas notas não eram competitivas. Eu jamais teria conseguido chegar até Harvard se não fosse o city college”.

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Duval explica que os community colleges não fazem propaganda, como acontece frequentemente com as universidades tradicionais. “Eles não são feitos para estudantes internacionais, embora os recebam”, esclarece. E ele tem razão. Dados da American Association of Community Colleges mostram que, em 2013, dos 1.123 community colleges registrados na associação, apenas 1% dos alunos eram estudantes internacionais.

Se o aluno mantiver  notas altas, há uma boa chance de transferência para uma universidade renomada

No entanto, embora o perfil dos americanos que frequentam os community colleges seja diferente dos alunos dos colleges tradicionais, Duval conta que os estrageiros costumam ser alunos de altíssimo nível, que normalmente vão em busca de estudar inglês. Alguns, como ele, acabam descobrindo que o community college pode ser uma ponte para um bom college e aí passam a ir em busca de boas notas e de entender como fazer para conseguirem a transferência.

“A maioria dos community colleges tem acordos com as grandes universidades mais próximas, e se o aluno mantiver  notas altas, há uma boa chance de transferência para uma universidade renomada após os dois anos”, explica. Embora tenha feito os três últimos anos de seu bacharelado numa instituição menos conhecida – mas nem por isso menos qualificada -, Duval foi aceito em duas universidades de peso assim que saiu do city college: Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e Universidade da Califórnia em San Diego (UC San Diego).

O que pesou, no caso dele, foram as mensalidades. Por isso, teve que dizer ‘não’ para a UCLA e a UC San Diego e optar pela American University em Washington, onde conseguiu uma boa bolsa de estudos. “Mas se o aluno conseguir pagar a tuition dos últimos dois ou três anos de um college tradicional – que varia em torno de 50 a 60 mil dólares por ano –, não tem maneira melhor de economizar do que fazer os dois primeiros anos em um community college e depois pedir transferência”, considera.

O mesmo se aplica para quem deseja estudar fora mas ainda não tem um perfil competitivo o bastante. “O aluno que cursar dois anos de community college, seguir a cartilha do processo de admissão e mantiver notas altas passa a se tornar um candidato forte para entrar numa ótima universidade americana. Talvez não nas Ivy League, mas nas top 100, sim”, conclui.

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Sobre o escritor

Lecticia Maggi
Lecticia Maggi
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduada em Gestão de Negócios pelo Senac-SP. Foi editora do Estudar Fora entre 2014 e 2016. Atualmente, é coordenadora de comunicação no Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), que tem como um de seus objetivos ajudar a qualificar o debate educacional no país.

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