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Professor de Harvard mostra como aproveitar o Twitter em sala de aula

Lecticia Maggi - 13/06/2014
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Fui professora do ensino superior durante sete anos. Em vários semestres, atingi a incrível marca de quase 400 alunos, distribuídos em 13 turmas. Era uma loucura de gente! Apesar de conviver com os mais variados perfis, a verdade é que em todas as turmas eu tinha o mesmo problema: dividir a atenção dos meus alunos com as redes sociais.

O simpático professor finlandês Pasi Sahlberg entrou em sala e perguntou se todos já estavam com suas páginas do Twitter abertas. ‘Como assim?’, pensei

Como o caderno há muito foi substituído pelo laptop, nem todos se restringiam a usar o computador para tomar notas do que eu falava. Ao contrário: a luta para fazer com que eles prestassem atenção era árdua, e várias vezes sei que terminei com o placar negativo… Um a zero para o Twitter ou para o Facebook.

Dia desses fui convidada para assistir uma aula do mestrado em educação na Harvard Graduation School of Education (HGSE), o departamento de educação da Universidade de Harvard. Assim que cheguei na sala, vi que o telão estava ligado no Twitter. Imaginei que alguém, durante o intervalo, tinha aberto o Twitter por um motivo qualquer, e ignorei solenemente o que estava ali. Abri meu computador discretamente, deixei o Word a postos, dei um título ao meu documento e fiquei pronta para anotar tudo o que eu pudesse. Minha internet estava devidamente fechada, claro. Afinal, pensei, precisava prestar atenção no que realmente importava. Ou, pelo menos, no que eu achava que importava.

O simpático professor finlandês Pasi Sahlberg entrou em sala e perguntou se todos já estavam com suas páginas do Twitter abertas. “Como assim?”, pensei sozinha. Achei que meu inglês tivesse falhado e fiquei quieta. Mas vi que logo depois ele pediu que sua assistente abrisse a “página da turma”, e só então a aula começou.

Fiquei alguns segundos perdida, olhando para o computador dos “vizinhos”, tentando entender o que se passava. TODOS estavam com seu Twitter aberto, bem tranquilos. Constrangida, abri o meu também, mas bem de mansinho, olhando para um lado e para outro, com receio de estar cometendo algum pecado.

Foi aí que digitei a hastag que vi no telão… Uma mistura de letras e números, que logo identifiquei como a sigla do departamento e o número da sala de aula. “Então a turma tem uma página no Twitter?!”, pensei. Enquanto meus pensamentos se perdiam na minha descoberta, o Prof. Sahlberg começou a falar sobre os mitos da educação. Grudei os olhos nele e destinei toda a minha atenção para o que ele falava. Mas o Twitter projetado no telão atrás dele começou a me distrair… Enquanto ele falava, a página ia se atualizando a cada minuto, recheando-sede fotos do que ele escrevia no quadro, de comentários dos alunos, de questões que meus colegas suscitavam sobre a aula…

E, como num passe de mágica, de repente os alunos estavam todos engajados, com olhos no computador e ouvidos no professor

E, como num passe de mágica, de repente os alunos estavam todos engajados, com olhos no computador e ouvidos no professor, tuitando suas dúvidas, ressaltando comentários feitos em sala por outros alunos, postando links com artigos relacionados ao tema da aula e vídeos correlatos. Um furacão de idéias compartilhadas numa página do Twitter.

As três horas de aula passaram num piscar de olhos. Depois que entendi a dinâmica, devorei a página da turma, as fotos, cliquei nos vários links que me levaram a textos acadêmicos, de jornais e de revistas. Abri abas com vídeos para assistir em casa, e aprendi mais sobre os mitos da educação do que eu jamais pude imaginar.

Em uma aula, aprendi que afastar a tecnologia da sala pode ser um grande erro. Compreendi que aliar, ao invés de alienar, talvez seja uma ótima alternativa. Claro que a maioria dos professores — até mesmo os daqui dos Estados Unidos — ainda não se integraram com esta nova ideia. Talvez eles, assim como eu fazia, fiquem tentando buscar fórmulas mirabolantes sobre como manter seus alunos atentos às discussões na sala. Talvez eles ainda não tenham percebido que entrar no fluxo, e não se debater contra a maré tecnológica que nos cerca, pode ser uma alternativa viável, fácil, sem qualquer custo e com muito ganho para todos.

Ao unir tecnologia e educação, o número de informações compartilhadas é maior, o debate se aprofunda – já que novos argumentos são trazidos – e todos participam como podem: seja com uma foto, seja ressaltando num post uma frase do professor, seja contribuindo com textos, vídeos ou retuitando informações.

Ouso dizer que o Twitter em sala é uma metodologia em que todos ganham. Os alunos ficam mais atentos, participativos e absorvem o conteúdo com muito mais curiosidade. O professor consegue engajar a turma e fazer aquilo aquilo que se espera de qualquer educador: iluminar os passos dos seus alunos, fazendo com que o processo de ensino-aprendizagem seja efetivado da forma mais satisfatória possível. Pois é, já que não dá para vencer o Twitter, o melhor a fazer é unir-se à ele!

E, se você quisar saber mais sobre o assunto, recomendo a leitura deste artigo: 100 Ways to Use Twiter in Education, by Degree of Difficulty. Ele foi publicado no “Edudemic”, um blog famoso por aqui que fala muito sobre educação e tecnologia. Ah, e passe na página do Twitter que eu falei. Vale a pena para entender a dinâmica da turma e da metodologia do professor. Basta entrar no Twitter e digitar #HSGEa317 no mecanismo de busca.

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carol campos coluna

 

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Sobre o escritor

Lecticia Maggi
Lecticia Maggi
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduada em Gestão de Negócios pelo Senac-SP. Foi editora do Estudar Fora entre 2014 e 2016. Atualmente, é coordenadora de comunicação no Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), que tem como um de seus objetivos ajudar a qualificar o debate educacional no país.

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