InícioPós-GraduaçãoComo funciona o processo seletivo para PhD nos Estados Unidos?

Como funciona o processo seletivo para PhD nos Estados Unidos?

Lecticia Maggi - 02/05/2016
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Por André Mendes, da NYU

Desde que comecei o meu doutorado, várias pessoas me perguntam como é o processo seletivo, quais são os requisitos e o quão difícil é conseguir uma vaga em um programa de Philosophy Doctorate ou PhD nos Estados Unidos. Neste texto, vou contar um pouco sobre o que para mim é o ponto mais importante. Há diversos materiais mais elaborados, gerais e com mais detalhes na internet, inclusive aqui no Estudar Fora. Contudo, meu objetivo é compartilhar o que considero decisivo para a minha aprovação.

Qual o ponto mais importante?

A primeira coisa que eu digo às pessoas que querem fazer PhD nos EUA é que elas precisam entender o que é o programa. Claro, há diversas formas de vê-lo, mas o que eu quero que elas entendam é quais são os pontos principais e como isso deve ser abordado durante a candidatura.

De modo geral, em um programa de doutorado você vai passar entre 3 a 5 anos (espero que no meu caso, não mais que isso) estudando e pesquisando um campo específico sob a orientação de um professor que é o seu orientador. Este professor vai trabalhar contigo por todo o período que você estiver na faculdade, vai te indicar artigos e pessoas que podem te ajudar e, tão importante quanto: na grande maioria dos casos, ela será responsável por conseguir a verba que pagará a sua bolsa enquanto você for estudante.

Já entendeu onde eu quero chegar? Provavelmente a parte mais importante na sua admissão para um doutorado é conseguir os contatos com seus possíveis orientadores e convencê-los de que você é bom.

Agora que você já sabe disso: pronto! Está aprovado!
Claro que não.  Saber disso e considerar esta informação na sua preparação com certeza já te coloca na frente de várias pessoas que ainda não sabem mas, ainda assim, você precisa conseguir a atenção dos professores. Neste momento, seu objetivo deve ser conseguir uma conversa com eles, tipo entrevista, na qual você vai falar de você, dos seus projetos, das suas ideias e mostrar por que você quer trabalhar com ele. Sendo esta parte a mais importante, muitas vezes ela é também a mais difícil de se conseguir e eu diria que há três caminhos gerais para se chegar lá.

O primeiro é através de contato direto. Você já conhece professor e, mais importante, ele te conhece. Meio caminho andado. Se você já trabalhou com o professor em um projeto anterior ou se você participou de alguma conferência e conversou com esse professor antes, provavelmente ele vai se lembrar de você e estará mais aberto a ouvir os seus planos.

O segundo é através de outras pessoas. Por exemplo, você deve procurar em sua rede quais são as pessoas que você conhece e que conhecem aquele professor, ou já trabalharam com ele. Geralmente esses contatos são seus professores na sua universidade, ou os contatos dos seus professores. Isto é bem importante porque o seu futuro orientador estará mais disposto a conversar contigo se você for indicado por alguém que ele conheça ou já tenha trabalhado.

Mas e se eu não conheço ninguém ligado ao professor que eu quero trabalhar? Desista!
Brincadeira. Esse foi o meu caso e por isso eu tive que ir para outras alternativas.

O terceiro caminho e o menos eficiente é conseguir a atenção através de e-mail. Essa alternativa é complicada porque você precisa escrever um e-mail que vai chamar atenção do professor e vai fazer com que ele te responda. Isso é bem difícil porque muitas pessoas vão fazer a mesma coisa.

A minha solução para tentar me destacar foi criar um e-mail falando sobre mim, mas principalmente falando sobre a pesquisa do meu professor. Fiz questão de ler pelo menos 3 artigos de cada professor com quem entrei em contato e escrevi duas ou três frases sobre esses artigos para mostrar-lhes que eu tinha interesse no que ele estava fazendo e não estava simplesmente enchendo sua caixa de spam.

Isso funcionou bem? De cada 10 professores que eu entrava em contato desta forma, 7 me ignoravam, 2 me diziam que eu devia aplicar (o que, na prática, não significa nada) e 1 ficava interessado e queria falar comigo.  Então, funcionou bem? Eu diria que sim! Consegui conversar com dois professores, fui aceito nas duas respectivas universidades e hoje estou no meu PhD em ciências da computação da NYU. Também me candidatei para outras universidades sem falar com os professores, mas não fui aprovado por estas.

As principais recomendações que tirei desta experiência foram: você precisa ter algumas opções; se dedicar bastante para se destacar; pensar em boas alternativas para chegar onde você quer e o mais importante –  saber que você poderá receber várias respostas negativas ou ser ignorado.

Isso tudo faz parte de qualquer processo e o PhD não é diferente.

 

Sobre Andre Mendes

PhD

Formado em Engenharia Mecatrônica pela PUC-PR, André está no PhD em Ciência da Computação na New York University, onde simultaneamente trabalha em seu produto, o DeepChoice, que utiliza métodos de inteligência artificial em processos seletivos. É um apaixonado por tecnologia e educação e acredita na integração entre academia e indústria para gerar inovação e melhorar a sociedade. Nasceu em São Paulo, mas se considera curitibano e também já morou nos EUA, Canadá e Alemanha. É também bolsista da Fundação Estudar e entusiasta dos programas que a FE promove em todo o Brasil.

 

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Sobre o escritor

Lecticia Maggi
Lecticia Maggi
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduada em Gestão de Negócios pelo Senac-SP. Foi editora do Estudar Fora entre 2014 e 2016. Atualmente, é coordenadora de comunicação no Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), que tem como um de seus objetivos ajudar a qualificar o debate educacional no país.

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