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O sistema de ensino do país faz diferença na hora de escolher a universidade?

Nathalia Bustamante - 10/08/2016
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Por Priscila Bellini

Como você avaliaria um sistema de ensino? À primeira vista, já se pode notar que esse questionamento exige uma resposta complexa. Não há apenas um fator que defina um ótimo sistema, mas sim uma combinação de aspectos numerosos.

Mesmo em uma análise mais restrita, focando no ensino superior, há muitas variáveis. Para quem mora longe dos campi, talvez a existência de várias residências estudantis à disposição seja fator determinante. Para alguém interessado em aulas práticas, o número de laboratórios acessíveis a alunos pode fazer a diferença.

Combinando esses fatores, há organizações que desenvolvem rankings com base em uma avaliação completa do sistema. Entram no cálculo os tipos de aulas oferecidos, o número de professores que são doutores, a quantidade de alunos estrangeiros recebidos, as publicações feitas em periódicos científicos. A ideia é avaliar não só uma universidade em específico, que tenha um nome de destaque e uma tradição em pesquisa, mas aglutinar as entidades que compõem o sistema como um todo. É como se, em vez de avaliar uma casa bem arrumada e em completa ordem, fosse avaliado um bairro inteiro.

É como se, em vez de avaliar uma casa bem arrumada e em completa ordem, fosse avaliado um bairro inteiro.

Já de imaginar a lista de fatores, dá para identificar alguns países que têm o sistema de ensino como carro-chefe. Potências como os Estados Unidos, por exemplo, ocupam o primeiro lugar no Universitas 21, ranking que se debruça sobre os sistemas educacionais como um todo e compara 50 países. Nomes que também aparecem com frequência nos rankings universitários voltados para instituições separadas, como é o caso do Reino Unido, também figuram no top 10 do Universitas21.

O porém, nesse caso, vem dos países que aparecem bem colocados, mas cujas universidades não alcançam postos altos nos rankings tradicionais. Entram nessa lista países como a Suíça, a Dinamarca, a Finlândia e a Suécia. No caso do sistema finlandês, por exemplo, a avaliação geral fica em 6º lugar. Entretanto, comparando o resultado às classificações individuais da publicação Quacquarelli Symonds (QS), o cenário muda: as universidades finlandesas melhor avaliadas são a Universidade de Helsinque, que ocupa o 96º lugar, e a Aalto University, na posição 139.

O que explica esta diferença?

O que explicaria essa discrepância entre os posicionamentos, se os dois rankings avaliam as mesmas instituições de nível superior? As respostas, assim como a questão proposta, não é simples. Uma das alternativas é pensar em cada país individualmente. “A Dinamarca é um país muito pequeno, e o que acontece por lá inevitavelmente acaba tendo um menor impacto em termos absolutos. Por exemplo, o número de publicações científicas, ou alumni que receberam o Nobel – tudo na Dinamarca ocorre em menor escala”, sugere Marina Bombana, project manager do Top Talent Denmark, programa focado na disseminação de oportunidades acadêmicas no país.

De fato, quando se aplica o filtro de região aos rankings de instituições e limita-se a área à Europa, onde os países são menores, a diferença não é tão grande assim. Países bem avaliados no sistema geral, a exemplo da Suécia, da Suíça e dos Países Baixos, acabam por aparecer em posições melhores, como é possível ver no Times Higher Education de 2016.

Por outro lado, rankings pautados no sistema como um todo – que vai desde as menores às maiores e mais prestigiosas universidades de um país – oferecem uma outra perspectiva sobre as oportunidades em educação. Em vez de eleger um foco, uma universidade mega desenvolvida, há uma visão ampliada. Entram na conta fatores que vão além dos muros da universidade, como o investimento do governo e do setor privado nacional em educação e pesquisa. Além disso, o ambiente também vira objeto de análise: a autonomia financeira das instituições de ensino, a diversidade dessas universidades, bem como a colaboração delas com as indústrias.

Uma visão ampliada do sistema serviria, portanto, para dar um retrato mais fiel do país em que se estuda, e não só da instituição escolhida. Assim, é possível identificar perfis mais gerais do lugar. No caso da Dinamarca, por exemplo, há uma ligação forte entre os centros de ensino e as empresas – o que oferece mais oportunidades de vivência profissional ainda dentro da universidade. “Através de projetos colaborativos, as próprias empresas trazem desafios que estão enfrentando para serem discutidos e resolvidos em sala de aula”, explica Marina. Outros traços marcantes no ambiente acadêmico dinamarquês, que escapa dos rankings, é a chamada “flat hierarchy”, já que as pessoas não são tão apegadas à ideia de hierarquia. “Isso é sentido na sala de aula pelo fato de os professores serem extremamente acessíveis e quererem ouvir a opinião dos alunos. Eles veem nas discussões em sala uma ótima oportunidade para a troca de conhecimento”, diz Marina.

Na hora de optar por uma universidade estrangeira para fazer um curso, uma saída é verificar os dois tipos de ranking, o geral e o específico. Assim, em vez de verificar apenas a super-universidade com programas intensos de pesquisa, é possível entender melhor o ambiente onde ela opera.

 

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Sobre o escritor

Nathalia Bustamante
Nathalia Bustamante
Nathalia Bustamante é jornalista formada pela UFJF. Foi editora do Estudar Fora entre 2016 e 2018 e hoje é coordenadora de Conteúdo Educacional na Fundação Estudar.

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